Fechada por decisão judicial, Estrada
do Colono foi invadida no último sábado.

Serranópolis do Iguaçu – A União retomou ontem a posse do Parque Nacional do Iguaçu. O local foi invadido na madrugada do dia 4 por cerca de trezentos moradores e políticos do Oeste e do Sudoeste, numa tentativa de reabrir a Estrada do Colono, fechada por ordem judicial há mais de dois anos. Ontem, ao meio-dia, quando policiais federais chegaram para cumprir a ordem de reintegração de posse já não havia manifestantes nos 17,6 km da antiga estrada.

A posse foi reintegrada na presença do procurador-geral do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Sebastião Azevedo, da procuradora-geral do órgão no Paraná, Andréa Vulcânis e da procuradora da República Patrícia Castro Nunez. A operação foi realizada em conjunto pelas polícias Federal, Florestal e Militar.

Técnicos do Ibama iniciaram um levantamento dos danos materiais e ao ambiente, que servirão de base para o inquérito instaurado na PF. “Queremos identificar os líderes políticos que teriam incitado a população”, disse o agente Marcos Koren, responsável pela Comunicação Social da PF.

Uma casa que era utilizada pelo Ibama para abrigar os seguranças foi queimada e a uma torre de comunicação, derrubada. Os danos ambientais foram mais sentidos, pois todas as mudas usadas no replantio no leito da estrada foram arrancadas.

Numa análise preliminar o Ibama avalia que foram derrubadas cerca de 50 mil árvores jovens, de até 5 metros, que vinham recompondo a vegetação desde a última invasão ao parque no ano de 2001. Serão necessárias 120 mil mudas de espécies nativas para a recomposição. “Para que a vegetação retorne ao estado em que se encontrava antes da invasão levará pelo menos dois anos e para a recomposição da mata nativa em sua plenitude vão ser precisos pelo menos 20 anos”, afirmou a diretora de Ecossistemas do Ibama, Cecília Ferraz.

Mais que o dano ambiental, a invasão causou também prejuízos materiais. A cerca de proteção na altura da Estrada do Colono, uma guarita de vigilância e a torre de transmissão existente no local foram derrubadas e duas casas foram incendiadas. A polícia, que já havia apreendido anteriormente quinze coquetéis molotov, encontrou sob os escombros uma bomba de fabricação caseira.

Balsa

A Polícia Federal esteve também no município de Capanema para apreender uma balsa, que estava sendo construída para conduzir os veículos na parte em que o Rio Iguaçu corta o parque. A ordem da Justiça era para que ela fosse destruída.

Moradores e políticos da cidade tentavam impedir. A Associação de Integração Pró-Reabertura da Estrada do Colono (Aipopec) entrou com um pedido na Justiça para que houvesse suspensão dessa decisão.

“Não há mais justificativa para implodi-la, pois não está mais no domínio do parque, não está mais próxima do rio”, justificou o vice-prefeito de Capanema, Carlos Carbone (PT). “A intenção é mantê-la como símbolo.” Koren disse que a PF aguardava nova decisão da Justiça ou a confirmação da ordem para a destruição.

Ibama busca apoio da comunidade

O presidente do Ibama, Marcus Barros, confirmou que os esforços para integrar as comunidades do entorno ao Parque Nacional do Iguaçu (PNI) não serão interrompidos. Apesar da invasão da área que abriga a antiga via conhecida como Estrada do Colono, as visitas e reuniões junto às lideranças e proprietários de terras da região devem seguir.

“Vamos continuar com a agenda construtivista em relação às comunidades do entorno”, disse. “Queremos manter o diálogo que beneficia as comunidades através do desenvolvimento sustentado. Vamos prosseguir a agenda com projetos como o da Escola Parque, que oferece educação ambiental às escolas da região; o de agricultura orgânica, e o de ecoturismo, com a abertura de novas trilhas e pistas de caminhada, entre outros.”

Barros afirmou também que nos últimos meses a direção do Parque Nacional vem estudando junto com as comunidades uma série de parcerias e alternativas capazes de promover o desenvolvimento economicamente sustentável na região. Ele ressaltou ainda que o Ibama vai retomar o diálogo com a comunidade do entorno, ressaltando que não se chegou a ter um rompimento.

O presidente citou a visita de crianças de escolas públicas de Serranópolis do Iguaçu, na Escola Parque, anteontem, como um dos fatores positivos da integração. Somente neste ano cerca de 10 mil estudantes do ensino médio e fundamental foram capacitados na estrutura, que fica dentro da unidade de conservação.

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