Jovens buscam experiências no exterior

A oportunidade de conhecer outros países, trocar experiências culturais, estudar e até mesmo juntar dinheiro é o sonho de muitos brasileiros que pensam em fazer um intercâmbio. Há opções para todos os bolsos, gostos e necessidades. Porém, quem quer participar de uma aventura como essas deve tomar uma série de cuidados e, segundo os mais ?experientes?, ter muito boa vontade, disposição e, claro, pelo menos um pouco de dinheiro para dar o pontapé inicial.

Luís Guilherme Zenoni, de 24 anos, pode se enquadrar na característica ?experiente?. Ele já fez dois intercâmbios. Com 21 anos foi por conta própria para a Austrália e, aos 22, foi para a Califórnia, nos Estados Unidos. A Austrália, conta ele, era um sonho de consumo. ?Eu sempre quis surfar na Austrália. Trabalhei bastante aqui, juntei dinheiro e fui. Lá tive que trabalhar para me manter, mas mesmo assim eu faria tudo de novo. Fui pela experiência, e não pelo dinheiro?, conta. Já quando foi para a Califórnia resolveu realizar a viagem por meio de uma agência de intercâmbio, que segundo ele, é um meio mais seguro. Dessa vez a intenção era juntar um pouco de dinheiro, não fosse a idéia de voltar dos Estados Unidos de ônibus. Ele e mais um amigo viajaram durante quatro meses e passaram por mais de dez países. ?Até juntei dinheiro trabalhando lá, mas cheguei aqui sem nada?, afirmou. Zenoni trabalhou oito meses de camareiro em um hotel.

O mesmo desejo de mudar de vida fez com que Marcela Dalprá Barbosa também tomasse a atitude de viajar e trocar experiências culturais. Ela trabalhou durante quatro anos em um cassino em Connecticut (Estados Unidos). ?Eu trabalhava e estudava aqui, mas queria mudar de vida. Tranquei a faculdade e fui. Muita gente vai para ganhar dinheiro, mas eu queria experiência mesmo?, diz. Marcela fez cursos de inglês e business nos Estados Unidos e conta que o contato com pessoas das mais diversas nacionalidades foi importante para ela. ?Eu aprendi de tudo um pouco, até umas palavras em chinês?, conta.

Mas ambos dão um conselho para quem pretende fazer um intercâmbio: a pessoa tem que ser muito flexível à mudanças e muito paciente. A questão da língua estrangeira ou até da comida totalmente diferente da brasileira não foram os principais problemas, dizem eles. ?Para mim, o mais difícil foi a falta de conforto. Aqui você tem carro, casa confortável. Lá você tem que andar de ônibus e nem tem um quarto ajeitado para dormir. Tudo isso faz a gente amadurecer?, diz Marcela. Mas mesmo assim, ela recomenda a experiência. ?A gente tem que aprender a abrir mão das coisas?, afirma.

Luís Guilherme também dá dicas para quem quer se aventurar. ?Se você for por conta nunca vá com pouco dinheiro, pois sempre vão aparecer situações inesperadas. Mas aconselho sempre a procurar uma agência conceituada para te dar todo o respaldo possível. Nunca faça muitos planos também, pois quando você chega lá sempre muda alguma coisa. Mas por mais que dê muita coisa errada, é uma das experiências mais válidas na vida?, garante.

Maior procura são pelos cursos de línguas

Foto: Ciciro Back

Florinda Marques: alunos sofrem com mudanças de costumes.

As agências oferecem programas específicos para adolescentes – a partir dos 14 anos -, mulheres – em geral que têm entre 18 e 26 anos – e executivos. A agência EF, de Curitiba, uma rede sueca de escolas de idioma existente há mais de quarenta anos em todo o mundo, tem programas apenas na área de educação. A gerente da agência, Florinda Marques, diz que a maior demanda é a procura por cursos de língua no exterior.

Para quem tem idade entre 14 e 18 anos, pode fazer o chamado ?colegial? fora do País. O sistema funciona com casa de família e colégios conceituados. Para essa mesma faixa etária, há grupos de férias, que duram até três semanas – em geral são em Miami (EUA), Vancouver (Canadá) e Cambridge (escolas localizadas em diversos locais do mundo).

Já as mulheres têm a opção de trabalhar e estudar ao mesmo tempo, o programa chamado Au Pair. Esse programa, explica Florinda, exige uma seleção rígida das participantes, já que elas terão que lidar com crianças. ?É preciso ter diversas características, além de possuir o Segundo Grau completo, pois em geral ela vai estudar em uma universidade nos EUA?, comenta Florinda. Esse programa é muito procurado, diz. ?Já mandamos quase 50 moças brasileiras para lá nos últimos três anos?, conta.

A agência Experimento, de Curitiba, também oferece o Au Pair. A Experimento tem também o programa chamado Camp America, que procura jovens para trabalhar em acampamentos nos EUA. Já o programa Work Adventures oferece trabalho em estações de esqui, restaurantes, hotéis e resorts.

Já para os executivos, há o programa chamado Corporate. A procura é geralmente por empresas que custeiam o aperfeiçoamento de seus funcionários. Para passar uma semana fora do País – geralmente nos EUA – fazendo um curso de business, o executivo gasta cerca de US$ 2,59 mil.

Segundo Florinda, uma das principais dificuldades das pessoas que participam de um intercâmbio é a mudança de costumes. ?Em geral são pessoas que estão acostumadas com conforto aqui no Brasil. o brasileiro é mais acolhedor, e este viajante se decepciona um pouco. Mas vale a pena?, comenta.

