Procurador da República Nazarene Wollff: “Provas documentais”. |
O empresário e ex-consultor da New Hübner Componentes Automotivos, Amauri Cruz Santos, confirmou, em depoimento à Justiça Federal, o repasse de cerca de R$ 8,8 milhões ao ex-senador Jader Barbalho (PMDB-PA) no “caso Usimar”. O dinheiro seria uma espécie de ?comissão? para que o projeto fosse aprovado pela extinta Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), no ano de 1999. O valor corresponde a 20% do montante liberado, que foi de R$ 44 milhões.
A informação é do procurador da República no Paraná, Nazareno Wolff, que acompanhou os depoimentos prestados à juíza Anne Karina Stipp Amador Costa, titular da 1.ª Vara Federal Criminal. Ao todo, oito acusados prestaram depoimento à Justiça Federal, em Curitiba, entre quinta-feira e ontem, no processo aberto contra 25 pessoas denunciadas pela força-tarefa do Ministério Público Federal (MPF) à Justiça Federal do Tocantins.
“O Amauri confirmou que tinha contato direto com Jader, que pegou os cheques (liberados pela Sudam) e enviou pelo sedex para o assessor do Jader Barbalho”, contou o procurador. Segundo depoimento de Amauri Cruz, todo o dinheiro entregue ao ex-senador teria sido depositado em contas de empresas laranjas e enviado para o exterior. “Uma ligação muito forte com o nome de Jader vem do fato de que em uma busca e apreensão realizada em um casa de câmbio (Cruzeiro), em Belém do Pará, foram encontradas cópias de cheques da Usimar, que foram depois depositados em contas de empresas fantasmas”, relatou o procurador, acrescentando que as provas contra o ex-senador são documentais.
Para o procurador, o mais importante, no entanto, é a participação efetiva da ex-governadora Roseana Sarney e de seu marido Jorge Murad na aprovação do projeto Usimar. “A forma como ela conduziu a reunião do Condel (Conselho Deliberativo da Sudam) foi absolutamente dolosa, irresponsável, e isso está provado em ata, documentado no processo. Tanto que o Ministério Público recorreu em Tocantins do não-recebimento da denúncia em relação a Roseana”, comentou Nazareno Wolff. E completou: “Sem a participação efetiva de alguém da Sudam, não haveria liberação do dinheiro. O Amauri e o Teodoro (Hübner Filho, controlador da Usimar) não conseguiriam sozinhos R$ 44 milhões”.
Dívida
O procurador afirmou ainda, segundo depoimento do ex-diretor financeiro da New Hübner, Valmor Felipetto, que a empresa estaria com dívida de R$ 45 milhões quando recebeu o primeiro repasse da Sudam, no valor de R$ 22 milhões, em 24 de janeiro de 2000. “O Teodoro está com a maior parte do dinheiro. Ele é o grande beneficiário”, apontou o procurador. Já o advogado do empresário, João Casil-lo, nega o envolvimento de seu cliente no desvio de verbas. “Ele caiu em um grande golpe. Não foi um tostão para o bolso dele”, garantiu o advogado à imprensa, na quinta-feira. Além de Teodoro Hübner Filho, dono da New Hübner Componentes Automotivos e controlador da Usimar, e de Amauri Cruz Santos, prestaram depoimento também a filha de Teodoro, Magaly Hübner Busato, Valmor Felipetto, Roderjan Busato – genro de Teodoro e dono da construtora Engeblon, que teria recebido o segundo repasse da verba da Sudam, Adaljor Dlugonski Lemos – sócio de Roderjan na Engeblon, Ulbi Arlant – sócio de Amauri Cruz, e Paulo Ivan Alberti -ex-diretor financeiro da New Hübner, que trabalhava em São Luís (MA) na direção da Usimar.
O projeto da Usimar, uma indústria de autopeças que seria erguida em São Luís (MA), num valor estimado de R$ 1,3 bilhão, foi aprovado a toque de caixa pela Sudam em 1999, mas nunca saiu do papel.