Juízes do Trabalho são os mais estressados

Quando se fala em profissões mais estressantes, logo se lembra dos policiais militares, operadores de vôos, jornalistas, enfermeiros e executivos. Mas o campeão de estresse é o magistrado da Justiça do Trabalho, segundo um estudo realizado pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Mais de 71% dos juízes trabalhistas apresentam sintomas de estresse. São mais de 2,5 mil profissionais nessa área no Brasil, exercendo suas atividades sob grande pressão para dar conta de todos processos, audiências e despachos. Isso acaba afetando a vida familiar e o descanso merecido.

A pesquisa indicou que as juízas sofrem mais com o estresse no trabalho. “Quando o meu primeiro filho nasceu, eu já era juíza. Eu me sentia muito mal por não ter tempo para passar com ele. Tenho consciência do meu dever cumprido na Justiça, mas o preço pago por isso é muito alto”, comenta Ana, nome fictício de uma juíza do Tribunal do Trabalho, em Curitiba, que não quis se identificar. “A partir do momento que se entra na magistratura, a dedicação é total. Os juízes sabem de seus deveres e que o Estado oferece poucos para dar conta de muitos habitantes. Você acaba abrindo mão de planos e realizações”, avalia. Ana conta que sofre com os problemas familiares e conflitos com os dois filhos adolescentes, resultantes da falta de presença dela quando eram pequenos. “É o que de mais triste pode acontecer: você ver seus filhos crescerem e não poder acompanhar”.

Ana culpa o excesso de trabalho como o grande vilão do estresse nos juízes, principalmente para aqueles de primeira instância (juízes substitutos). “Eu costumava ter oito audiências de instrução – quando são ouvidas as testemunhas -, dez audiências iniciais – que tentam acordos -, fora os despachos e processos a analisar”, conta. “Nenhum juiz trabalha somente oito horas, conforme é determinado. Você tira do sono ou do convício familiar”, aponta Ana.

Depois de 15 anos de magistratura ela está podendo desfrutar dos finais de semana. “Quando assume uma titularidade na segunda instância, a infra-estrutura permite você delegar tarefas”, explica. Ana foi nomeada juíza com 25 anos e, logo que tomou posse, já foi encaminhada para um avalanche de audiências. Por três anos e meio, ela trabalhou em Paranavaí e ficou longe da família, que permaneceu em Curitiba. “Eu ia e voltava todo o final de semana”, relembra. Quando abriu uma vaga na capital, ela voltou, mas o trabalho não diminuiu.

Sistema de trabalho

O juiz do Tribunal Regional do Trabalho em Curitiba, Arion Mazurkevic, também acredita que o próprio sistema de trabalho gera a maior parte do estresse. “O juiz vive pressionado pela necessidade de dar conta de tudo. A rapidez no processo é uma reclamação muito grande da sociedade e não se pode fazer de forma precipitada”, justifica. A média de horas dispensadas em atividades profissionais chega a 13 por dia. “Nós precisamos levar coisas para casa porque não tem como dar conta de tudo.”

Mazurkevic afirma que a administração de conflitos nas audiências é outro motivo para o estresse. “O juiz nunca está numa situação favorável. Fica no meio de duas partes se degladiando. Há os interesses econômicos, mas existe a carga de revolta e pressão. Numa média de 16 audiências por dia, o juiz lida com 64 pessoas, sem contar as testemunhas. Cada uma tem a sua história, seus problemas e suas necessidades”, revela.

Para ele, é essencial a quebra da rotina estressante, com a prática de exercícios e atividades de lazer. “Precisamos reservar um tempo para se desligar do sistema e fazer outras coisas. O acúmulo de tensões gera graves conseqüências depois”, relata. Já Ana usa remédios fitoterápicos e se tranca no gabinete por alguns minutos para respirar fundo um pouco quando a tensão é insuportável. Além disso, ela faz terapia e exercícios físicos há dez anos. “Acho que todo juiz trabalha baseado na fé para ter a disposição e alegria em trabalhar”, acredita.

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