Outras opções

A EF oferece em seu site (www.ef.com) o programa para aprender inglês chamado Englishtown. É um programa no qual a pessoa aprende a língua pela internet e escolhe o horário de suas aulas.

Uma outra opção para estudantes que têm idade entre 17 e 21 anos é concorrer a bolsas do Ibeu – Inglês Global (escola de inglês presente no mundo todo). A inscrição para a bolsa ocorre do dia primeiro a 30 de abril de 2007. Para participar é preciso ter pelo menos 12 mil dólares para custear as despesas de um ano. O programa é para qualquer área de estudo, exceto Direito e Medicina. Informações podem ser obtidas pelo telefone (21) 3816-9445 ou pelo site www.ibeu.org.br.

É preciso cuidado com agências

No Brasil não há um órgão específico para fiscalizar os intercâmbios oferecidos por agências. A orientadora educacional do Escritório de Consultas Educacionais do Centro Cultural Brasil – Estados Unidos em Curitiba, Fernanda Rigoni, explica que as pessoas devem tomar certos cuidados e sempre procurar orientação de quem entende do assunto.

Uma das dicas da professora é conversar com pessoas que já fizeram intercâmbio. Se o candidato for menor de idade, o melhor, segundo ela, é procurar uma agência especializada. Também é possível fazer tudo por conta, mas sempre com orientação. Fernanda diz que ao procurar uma agência, é necessário ver o histórico do local. ?É aconselhável escolher uma empresa que já está no mercado há mais tempo, pois terão os melhores contatos fora do País. Também é muito importante visitar várias agências e comparar preços, não adianta ir só porque é mais barato. É preciso ver bem o que o programa oferece?, alerta.

A professora alerta que é importante também verificar junto à agência quais as vantagens e desvantagens de ir para este ou aquele local. ?É bom a pessoa saber que tipo de garantia ela vai ter no país que pretende ficar?, afirma.

Outro perigo, segundo Fernanda, é escolher um curso de inglês, por exemplo, que não é reconhecido. ?Em geral, o curso de inglês está vinculado ao visto que a pessoa vai conseguir. Há cursos que não são liberados?, comenta. Há uma associação que traz os diversos cursos de inglês reconhecidos. O site é www.uciep.org. Há também o site da American Association of Intensive English Program: www.aaiep.org. Outro conselho da professora é evitar viajar e estudar em grupos grandes de brasileiros. ?Isso faz com que você fale muito menos a outra língua do que deveria?, aconselha.

A ONG AFS também presta consultoria para quem quer fazer intercâmbio. Ela possui escritórios em 90 cidades brasileiras. Em Curitiba, o contato é www.afscuritiba.org ou pelo telefone (41) 9138-2207.

Opções de intercâmbio no exterior para todos os bolsos

Foto: Ciciro Back

Dieter Weihermann.

São muitos os programas de intercâmbio existentes no mercado. Tudo depende do objetivo e das condições financeiras de cada um. Há opções para quem quer ficar muito tempo fora – seja trabalhando ou estudando – ou para quem só pode ficar algumas semanas longe do Brasil. Há alternativas específicas para adolescentes, mulheres e executivos. O país mais procurado, em geral, são os EUA. Mas o Canadá, a Austrália e a Nova Zelândia também estão na moda. Para se ter uma idéia da procura, a agência Brazilians to the World, de Curitiba, viabilizou o intercâmbio de cerca de 70 pessoas para o Canadá desde agosto do ano passado. Para os EUA, foram mais de 400.

O proprietário da agência, Dieter Weihermann, explica que um dos programas mais procurados no Brasil é o de universitários que trabalham por um período de tempo nos EUA. É também um programa mais acessível, pois chega a custar US$ 2,25 mil para ficar de três a quatro meses fora. ?Neste tipo de programa o estudante acaba trabalhando em hotéis, estações de esqui, restaurantes e cassinos?, informa ele.

Mas há também programas um pouco menos comuns, mas muito procurados por conta do retorno financeiro, como o do Alasca, por exemplo. Nesse programa, explica Weihermann, trabalha-se muito – muito mesmo! – mas se ganha bastante também: cerca de US$ 10 mil em apenas nove semanas de trabalho. ?Mas é absurdo a quantidade de horas de trabalho. Eles chegam a trabalhar até 16 horas por dia. Sem falar que é uma atividade difícil, pois se mexe com peixes em navios?, explica. Para ir para o Alasca, o estudante deve ter no bolso inicialmente pelo menos US$ 2,25 mil. E apesar do grau de dificuldade do trabalho, já tem até fila de espera na agência.

Para quem quer apenas estudar outra língua – o inglês ainda é o mais procurado nas agências de intercâmbio – há opções como o Canadá, Irlanda, Austrália e Nova Zelândia. A Inglaterra também é muito procurada, mas segundo Weihermann, a questão da dificuldade com o visto está afastando um pouco quem quer fazer intercâmbio por lá. Segundo ele, o Canadá hoje é o país que oferece o melhor custo benefício. Com cerca de US$ 3 mil se passa dois meses só estudando no Canadá.

Já quem quer – ou precisa -aliar o trabalho aos estudos, tem a opção de ir para a Irlanda e também para a Austrália. Com 2,5 mil euros a pessoa passa até seis meses na Irlanda e, com cerca de US$ 3,3 mil, cinco meses na Austrália. ?A Irlanda está com a economia mais aberta e permite que o turista estude e trabalhe. Em geral, a própria escola irlandesa já organiza um emprego para a pessoa?, comenta.

Na Nova Zelândia, a situação é parecida: também há a possibilidade da escola conseguir um emprego para seu aluno. Para ficar cerca de dois meses por lá, a pessoa poderá gastar pelo menos US$ 2,25 mil.

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