Mais 18 índios do Paraná, das etnias caingangue e guarani, vão ter a oportunidade este ano de iniciar um curso de ensino superior e conquistar o diploma. Eles foram aprovados no III Vestibular dos Povos Indígenas do Paraná, cujo resultado foi divulgado na última terça-feira. Ao todo, 66 se inscreveram para o concurso, realizado de forma unificada na Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), mas apenas 55 compareceram ao local da prova.

Entre os cursos escolhidos, destaque para Medicina, Odontologia, Comunicação Social e Ciência da Computação. Mas foi Pedagogia o mais procurado, segundo o assessor de assuntos indígenas do governo do Paraná, Edívio Batistelli. “A razão da grande procura está na própria cultura indígena. O primeiro passo para a sobrevivência da língua indígena foi dado com os cursos bilíngues nas escolas do Paraná”, observa.

Na Reserva do Rio das Cobras, em Nova Laranjeiras – região Centro-Oeste -, onze índios prestaram o vestibular e quatro foram aprovados. Entre eles, Ilda Cornélio, 33, aprovada no curso de Serviço Social na Universidade Estadual do Centro-Oeste. “Escolhi esse curso com o objetivo de ajudar o povo. Pelo que vejo, as pessoas precisam muito de assistência social”, diz. Casada e mãe de três filhos, Ilda conta que deve se mudar para Guarapuava, para cursar a faculdade. “Leva cerca de duas horas e meia para chegar lá. É muito tempo”, diz. Ilda conta que pretende trabalhar para ajudar nas despesas e depois de formada, deve voltar à reserva. Ela e os demais aprovados vão receber bolsa-auxílio de R$ 270,00 do governo do Estado.

Já a índia Fabieli Wollinger Fernandes, 19, também do Rio das Cobras, optou por Medicina. “Estudei muito e fui com a certeza de ser aprovada”, conta. Segundo ela, a escolha por Medicina é para ajudar a comunidade em que vive. “Vêm sempre médicos de fora, e eles só ficam nos consultórios. Eu quero fazer Medicina para descobrir de onde vêm as doenças”, diz. Sobre a questão financeira, Fabieli afirma que vai contar com a ajuda da Funai e do marido, que é professor. Depois de formada, pretende se especializar em Ginecologia ou Pediatria.

Surgimento

O Vestibular dos Povos Indígenas nas universidades estaduais do Paraná foi instituído em 2001, pela lei 13.134. O primeiro vestibular, no entanto, aconteceu no início de 2002, com a abertura de 15 vagas. Em 2003, o número de vagas passou para 18, sendo três por instituição de ensino. Também em 2003 o governo do Estado criou uma bolsa-auxílio no valor de R$ 250,00. Este ano, o número de vagas é o mesmo, mas o valor da bolsa-auxílio passou para R$ 270,00.

Na opinião de Edívio Batistelli, o número de candidatos, em 2005, deverá crescer bastante. “É possível que chegue a 150, com uma média de 10 candidatos por vaga”, estima. “A presença indígena na universidade paranaense ainda é uma novidade”, completa o assessor. Em todo o Paraná vivem cerca de 12 mil índios, a maioria caingangues (aproximadamente 9 mil) e guaranis (cerca de 2,5 mil).

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