?Pergunte para qualquer um que more aqui nas praias. Garanto que dez em dez pessoas que você ouvir vão dizer que o principal problema do litoral é a falta de segurança.? A declaração é de Raimundo Peixoto, presidente da Associação de Moradores e Proprietários de Imóveis dos Balneários de Santa Terezinha e Itapuã (Amosi), em Pontal do Paraná. E o aposentado sabe do que está falando. Teve sua residência assaltada três vezes no período de 20 dias no mês de agosto.
Aliás, ser vítima de furtos e assaltos é uma experiência diária para muitos moradores dos municípios da região. Quando não foi algum deles, certamente aconteceu com algum vizinho ou conhecido. Segundo a Delegacia de Polícia Civil de Pontal do Paraná, são registrados, somente no município, cerca de 100 ocorrências todos os meses, uma média de 3,3 por dia. Talvez por isso a frase ?o que falta aqui é segurança? foi repetida por todos os entrevistados como um mantra que antevê a possibilidade de o problema piorar.
Aliocha Maurício/O Estado |
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?Garanto que dez em dez pessoas que você ouvir vão dizer que o principal problema do litoral é a falta de segurança.? Raimundo Peixoto, presidente da Amosi. |
E para entender como a situação pode piorar, basta recorrer à juíza Sueli da Silva Neves, da Vara Criminal e Anexos de Matinhos. ?A grande maioria das ocorrências policiais no litoral ainda é composta por pequenos furtos e roubos. São jovens desempregados ligados de alguma forma ao consumo de tóxicos, que fazem isso para sustentar o vício. O problema é que todos sabemos o que acontece quando o tráfico de drogas começa a dominar alguma região?, alerta a magistrada, que reclama da falta de estrutura de seu tribunal para dar andamento a diversos processos, o que aumenta ainda mais a revolta da população local.
Essa falta de estrutura, que também afeta o aparato policial dos municípios litorâneos, ecoa nos depoimentos da população. ?Falta policial e viatura, é claro. Mas todos sabem quem são as pessoas que estão roubando. A PM vai até lá, às vezes até prende e no outro dia eles estão de volta na rua. Estamos pedindo socorro e ninguém parece ouvir?, reclama José Marcílio de Azevedo, vice-presidente da Amosi. Ele concorda que o que mais motiva a criminalidade na região é o tráfico de drogas. ?Há uns dois anos começou a aparecer o crack por aqui. Aí as coisas pioraram.?
Até mesmo o novo delegado de Pontal do Paraná, Iberê Toniolo, que assumiu o cargo no mês passado como promessa de solução, admite que pouco pode fazer. ?São 33 quilômetros de orla, 48 balneários, 34 mil imóveis. Tudo para um delegado. Tenho oito investigadores e mais ou menos 23 presos na cadeia de Pontal para tomar conta. É difícil solucionar qualquer coisa desse jeito?, desabafa. Vale lembrar que o município nunca teve ninguém no cargo de delegado desde sua emancipação, há nove anos.
Problema não acontece só nas casas dos veranistas
Fábio Alexandre/O Estado |
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?Tenho oito investigadores e mais ou menos 23 presos na cadeia de Pontal para tomar conta. É difícil solucionar qualquer coisa desse jeito.? Iberê Toniolo, delegado de Pontal do Paraná. |
Até pouco tempo, as invasões eram quase que totalmente restritas às casas de pessoas de outras cidades, que ficavam trancadas o ano todo, esperando para serem utilizadas na temporada. Agora os comerciantes e moradores, não raro, se deparam com os ladrões dentro das residências quando eles estão lá. ?Dia desses entraram em casa. Eu estava vendo TV no andar de baixo e quando me dei conta, tinha gente no andar de cima?, relata o sargento da PM aposentado Geraldino Itamar Pich, que dirige uma lanchonete em Pontal.
Em Guaratuba, o presidente da Associação Comercial e Empresarial da cidade, Maurício Lense, diz que as notícias negativas sobre a falta de segurança já chegaram até a capital. ?Muita gente que tem residência por aqui já nem vem mais na temporada. E o receio é que esse quadro piore?, diz. Rubinho Ferreira, antigo morador da cidade, aumenta o coro. ?Por aqui roubam de tudo. Bujão de gás, TV, roupa. Falta estrutura policial. O pouco efetivo que temos fica o tempo todo tentando evitar os arrombamentos.?
Nelson Cotovicz é presidente da Associação Comercial e Industrial de Matinhos. Ele diz que nos balneários do município são freqüentes assaltos a mão armada, invasões a residências e comércio. ?O Conselho de Segurança já vem discutindo isso desde o ano passado. O próximo passo será pedir ajuda diretamente à Secretaria de Estado da Segurança. Tentar resolver por aqui não dá mais.?
Fábio Alexandre/O Estado |
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?São jovens desempregados ligados de alguma forma ao consumo de tóxicos, que fazem isso para sustentar o vício.? Sueli da Silva Neves, juíza da Vara Criminal e Anexos de Matinhos. |
Um ponto unânime entre os entrevistados é que, durante a temporada, a situação melhora bastante. ?Junto com os turistas, ganhamos operações especiais da polícia e aumento proporcional de contingente. Com isso a criminalidade que enfrentamos durante o ano quase desaparece?, diz o presidente da Associação Comercial de Guaratuba. ?É esse tipo de segurança que precisamos por aqui o ano todo?.
Além da falta de efetivo e de viaturas, os motivos apontados para o quadro de insegurança passam por falta de emprego, crescimento desordenado da população e falta de infra-estrutura (pontos que serão abordados nas próximas reportagens da série). ?Falta iluminação pública e os ladrões aproveitam os terrenos baldios – que não recebem manutenção adequada – para jogar o produto dos roubos para pegar mais tarde?, conta Raimundo Peixoto. ?Confesso que muitas vezes dá vontade de vender tudo e ir para outro lugar.?
