Jornalismo paranaense perde Manoel Karam

?Eu acho que mesmo em uma situação dramática, tem algo de humor. Eu tenho pesquisado, trabalhado e estudado o humor e pude descobrir que é um negócio mais amplo. Por exemplo, nos poemas de Drummond encontramos momentos que aparentemente são coisas poéticas, mas que na verdade, são humor puro?. A frase é do jornalista e escritor, Manoel Carlos Karam, que morreu ontem, em Curitiba, aos 60 anos. Karam deixou a esposa Kátia Kertzman, o filho Bruno e uma legião de amigos, parceiros e admiradores.

Nascido em Rio do Sul, Santa Catarina, em 1947, Karam chegou em Curitiba em 1966, onde iniciou sua carreira como profissional multimídia. Logo que entrou na faculdade de Jornalismo, na Pontifícia Universidade Católica do Paraná, começou a se destacar entre os alunos, e não demorou muito para ingressar na profissão. O diretor de O Estado, Mussa José Assis, lembra com carinho do seu aluno. ?Quando compramos a Rádio Guairacá, que depois virou Rádio Iguaçu, o Karam fazia o boletim da meia-noite, um resumo do jornalismo do dia. E aí foi o começo da sua carreira como grande jornalista?, disse.

Por 22 anos, Karam trabalhou em O Estado e Tribuna do Paraná onde, além de repórter, foi editor, chefe e secretário de redação, e responsável por mais de 15 anos da coluna Triboladas. No início da década de 90, acumulou as funções do jornalismo impresso com a direção de jornalismo regional da TV Iguaçu. Karam também trabalhou como editor estadual da Rede Globo e jornalista da Prefeitura de Curitiba e governo do Estado. ?Ele tinha uma cabeça brilhante, um excelente texto, produzia muito e era um devorador de livros. Foi um dos meus melhores amigos?, disse Mussa.

Paralelo ao jornalismo, Karam produziu diversos trabalhos para o teatro e literatura. Foi fundador do grupo teatral Margem, escreveu e encenou textos como O velório de Joaquim Silvério dos Reis e Doce primavera. Na década de 70, foi co-roteirista e assistente de direção do filme Aleluia, Gretchen, de Sylvio Back. Companheiro de palcos e outras ?aventuras?, o colunista de O Estado, Dante Mendonça, afirma que começou sua vida profissional ao lado de Karam. Ele comenta que sua personalidade bem-humorada foi algo marcante. ?Ele não era um cara engraçado, ele fazia graça, era espirituoso?, disse.

A partir dos anos 80s, Karam começou a se dedicar aos livros. Entre as publicações estão Fontes murmurantes (1985), Cebola (1997), Comendo bolacha maria no dia de são nunca (1999), Encrenca (2002) e Sujeito Oculto (2004). Retornou ao teatro em 2003 com a leitura da peça Duas criaturas gritando no palco. O ex-governador Jaime Lerner afirmou que Karam foi um dos únicos que conseguiu reproduzir a essência do curitibano através de um texto perfeito. ?Seu percurso foi pontilhado de amizades, sempre com bom humor e com complacência em relação aos defeitos das pessoas. Era tão otimista, irradiava o bem. É assim que lembro e quero me lembrar dele?, comentou. O músico e filho de Karam, Bruno, também destaca o bom humor do pai. ?Foi meu grande mestre, um exemplo para todos, sempre encarando a vida com alegria e responsabilidade?.

Há oito meses, Manoel Carlos Karam lutava contra um câncer de pulmão. Seu corpo foi cremado ontem. 

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