Funcionários do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) de todo o Brasil deram início ontem a uma greve de advertência de 72 horas, com o objetivo de reivindicar melhores condições de trabalho. Além do Paraná, outros 18 estados aderiram: Espírito Santo, Minas Gerais, Pará, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Sul, Sergipe, Bahia, Mato Grosso do Sul, Maranhão, Paraíba, Alagoas, Amazonas, Rio Grande do Norte, São Paulo, Santa Catarina, Ceará, Goiás e o Distrito Federal.
Em Curitiba, no início da manhã, servidores realizaram um ato público em frente à agência do INSS localizada na esquina entre as ruas XV de Novembro e João Negrão. De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores em Saúde, Previdência, Ação Social e Trabalho do Estado do Paraná (Sindiprevs-PR), somente as perícias médicas que já estavam agendadas foram atendidas em todo o Estado.
Segundo o diretor do sindicato, Nelson Malinowski, a paralisação pretende mostrar a indignação com o descaso do governo federal em relação às reivindicações contidas no acordo de greve da categoria do ano de 2005. ?No decorrer do governo Lula, os funcionários da Previdência fizeram greve e entraram em acordos com o governo. Porém, os mesmos não foram cumpridos?, afirmou. Nos últimos três anos, justifica, os servidores acumulam uma defasagem salarial de 40% e esperam que, ainda este ano, lhes seja apresentada alguma proposta de reposição de perdas.
A categoria também aguarda a realização de concurso público para contratação de mais trabalhadores, o que diminuiria a sobrecarga de trabalho dos funcionários já existentes e proporcionaria melhor atendimento à comunidade, reduzindo as filas. ?Os trabalhadores do INSS tiveram sua carga horária aumentada (das 8h às 14h para das 8h às 18h). Isso quer dizer que o volume interno de trabalho aumentou, mas não foram contratadas novas pessoas para realizá-lo. Só no Paraná é necessária a contratação imediata de, no mínimo, mais 500 funcionários.? Atualmente, o Estado tem 1.700 servidores do INSS, dos quais 600 atuam na gerência de Curitiba.
Até amanhã, devem ser realizados nas agências do INSS de todo Paraná apenas serviços emergenciais e perícias já agendadas. De acordo com o Sindiprevs, se mantêm em atividade fiscais, médicos-peritos e integrantes das chefias dos postos de atendimento. O sindicato informa também que o fechamento ou funcionamento parcial das agências deve ser mantido. Na sexta-feira, promete o diretor do Sindiprevs, o atendimento volta ao normal em todo o Paraná.
Segurados
A paralisação aborreceu os segurados que ontem compareceram aos postos do INSS de Curitiba. Na agência onde aconteceu o ato público, a cozinheira Maria Astrogilda Ribeiro estava chateada por ter gastado dinheiro com ônibus até o centro da cidade e não ter sido atendida. ?Vou fazer uma cirurgia na sexta-feira e preciso entregar uma documentação ao INSS. Como os funcionários estão em greve e no dia de reabertura das agências eu estarei no hospital, vou ter que arranjar uma pessoa para entregar os documentos no meu lugar?, disse.
Já o aposentado José Gomes se mostrava bastante revoltado. Para dar entrada em benefícios que devem ser concedidos à sua esposa, ele saiu de casa às 5 horas da manhã. ?Quando não tem greve, ser atendido no INSS já é bastante complicado. Com a paralisação, fica impossível. Isso é um desrespeito ao cidadão, que se sente de mãos atadas.?
Sindiprevs-PR entrega reivindicações
O diretor do Sindiprevs-PR, Nelson Malinowski, levou as reivindicações da categoria ao procurador da República no Estado, Sérgio Cruz Arenhart, em audiência realizada ontem, em Curitiba. O objetivo do encontro era sensibilizar a Procuradoria quanto aos pleitos e reivindicações dos servidores para que o Ministério Público intervenha na situação.
?Levamos para ele (o procurador) nossa preocupação com a falta de funcionários, necessidade de concurso público e da melhoria dos equipamentos de informática para evitar quedas no sistema. Também demos inúmeras informações para que o MP possa nos ajudar a acabar com as filas?, citou Malinowski. O sindicalista disse que o procurador demonstrou compreender o posicionamento do sindicato. ?A Procuradoria da República é a primeira interessada em beneficiar o atendimento ao público?, alega.
Quanto à possibilidade de greve por tempo indeterminado, a posição da representação paranaense do sindicato é a mesma da liderança nacional. Ontem, o diretor da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Seguridade Social, Pedro Luís Totti, deixou claro que ?as coisas precisam começar a acontecer, senão não teremos outra alternativa?.
Segundo ele, como a paralisação termina na sexta-feira, as agências do INSS estão com as portas totalmente fechadas em todo o Brasil. Nem mesmo os serviços mínimos, como perícia médica, estariam funcionando. ?São três dias, então, não fizemos essa discussão de manter os 30% (de atendimento, como determina a legislação).? Já no Paraná, a representação estadual do sindicato garante que os atendimentos estariam respeitando a prerrogativa dos 30%.
O Sindiprevs adianta que o levantamento sobre o índice de participação dos funcionários ainda está sendo feito e que, no próximo sábado, a coordenação do movimento deve se reunir para avaliar os resultados da paralisação.
De surpresa
O ministro da Previdência Social, Nelson Machado, classificou de ?inadmissível? a greve dos servidores do INSS. De acordo com o ministro, a Previdência não recebeu qualquer comunicado dos sindicatos. ?Eles não fizeram pauta de reivindicações?, reclamou, salientando, ainda, que ?o governo está cumprindo integralmente a sua parte do acordo firmado no ano passado?. De acordo com Machado, a Previdência cortará e descontará o ponto de cada servidor que faltar ao trabalho. (LM e agências)