Foto: Lucimar do Carmo |
Em vez de apenas retratar a batalha, a programação deste ano tem como objetivo mostrar através da arte a beleza da comemoração. continua após a publicidade |
As comemorações alusivas aos heróicos combatentes que defenderam a cidade da Lapa na Revolução Federalista, em 1894 – também conhecida como Cerco da Lapa – estão diferentes neste ano. Além das tradicionais atividades cívicas, militares, esportivas e religiosas, um novo ?cerco? foi incorporado à programação: o artístico. Um grande museu de rua foi incorporado à paisagem urbana da cidade, permitindo a interação do público com as obras.
?Há 113 anos esses heróis resistiram e lutaram pela liberdade. Hoje nós estamos fazendo a mesma coisa e lutando, não com armas, mas com pintas e pincéis para mostrar nossa arte e deixá-la cada vez mais perto do seu público?, afirmou José Roberto Orquiza, um dos organizadores do Cerco Coletivo. Cerca de cem artistas estão expondo seus trabalhos, que foram instalados em diversas ruas da cidade e espaços públicos. Além de quadros e instalações, a qualquer momento também é possível se deparar com performances.
As peças, que medem 1,22m por 2,44m, foram confeccionadas em madeira tipo OSB (Oriented Strand Board) – painéis com uma liga de resina sintética, feita de três camadas prensadas com tiras de madeira -, que são resistentes às intempéries, além de receber uma proteção de verniz, para agüentar a exposição ao sol. Todas juntas estão avaliadas em R$ 1 milhão. Segundo a curadora de artes Ana Itália Paraná Mariano, essa é a primeira vez que um museu com essa proposta é montado. ?Aqui as pessoas podem interagir com a obra, tocar os painéis, fotografar ou só observar. Queremos desmistificar que os museus são algo caro para intelectuais?, ponderou. Ana ressaltou que a idéia é que a exposição seja itinerante, mas que o mesmo espaço seja ocupado por outras obras.
Programa
Segundo a secretária municipal de Educação, Cultura, Esportes e Lazer, Iara Scandelaria Milczewski, a proposta do museu de rua foi mudar o enfoque do Cerca da Lapa. Em vez de apenas retratar a batalha, a idéia foi mostrar através da arte a beleza da comemoração. ?É um conceito diferente, uma contraposição da guerra, com harmonia e beleza?, afirmou. Além das exposições, também estão programadas debates, seminários, workshops e peças teatrais.
A tradicional cerimônia cívico-militar-religiosa do Cerco da Lapa foi realizado na noite de ontem, seguida da apresentação do grupo Seresta da Lapa – há oito anos para resgatar as tradições da cidade -, que percorreu o centro histórico. Hoje e amanhã, as atividades do cerco reiniciam a partir das 10h, em diversos espaços da cidade, como o Theatro São João, Praça General Carneiro, Clube União e Avenida Manoel Pedro.
Resistência aos federalistas durou 26 dias
A cidade da Lapa foi o palco de um grande confronto bélico entre as tropas republicanas e os maragatos, contrários à República, durante a Revolução Federalista, em 1894. Lapa resistiu bravamente ao cerco durante 26 dias, diante do ataque do maior número do exército de rebeldes sulinos republicanos, comandados por Gumercindo Saraiva. O episódio ficou conhecido como o Cerco da Lapa, concedendo assim ao governo do Marechal Floriano Peixoto, o símbolo da República, tempo suficiente para reunir forças e deter as tropas federalistas. Foram 639 homens, entre forças regulares e civis voluntários, sob o comando do general Carneiro, que lutaram contra as forças revolucionárias – formadas por três mil combatentes. Seus restos mortais, assim como de muitos outros que tombaram durante a resistência, estão guardados no Pantheon dos Heroess, vigiados por uma guarda de honra.