As ruas da cidade da Lapa, a setenta quilômetros de Curitiba, amanheceram mais bonitas ontem. Respeitando uma tradição de 76 anos consecutivos, a população acordou bem antes do sol nascer e deixou suas casas para confeccionar tapetes de serragem colorida, em comemoração ao dia de Corpus Christi.
"Algumas pessoas já estavam começando a trabalhar nos tapetes às 5h. É uma emoção muito grande ver o povo reunido e trabalhando em função da fé em Cristo", disse o pároco responsável pela Paróquia Santo Antônio, na porta da qual foi montado o primeiro tapete, Jonacir Francisco Alessi.
Os tapetes foram confeccionados ao longo de sete quadras na região central da Lapa, em um percurso de aproximadamente um quilômetro – da paróquia até o Pantheon dos Heroes, onde estão enterradas pessoas que participaram das batalhas do Cerco da Lapa. A serragem e a tinta utilizada na confecção foram doadas pela Prefeitura. Porém alguns tapetes também continham calcário, flores, roupas e alimentos a serem doados a instituições de caridade.
"Participo da confecção dos tapetes há dez anos e é sempre uma alegria muito grande. Eu e meus familiares acordamos às 4h30 para começar a trabalhar. Porém começamos a planejar nosso tapete, desenhá-lo e preparar formas há mais ou menos três meses. O dia de Corpus Christi é sempre muito esperado pela população da Lapa", afirmou a dona-de-casa Mônica Mendes, que é nascida no município e desde criança admira a realização dos tapetes.
Este ano, a convite do pároco Jonacir, também participaram dos trabalhos integrantes da Igreja Luterana. A pastora Carla Andrea Grossmann, que vive na Lapa há dois anos, montou um tapete pela primeira vez e ressaltou a importância do ecumenismo. "Nossa participação na realização dos tapetes fortalece a caminhada em conjunto das igrejas. Acordei às 3h para começar os preparativos, mas me sinto muito satisfeita", declarou.
A confecção dos desenhos foi finalizada às 10h, quando teve início uma missa de Corpus Christi na paróquia Santo Antônio. Após a celebração religiosa, às 11h30, foi realizada uma procissão até o Pantheon dos Heroes. A procissão é promovida na Lapa desde 1870. Nos dois últimos anos, não ocorreu devido ao mau tempo.
Missa reúne 100 mil pessoas em frente à Catedral
Lígia Martoni
Foto: Aliocha Mauricio/O Estado |
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Missa conduzida por dom Moacir Vitti teve música e orações. |
Cerca de cem mil pessoas reuniram-se ontem em frente à Catedral Basílica de Curitiba para celebrar a missa em comemoração ao Dia de Corpus Christi. Após a celebração, com música e orações, os fiéis seguiram em procissão pela Avenida Cândido de Abreu, acompanhando o arcebispo de Curitiba, dom Moacir Vitti. Junto com ele era transportado o símbolo da festa, o Cristo Vivo da Eucaristia, sobre o tradicional tapete decorado por integrantes de 154 paróquias de Curitiba e Região Metropolitana. A festa católica foi encerrada com um show conduzido pelos padres Reginaldo Manzotti e Antônio Maria, em frente ao Palácio Iguaçu.
Corpus Christi é a procissão oficial da Igreja Católica, comemorada na primeira quinta-feira após a festa da Santíssima Trindade. Segundo um dos ministros da sagrada comunhão, que ajudam na organização da festa em Curitiba, Hilton Casteli, o intuito de reunir tanta gente em celebração à mesma fé é dizer que Jesus representa toda e qualquer pessoa e que em seu sangue e corpo crucificado moram a esperança do homem. "Ele aceita a todos, mas depende de cada um aceitá-lo, acreditando ser ele o filho de Deus que se encarnou para viver entre nós e levar à cruz todos os nossos pecados."
Os católicos crêem que a festa é uma forma de chamar as pessoas para a vida de fé. Com a simbologia do Cristo na Eucaristia, seguindo em procissão, eles acreditam transmitir a humildade de Jesus. O tapete usado para a caminhada – confeccionado em pano e serragem, com imagens que remetem ao tema central da comemoração – lembra a entrada de Jesus em Jerusalém, com as pessoas jogando panos e palhas para sua passagem. "Daí a tradição de fazer um tapete para o rei passar", afirma o ministro.
Para a fiel Luiza Santa Rosa, a data é a mais importante do calendário católico. "É um dia importante para nos unirmos mais a Deus e uns aos outros, na fé e na caridade", acredita. A aposentada Norma Ferreira dos Santos concorda: "É a vida de Jesus que recebemos, a própria divindade". Fervorosa em participar da missa e da procissão, a integrante da paróquia Santa Efigênia, Filomena Vanderlinde, celebrava a data desde cedo, resumindo o motivo da euforia: "Eucaristia para nós é o maior tesouro da igreja, o ponto alto da nossa devoção".
