Os grupos de Jogadores Anônimos (JA) e Jog-Anon (grupo para parentes e amigos de jogadores compulsivos) promovem no dia 21, às 19h30, no salão paroquial da Igreja do Senhor Bom Jesus, na Praça Rui Barbosa, Centro de Curitiba, mais uma edição da reunião pública anual das duas instituições. As palestras serão proferidas pelo psiquiatra Dagoberto Requião e a assistente social Paulina do Carmo Vieira Duarte, que falarão, respectivamente, sobre a doença e como a família e os amigos podem ajudar os compulsivos.

Há cinco anos, foram fundados em Curitiba os grupos JA e Jog-Anon. No Brasil, a irmandade existe há nove anos, tendo iniciado no Rio. No mundo, o grupo foi fundado há 35 anos, em Los Angeles, no Estado da Califórnia (EUA). O objetivo principal é reintegrar o indivíduo na sociedade através da recuperação. A compulsividade por jogos, assim como por álcool, sexo, comida, não escolhe sexo, idade ou classe social. Segundo a voluntária Rosane Pereira, que coordena o grupo em Curitiba, o JA é freqüentado tanto por adolescentes como idosos. “A pessoa só descobre e aceita a doença quando chega no fundo do poço, quando perdeu família, bens materiais, trabalho e muito dinheiro”, explica. Rosane é amiga de um compulsivo anônimo, que chegou a perder mais de R$ 1 milhão com jogos.

O grupo utiliza a mesma literatura do AA (Alcoólicos Anônimos), só que traduzida para os jogadores anônimos. Devido a grande rotatividade, a irmandade não tem um número fixo de JA ou familiares e amigos, mas cada reunião conta em média com vinte pessoas. São três grupos semanais (terças, sextas e sábados, às 19h30) que se encontram na Trajano Reis, 457. Assim como AA, os familiares e amigos dos compulsivos por jogos (bingo, loteria, baralho, entre outros) desempenham um papel fundamental na recuperação. Segundo Rosane, nas reuniões as pessoas aprendem a lidar com a doença. O crescimento do grupo é baseado em depoimentos dos companheiros. Além disso, são realizadas palestras com profissionais.

Sem saber que já estava no início de sua compulsão por jogos, CLM, aos 15 anos gastava todo seu salário de office-boy com a compra de raspadinhas. O jovem chegou a dar um desfalque na empresa em que trabalhava. Como perdeu o emprego, ele conseguiu ficar sem jogar dos 15 aos 18 anos. Até que foi convidado por uma amiga a conhecer um bingo. Ele perdeu R$ 20,00 na noite, mesmo assim, no dia seguinte retornou e não parou mais, pelo menos por um período de quatro anos. “Até ganhei dinheiro, mas perdi tudo. Além da gastar o salário, eu peguei cartões de crédito dos meus pais, abria cofre para pegar jóias. Tudo eu gastava com bingo”, relata. Até que teve que sair de casa.

Para piorar a situação, CLM foi trabalhar num bingo. Novamente seu salário era gasto com jogos. A despesa da casa ficava por conta de uma ex-namorada, com quem estava morando na época. Como estava tão envolvido pelo jogo, não pensou duas vezes para largar a faculdade. Aos 22 anos, ele por conta própria, depois que perdeu tudo, resolveu ser internado numa clínica para dependentes químicos, onde ficou quatro meses. Segundo CLM, a adaptação foi boa. E um dia depois que saiu da clinica participou de uma reunião nacional do grupo JA que estava acontecendo em Curitiba.

Hoje, aos 24 anos, há dois freqüentando o JA, CLM é um dos coordenadores do grupo no Paraná e a participação ativa, diz ele, é fundamental na recuperação. “A recuperação é difícil e lenta, mas a recompensa é muito gratificante”, diz. Além de estar trabalhando, ele voltou à faculdade e está no quarto ano de Veterinária.

continua após a publicidade

continua após a publicidade