Indígenas ganham aldeia urbana

Trinta e cinco famílias indígenas – remanescentes das tribos caingangue, guarani e xetá – que vivem em Curitiba iniciam o ano de 2009 com vida nova. Há poucos dias, elas foram transferidas da reserva Cambuí, localizada em uma área próxima ao Parque Iguaçu, para a comunidade Kakané Porá, primeira aldeia urbana do Sul do Brasil, no bairro Campo de Santana (existem outras aldeias urbanas em São Paulo, Manaus e Campo Grande). No local, disponibilizado pela prefeitura, os moradores contam com maior infraestrutura e começam a se adaptar à nova realidade.

Dentro da aldeia, construída na Rua Bruno de Almeida e disposta ao redor de uma área onde futuramente será construída uma praça, cada família tem sua casa de material e conta com privacidade. Na reserva Cambuí, dividiam um mesmo espaço e tinham pouca liberdade. “Na reserva, havia três banheiros que eram utilizados por todos. Aqui (na aldeia), cada família tem o seu. Além disso, sofremos menos em função de pernilongos e nos sentimos mais seguros, pois a área onde vivemos é protegida por cercas e muros. As crianças têm mais tranquilidade para brincar”, diz o músico Jony Vieira, que é caingangue e vive com a esposa e a filha de 9 anos.

Uma das grandes novidades na vida dos índios que vivem na aldeia urbana é a presença de chuveiro elétrico. Até alguns dias atrás, eles tomavam banho frio ou tinham que esquentar água para fazer a própria higiene. Agora, experimentam, muitos pela primeira vez, o prazer de tomar um banho quente. “Vai ser bom principalmente no inverno. Minha filha mais velha, de 6 anos, era a que mais sofria com a falta de chuveiro quente. Ela tinha que tomar banho pela manhã, antes de ir para a escola e quase morria de frio no inverno”, revela a dona de casa Cleuza Fernandes, que é da tribo guarani e vive com dois filhos e um irmão.

Para o futuro, os índios desejam que sejam construídos dentro da aldeia um posto de saúde, que lhes dê atendimento com exclusividade, e uma escola. Atualmente, escola e posto ficam a uma distância de cerca de dois quilômetros do local onde vivem. “Queremos a escola para que nossas tradições possam ser mantidas. O ideal é que haja uma professora que fale tanto o português quanto nossas línguas nativas. Assim, dando uma educação mais específica a nossos filhos, poderemos preservar melhor nossos costumes e nossa cultura. Além disso, as crianças ficarão mais seguras, pois não terão que sair da aldeia e se deslocar para ir à escola”, afirma a também dona de casa Jovina Renh-gá, que vive com três filhos e o marido, que trabalha como pedreiro.

Outra preocupação dos índios diz respeito à geração de renda. Atualmente, muitos vivem sem emprego. É o caso de Cleuza, que perdeu o marido há dois meses. “Meu esposo trabalhava como servente de pedreiro. Depois que ele morreu, eu, meus filhos e meu irmão passamos a viver apenas da fabricação de artesanato. Porém, é difícil conseguir penas, taquara e cipó para confeccionar as peças e mais complicado ainda vendê-las. Por isso, quero arrumar um emprego, mas não sei com o que trabalhar”, comenta. A idéia da maioria dos habitantes da aldeia é criar uma atividade dentro do próprio local que lhes garanta sustentabilidade.