A Comissão Especial de Investigação (CEI), criada esta semana na Assembléia Legislativa para levantar e acompanhar as medidas tomadas em relação ao acidente ambiental provocado pela explosão do navio chileno Vicuña em Paranaguá, reuniu-se na última quarta-feira e ouviu, das 18h30 às 3h de ontem, várias autoridades ligadas aos setores envolvidos. Os depoentes enfatizaram que os trabalhos poderiam estar bem adiantados, mas devido a problemas contratuais e o fato de a seguradora não assumir a responsabilidade pelos pagamentos, perderam agilidade. Houve ainda redução na quantidade de equipamentos e pessoas empregadas na limpeza da Baía de Paranaguá.
Foram ouvidos o superintendente da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa), Eduardo Requião, o representante do Instituto Ambiental do Paraná, Sebastião Garcia, o responsável pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Lício Domit, e o comandante da Defesa Civil em Paranaguá, capitão Genero, além de representantes da Cattalini Terminais Marítimos onde ocorreu a explosão, Eduardo Kuhlmann, do Clube de Seguros P & I, e representantes das empresas Ecosorb, Hidroclean e Alpina, que teriam sido contratados para a limpeza da área atingida. Também foi ouvido o representante da Sociedade Naviera Ultragrás, proprietária do navio Vicuña, Carlos Prado.
O deputado Natálio Stica (PT) classificou a situação como "um desrespeito e falta de responsabilidade. É como se um paciente estivesse chegando a um hospital passando muito mal, não fosse atendido por não ter dinheiro para pagar a consulta. Uma atitude realmente mercenária".
Depois de muita discussão, os deputados Neivo Beraldin (PDT), Stica e Ailton Araújo (PTB) aprovaram solicitação para que a Policia Federal apreendesse os passaportes dos representantes de empresas estrangeiras que estavam dificultando a realização dos serviços, evitando assim que deixem o País.
Além disso, propuseram que os envolvidos no processo de limpeza, seguradora e a Catallini se reunissem no prédio da APPA e encontrassem uma solução para o impasse.
A discussão só acabou por volta das 3h, com a assinatura de um Termo de Compromisso Público. Ficou acordado que a Sociedade Naviera Ultragrás assume a contratação de empresas para medidas urgentes na contenção, prospecção, mitigação do óleo espalhado pelo acidente e limpeza de todas as áreas afetadas no meio ambiente sempre em conformidade com as leis brasileiras. Finalmente, concordaram que o capitão Genero, da Defesa Civil tem, a partir de agora, plenos poderes inclusive para dar voz de prisão a quem se negar a auxiliar nos trabalhos de limpeza, responsabilizando-se pela coordenação dos trabalhos.
Uma nova reunião da CEI foi marcada para a próxima terça-feira, às 18h, na sede da Appa, em Paranaguá.
Tripulantes consultam PF
Os tripulantes sobreviventes do navio chileno Vicuña vão formalizar um pedido de autorização para deixar o País e voltar para suas casas. Segundo informações da Polícia Federal (PF) em Paranaguá, eles realizaram uma consulta com o órgão, que vai analisar o pedido formal. Nenhum tripulante está autorizado a deixar a cidade neste momento.
Todos já foram ouvidos no inquérito que apura as causas do acidente. Se a autorização for emitida, alguns deles deverão permanecer no litoral do Estado para prestar mais esclarecimentos se houver necessidade. A perícia da PF no local do acidente continua e o inquérito poderá ser concluído até o dia 16 de dezembro.
A Capitania dos Portos determinou ontem, que o armador do navio, empresa responsável por ele, apresente o plano de retirada da embarcação do píer da Cattalini até o dia 8 de dezembro. (JC)
Ninguém consegue conter vazamento
O óleo combustível do navio Vicuña continua vazando, mesmo que em pequena quantidade em relação ao dia do acidente, ocorrido há 11 dias. Mas segundo informações do Instituto Ambiental do Paraná (IAP), ele está sendo controlado e retirado pelas 43 embarcações que permanecem no local.
"O vazamento está contido e não está mais se espalhando para o mar. O que fica em torno do navio fica nas barreiras de contenção e retirado pelas equipes de apoio", afirma Sebastião Carvalho, chefe do escritório do IAP no litoral do Estado.
Nas baías de Paranaguá, Antonina e Guaraqueçaba, as manchas da substância já foram dispersas, somente sendo possível verificar alguns filmes de óleo. "O grosso mesmo está no marco zero. Não estamos deixando ir para distâncias longas. E aí que se perde o controle", conta Carvalho.
A limpeza das rochas e dos manguezais das áreas atingidas pelo óleo está sendo estudada por especialistas. "Alguns são contra. Por isso, estamos descobrindo a melhor alternativa para a limpeza", comenta o chefe do IAP. Uma bióloga do Centro de Estudos do Mar da Universidade Federal do Paraná (UFPR) está fazendo uma análise dos locais para definir a técnica da operação de retirada do óleo. Ontem foram coletadas amostras de materiais contaminados para avaliação. "O marisma, capim que fica entre o mangue e a água, está preto de tanto óleo em muitas áreas. Toda vez que a maré enche e abaixa, esse óleo vai voltando para a água e continua poluindo por muito tempo", explica. Em alguns pontos, já foram colocadas barreiras para absorver o produto.
Ibama
Técnicos do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) encontraram ontem mais 12 animais contaminados pelo óleo. Apenas um lagarto teiú estava com vida. Ele estava próximo ao píer da Cattalini, onde houve a explosão. Os outros animais são, em sua maioria, peixes e invertebrados. Um biguá foi resgatado com vida, mas não conseguiu esperar pelo atendimento. Desde a explosão já foram encontrados 62 animais mortos e 10 vivos.
Sete aves permanecem no centro de reabilitação montado em Paranaguá. Os animais passaram ontem por exames de sangue para verificar o estado de saúde. Esse procedimento determina a continuidade da limpeza dos bichos. "Não podemos expô-los eles a mais este estresse. Alguns, esperamos que se recuperem um pouco para depois fazer a limpeza", revela Cosette Xavier da Silva, coordenadora do núcleo de fauna e recursos pesqueiros do Ibama.
Ontem, técnicos do Ibama estavam estudando a possibilidade de colocar um quarto anel de contenção em volta do navio. A medida facilitaria o trabalho dos 40 barcos que estão retirando do mar as manchas de óleo que escapam das três primeiras redes de contenção. (Joyce Carvalho e Elizangela Wroniski)