Os 19 denunciados pelo Ministério Público envolvidos no conflito entre sem terra e seguranças na fazenda da Syngenta Seeds, em Santa Tereza do Oeste, começaram a ser ouvidos ontem pela 1.ª Vara Criminal de Cascavel. O confronto, ocorrido em outubro, resultou na morte de duas pessoas: do militante da Via Campesina Valmir Mota de Oliveira e do segurança Fábio Ferreira.
Os depoimentos começaram a ser tomados às 13h pelo juiz Juliano Nanuncio. Até o início da noite de ontem, a audiência ainda não havia terminado. Acompanhando os seguranças estava a advogada Edinéia Sicbneihler. Os sem terra eram acompanhados pelos assessores jurídicos da Terra de Direitos.
Na última semana, o MP denunciou 19 pessoas e solicitou a prisão preventiva de seis delas. Nerci de Freitas, dono da N.F. Segurança Ltda., e os seguranças Alexandre Almeida e Alexandre de Jesus foram presos no mesmo dia da denúncia. O segurança Rodrigo Ambrósio se apresentou no último sábado. Já os sem terra Celso Barbosa e Célia Lourenço estão foragidos. Além de oito integrantes da Via Campesina e dos dez seguranças, também foi citado na denúncia Alessandro Meneguel, presidente do Movimento Ruralista do Oeste (MRO), por formação de quadrilha armada, exercício arbitrário das próprias razões e lesões corporais leves.
O dono da empresa N.F. e os seguranças foram acusados de homicídio doloso, tentativa de homicídio por dolo eventual, formação de quadrilha armada, exercício arbitrário das próprias razões e lesões corporais graves e leves. Já os integrantes do movimento rural foram denunciados por formação de quadrilha armada, invasão com violência ou grave ameaça para fim de esbulho possessório, homicídio direto, homicídio com dolo eventual, tentativas de homicídio com dolo eventual, lesões corporais graves e leves com dolo eventual.
Esta semana, a advogada dos seguranças entrou com pedido de habeas corpus, mas até ontem este ainda não tinha sido apreciado.
Clima tenso em ocupação na RMC
Em Rio Branco do Sul, Região Metropolitana de Curitiba (RMC), a ocupação de uma área pelo Movimento de Libertação dos Sem Terra (MLST) parece não ter agradado. Aproximadamente 60 famílias acamparam, pacificamente, na Fazenda Poço das Antas, na comunidade da Pinta, na última quarta-feira. Ontem pela manhã, ?jagunços? armados apareceram no local e ameaçaram os militantes com tiros para o alto. Ninguém foi ferido, mas a vizinhança e o movimento temem um conflito.
A situação foi informada por um vizinho da área, que não quis se identificar. Segundo ele, assim que os integrantes do MLST ocuparam o local, pessoas armadas começaram a circular pela região. Ele disse ter ouvido tiros e ainda afirmou que conversou com o proprietário da área, que garantiu que não havia contratado ninguém para retomar à força a propriedade.
De acordo com o coordenador do MLST, Joaquim Ribeiro, a área de plantação de pínus já teria sido ofertada ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), para que as famílias fossem assentadas. Segundo ele, ?os jagunços armados disseram que estavam ali a mando de uma madeireira, proprietária do plantio e não da área?.
Ontem, nem a PM de Cerro Azul nem a de Rio Branco tinham sido notificadas da ocorrência. A Divisão de Obtenção de Terras do Incra Paraná informou que a fazenda ocupada ainda não constava nos processos já instaurados, ao contrário do que afirmou o representante do MLST.