Quando nos acostumávamos a atravessar uma Copa sonolenta, caseira e em família, com ridículos pijamas verde-amarelos no lugar das camisas canarinho e café forte no lugar da cerveja, eis que ressurge o ritual da torcida coletiva, dos botecos e da vibrante algazarra que toma conta do nosso povo de quatro em quatro anos. O jogo de ontem contra a Costa Rica, às 3h30, foi o primeiro nesta Copa em que foi possível juntar a torcida curitibana em bares e casas noturnas, que tiveram excelente público para uma quarta-feira. Para a maioria dos torcedores, a necessidade de acordar cedo no dia seguinte foi só um detalhe.
“Tenho que estar de pé amanhã às 8h, mas até agora esse é o único jogo que está dando para ver fora de casa – segunda às 6h e sábado às 8h30 não dava, né?”, declarou o analista de sistemas Rodrigo Rômulo Zini, de 30 anos, que na madrugada de ontem estava no Café Curaçao. E a receita para acordar no dia seguinte? “Tentei dormir antes, porque vou emendar. Tomara que eu não perca o emprego!”. Na mesma mesa, a pedagoga Telma Lopes, de 30 anos, a professora Dulce Lopes, 32, e a atriz Simone Petry, 31, também disseram que iam “emendar”: “Acordo às 6h, mas pra ver o Brasil vale a pena”, disse Telma.
Numa mesa próxima, os amigos Leonardo Micheletto, de 17 anos, Rodrigo Avelino, 18, Lizandro Panes, 22, Thiago Zanchi, 21 e Paul Charles, 19, falaram das vantagens de assistir ao jogo num bar: “Aqui a gente pode torcer, gritar, tocar corneta. Em casa tem que ficar em silêncio”, comparou Rodrigo. Os cinco disseram que também iam emendar: “O tempo que sobrar a gente dá uma cochilada”, comentou Thiago.
Torpedo e pipoca
Na casa noturna Swingers, no Prado Velho, a noite também foi bastante movimentada. O bar uniu a azaração e o clima de romance do Dia dos Namorados à festa do jogo do Brasil, com direito a torpedo e pipoca. Segundo os responsáveis, mais de mil pessoas participaram da festa – o dobro do movimento de uma quarta-feira normal, que gira em torno de 450 a 500 pessoas.
Ninguém parecia preocupado com dia e horário. O estudante Nilson Tadashi, de 22 anos, que depois do jogo ainda viajaria a Ponta Grossa, era um deles: “A mulher que eu vim “catar” vinha pra cá, eu vim atrás”, confessou, adiantando que não iria dormir.
O casal Maurício Santoro, administrador de 33 anos, e Sueli Pires, funcionária da área financeira de 28, também passaria a noite em claro: “Acordo amanhã às 7h, mas em jogo do Brasil a gente tem que deixar as outras coisas de lado”, disse Maurício. “Tem que reunir todo mundo e comemorar, porque o sacrifício vale a pena”.
Portando um original figurino Copa do Mundo, a torcedora Karenn Nassur, de 25 anos, também falava das vantagens de ver o jogo na “night”: “É muito melhor assistir com a galera!”. Mas criticou o horário das partidas: “Complicou muito pro pessoal que trabalha”. Apesar do visual, Karenn mostrou uma postura bastante crítica em relação à “Família Scolari”: “O Brasil só pegou timinho até agora. Acho que a final vai ser entre dois times que ninguém espera, tipo Senegal, Espanha, Portugal…”
Um dos poucos que reclamou por estar vendo o jogo num bar – por estar de serviço – foi o garçom Luciano Garcia, de 21 anos: “Não é muito bom pra gente que está trabalhando, não tem aquela tranqüilidade que tem em casa”, observou, para depois resignar-se: “Jogo da Seleção tem que assistir, não importa o lugar”.
No Plattea Café, a noite de ontem parecia um dos melhores sábados de verão. Segundo o marketing da casa, mais de 1.100 pessoas passaram pelo bar, que tem capacidade para 750 clientes. Normalmente, o público médio nesse dia é de cerca de 550 pessoas. O advogado Robert Pereira, 26, que precisaria estar no trabalho às 8h30, estava lá: “Vale a pena ficar sem dormir, Seleção na Copa é só de quatro em quatro anos. E ver em casa não tem a mesma graça, sempre tem gente dormindo”.
O corretor Leandro de Assis, de 21 anos, concorda: “Futebol, cerveja, telão, mulher bonita, amigos, não tem coisa melhor”. E aproveitou para fazer uma análise sobre o futuro do Brasil na Copa: “Acho que dá para ganhar, porque o Brasil tem um time bom e está com muita sorte: pegou um grupo fácil, e a Argentina – a única que podia nos desclassificar – já está fora. Só desconfio que essa Copa vai ser de um time novo”.