Índios caingangues, guaranis e xetás ocuparam ontem a sede da coordenação regional da Fundação Nacional de Saúde Indígena (Funasa), no centro de Curitiba.
A comunidade indígena reivindica a recontratação do serviço responsável pelo transporte dos doentes e pelas equipes multidisciplinares de saúde nas aldeias, suspenso desde 23 de maio por falta de recursos.
Até o início da noite de ontem, o grupo aguardava um posicionamento da presidência da Funasa, em Brasília, sobre a questão.
Das 5h às 12h30, cerca de 60 índios ocuparam a portaria do prédio, onde também funciona um setor da Agência Nacional da Vigilância Sanitária (Anvisa) e do Ministério da Saúde.
Após reunião com o coordenador regional da Funasa, Vinícius Reali Paraná, os índios concordaram em liberar a entrada e se concentraram no oitavo andar do prédio, onde fica a coordenação da Funasa.
De acordo com a coordenação regional da entidade, o contrato com a empresa terceirizada acabou e não foi feita a revalidação porque a presidência da Funasa não repassou a verba para o serviço. São necessários R$ 328 mil, 128 motoristas e 35 veículos para atender as 42 aldeias do Estado do Paraná.
?Estamos de mãos atadas, porque a coordenação não tem autonomia financeira para negociar, apenas intermediar os pedidos dos índios com a presidência da Funasa?, afirmou o coordenador da Funasa. Paraná classificou a ocupação de ontem como pacífica.
Foto: Daniel Derevecki |
Movimento na sede da instituição foi reduzido por causa da ocupação. |
Agora, os índios exigem a presença de um representante da presidência da Funasa em Curitiba para debater a questão.
?Devemos continuar aqui até recebermos uma resposta de Brasília, já que não sabemos se foi um motivo político que interrompeu o serviço terceirizado ou se foi outro fator?, disse o índio caigangue Cretan, coordenador da Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul (Arpin-Sul).
Com o serviço interrompido, as dificuldades nas aldeias aumentaram, segundo Cretan. ?Não tem como levar um índio doente para tratamento nas cidades e os remédios têm sido comprados pela própria comunidade?, contou.
O índio também defende o fim da terceirização do serviço de transportes e o comprometimento direto do governo federal com a questão. Sem definição, até o fechamento desta edição, os índios continuavam no prédio da Funasa.
Até a última sexta-feira, os índios reivindicavam a ida de dez integrantes das tribos para ir à Brasília discutir o problema do transporte, mas a Funasa autorizou a ida de no máximo cinco índios, o que não foi aceito pelas lideranças.
Essa foi a segunda ocupação dos índios na Funasa de Curitiba nas últimas semanas. No fim de maio, os indígenas só desocuparam a Funasa depois de conseguirem a liberação de R$ 800 mil para o atendimento à saúde dos índios no Paraná, dinheiro que há quatro meses não era repassado às aldeias.
Bloqueio isola o oeste
Em apoio ao protesto dos indígenas em Curitiba, cerca de 500 índios da aldeia de Rio das Cobras bloquearam ontem a BR-277, no quilômetro 476, que fica no município de Nova Laranjeiras, região centro-sul do Paraná.
A rota é a principal ligação entre Curitiba e o oeste do Estado. Na rodovia desde as 9h40, os índios pretendiam permanecer no local até que o impasse em Curitiba fosse resolvido. Até o início da noite, eles continuavam na rodovia.
Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), os índios estavam com pedras e pedaços de madeira. No início da manhã, a informação era que o grupo pretendia fechar a rodovia por uma hora e liberar o trânsito por 30 minutos, permanecendo nesse ritmo durante todo o dia.
Mas os índios mudaram de idéia e fecharam ininterruptamente a via.
A fila de carros provocada pelo bloqueio chegou a sete quilômetros nos dois sentidos da rodovia, mas no fim da tarde o movimento estava tranqüilo, de acordo com informações do posto policial.
As praças de pedágio próximas à região onde o protesto estava sendo realizado alertavam os motoristas do bloqueio e orientavam sobre possíveis desvios. Outros motoristas preferiram esperar pela liberação em postos policiais próximos ao local.
A PRF orienta que os motoristas que forem se deslocar de Curitiba a Foz do Iguaçu façam o desvio à esquerda no quilômetro 398 da BR-277, em Três Pinheiros, e sigam pela BR-373, em direção a Candói. O acréscimo na distância é próximo de 180 quilômetros, segundo a PRF.
Em Brasília
No próximo dia 19, várias lideranças indígenas vão aproveitar a reunião do Conselho Nacional de Políticas Indígenas, em Brasília, para pedir ao presidente Lula para discutir o direcionamento da presidência da Funasa e o possível afastamento do atual presidente. Os índios acusam a instituição de favorecer o Estado do Ceará nos últimos repasses de recursos.