A busca por melhores condições de vida trouxe pelo menos uma centena de índios para Curitiba. Eles também sofrem com as exigências do mercado de trabalho, aqueles que se qualificaram tem uma boa colocação, mas outra parcela vive de subempregos. Há ainda quem consegue viver do artesanato, tradição herdada da tribo.
Romancil Kretã vive em Curitiba há 11 anos. Conta que a falta de perspectiva na aldeia Caingangue, em Mangueirinha, centro-sul do Estado, fez ele deixar a tribo. “A gente estudava e depois tinha que ficar trabalhando na agricultura”, fala. Em Curitiba, começou a trabalhar com a instalação de painéis eletrônicos e hoje está abrindo a própria empresa. “Penso em contratar mais índios para trabalhar comigo”, fala. Hoje mora numa casa alugada no bairro Pilarzinho e tem dois filhos. “Não existe nada que faça a gente voltar. Nosso lugar agora é aqui”, comenta.
Alcino de Ameida, 46 anos, mora há 14 numa área de invasão com mais sete famílias índias em São José dos Pinhais. Ele vive do artesanato e consegue tirar cerca de R$ 350,00 por mês vendendo os produtos na Boca Maldita, em Curitiba. Às vezes viaja para outras cidades. As outras seis famílias estão na mesma atividade. Alcino não ganha muito, mas afirma que vive com mais conforto do que na tribo onde morava, também na região de Magueirinha.
Capacitação e resgate cultural
Há vários casos de índios bem sucedidos, proprietários de estabelecimentos comerciais, professores e estudantes no curso superior em Curitiba. No entanto, Romancil fala que existem muitos índios que estão passando por dificuldades, atuando em atividades que não exigem qualificação e que tem baixa remuneração. Para ajudar quem está nessa situação, eles criaram na semana passada a Organização Resgate Crítico da Cultura Indígena de Curitiba e Região Metropolitana (ORCCIP-Curim).
Eles pretendem qualificar quem precisa, lutar pelos mesmos direitos que os índios têm quando estão nas aldeias, e ainda promover um resgate da cultura. “Mesmo morando na cidade, não deixamos de ser índios, podemos viver dentro da nossa cultura”, argumenta. O cadastro para saber quantos são, onde estão e o que faz cada um já começou a ser elaborado. Já são 24 famílias na lista e Romancil estima que pelo menos 150 índios morem na capital.
O assessor de assuntos indígenas do governo do Estado, Edívio Batistelli, comenta que não existe um choque cultural quando os índios chegam aqui. Nas aldeias do Paraná, eles já tem contato com não índios e acabam conhecendo a organização das cidades. Ao todo, são 12 mil pessoas morando em 23 aldeias no Estado. 17 áreas estão demarcadas e seis estão em processo. Outros índios que querem entrar em contato com a ORCCIP-Curim podem ligar para (41) 235-4121 ou 338-4476.