Manter as tradições da cultura indígena no Paraná está cada vez mais difícil. Um grupo de índios caingangues, guaranis e xetâs que está há cinco meses na antiga Estação Ecológica do Cambuí, próximo ao Rio Iguaçu, em São José dos Pinhais, é exemplo disso. São 104 pessoas de um grupo de 350 índios que viviam numa área em Piraquara, perto da BR-277, e tiveram que sair de lá porque a Faculdades Espírita, dona do local, conseguiu judicialmente a reintegração de posse. Os demais índios continuam espalhados por toda a cidade.
Os índios aproveitaram que a estação, que pertence à Prefeitura de Curitiba, estava abandonada há quase uma década e ocuparam o local. “Estamos aqui vivendo como podemos. O que nós queremos é uma área para ficarmos. Pode ser aqui ou em outro lugar, mas precisamos ter nossa terra para poder continuar mantendo nossa cultura”, revelou o cacique Carlos Kanheer dos Santos.
No último século, a cultura indígena no Brasil foi se dissipando aos poucos. Hoje, em qualquer reserva indígena é difícil encontrar índios que ainda andam sem roupa e vivem da caça e da pesca. “Nós vivemos do artesanato que fazemos e vendemos”, contou o vice-cacique Alcilo de Almeida.
Ele destacou que o índio tem muitas dificuldades para se adaptar às regras impostas pelo homem branco. “Arrumar emprego, por exemplo, é muito difícil. Sofremos muito preconceito. Eu mesmo trabalhei um ano como motorista de ônibus em Blumenau. No final do ano, meu sogro foi me visitar e os donos da empresa descobriram que ele não falava português por ser índio. Passados alguns dias, simplesmente me demitiram, sem explicação, só por ser índio”, lembrou.
Para os indígenas é complicado viver na sociedade branca. “Eles nos rejeitam quando tentamos seguir seus costumes e, ao mesmo tempo, somos obrigados a perder a nossa cultura??, revelou Almeida. Ele lembrou que já sofreu preconceito por possuir um telefone celular. “Uma pessoa ligada à Secretaria da Educação falava na minha cara que eu era um índio fajuto, pois uso celular”, reclamou.
Mesmo assim, os índios mantêm tradições de seus antepassados, como cozinhar no fogo e fazer o bolo emim, que é de milho e cozido no meio das cinzas. “Temos arco e flecha, mas aqui não há o que caçar. Mesmo assim ensinamos a todas as crianças a utilizá-lo”, contou o cacique.
Não há preconceito entre os índios. Um homem ou uma mulher que não são índios podem casar com índios. “Mas se vierem morar aqui têm que seguir a nossa cultura e as nossas normas. Somos totalmente contra o álcool e as drogas, por exemplo”, explicou Almeida.