Triste estatística

Imprudência ao volante mata mais no Brasil

O número de acidentes e mortos por quilômetro no Brasil supera em até dez vezes os registrados na Itália, Inglaterra e o Japão. Diariamente, acontecem pelo menos 723 acidentes nas rodovias pavimentadas brasileiras, provocando a morte de 35 pessoas por dia e deixando 417 feridas.

Apenas no feriado de Páscoa, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) do Paraná registrou 121 acidentes com sete mortes. A Polícia Rodoviária Estadual (PRE), por sua vez, registrou 218 acidentes com dez mortes.

Dentro da cidade a realidade não é diferente. Na capital, dados mais recentes do Batalhão de Polícia de Trânsito (BPTran) apontam que, entre janeiro e fevereiro, dez pessoas morreram em 55 acidentes de trânsito nos 33 pontos mais violentos.

“Estados Unidos, Canadá, Espanha e Portugal conviveram com o mesmo problema e desarmaram a violência no trânsito com a definição de regras claras, apoio à educação e, principalmente, fiscalização e punição rápida e justa do infrator. Isso criou condições para o desenvolvimento de novas tecnologias que possibilitaram alcançar a meta de morte zero nas rodovias daqueles países”, diz o presidente da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet) do Paraná, Jack Szymanski.

Mesmo com a implantação da Lei Seca, em novembro de 2008, as mortes no trânsito continuam acontecendo no Brasil. Mas qual seria a causa para tantos acidentes com vítimas fatais? Para o presidente da Abramet, grande parte da responsabilidade por essa perda de vidas se deve à imprudência.

“O excesso de velocidade, a ingestão de bebida, o aumento de carros nas estradas e as facilidades de financiamento na compra de veículos novos são fatores que contribuem para essas mortes”, avalia.

A produção de veículos mais rápidos e potentes também preocupa Szymanski. Para ele, nem sempre a tecnologia é utilizada como um método em favor da prevenção de acidentes.

“Na medida em que a indústria automobilística produz carros cada vez mais potentes, a imprudência dos motoristas também cresce, provocando uma porcentagem elevada de acidentes e do número de vítimas”, explica. Szymanski diz ainda que a maioria desses acidentes é causada por falha humana. “Isso evidencia uma mudança radical no comportamento desses motoristas.”

Quando questionado sobre as condições das estradas brasileiras, o especialista afirma que o estado de calamidade em que se encontram algumas rodovias impulsiona a quantidade de mortes que acontecem diariamente nas estradas brasileiras.

“Uma boa malha viária vai além de uma pista de qualidade. Depende de fiscalização, regulação e controle. Nos 85% dos acidentes que ocorrem em rodovias com pavimento considerado bom, os motoristas querem ganhar o tempo perdido nas estradas ruins, correndo mais nas boas”, diz.

No último feriado, a PRF submeteu 2,4 mil motoristas ao teste do bafômetro. Desses, 64 foram autuados, pagaram multa e perderam o direito de dirigir por um ano.

CNH: avaliação é questionada

Considerada como a principal causa nos acidentes, a imprudência ao volante não é tratada com o devido rigor nas avaliações para obter a Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Para especialistas, uma nova forma de avaliação deveria existir para preparar melhor os motoristas.

“Os mecanismos e parâmetros de avaliação do condutor de veículos devem ser mais rigorosos, não apenas na ciência psicológica, mas também na ciência médica, jurídica, assim como em todos os outros procedimentos de avaliação do candidato à CNH”, opina o presidente da Abramet no Paraná, Jack Szymanski.

Para Magali Hubie, vice-preside,nte do Sindicato dos Trabalhadores em Autoescolas, Centros de Formação de Condutores e dos Trabalhadores em Despachantes de Veículos do Estado do Paraná (Sintradesp), a autoconfiança do motorista recém- aprovado pelo Departamento de Transito (Detran) também é problema.

“O aluno que é aprovado no exame prático do Detran acha que já está dirigindo bem. No entanto, não é isso que acontece. Comparo a CNH como um esporte, é impossível qualquer atleta ser campeão com apenas algumas horas praticando o esporte”, relaciona.

Testes

Atualmente, para obter a CNH, o candidato é submetido aos exames de biometria e psicotécnico. Quando aprovado, passa para a outra etapa, onde são lecionadas 40 aulas teóricas e outras 20 aulas práticas, ambas com 50 minutos cada. Depois disso, há o teste prático.

“Esse método de avaliação deveria ser diferente, de forma contínua. O aluno pode até se sair bem nos dez minutos de exame, mas só o avaliador sabe realmente como o motorista está se saindo”, opina Hubie.

Curso para novos motoristas

Já que o curso de formação em autoescolas não está sendo suficiente para tornar um motorista responsável e consciente no trânsito, um curso aplicado pela seguradora Porto Seguro aos seus clientes pode ser um caminho para mudar o comportamento dos motoristas mais jovens.

De acordo com o diretor da empresa, Marcelo Sebastião, em nove anos de funcionamento, já foram orientados cerca de 21 mil assegurados com idade entre 18 e 24 anos.

“Ressaltamos a importância da direção responsável entre os participantes, orientando-os também sobre os procedimentos a serem adotados em várias situações”, explica.

O curso mescla teoria e prática. Na parte teórica, eles aprendem diversos conceitos relacionados à direção eficiente. Logo depois, os jovens vão até a pista do autódromo para praticar o que foi aprendido. Por enquanto, segundo Sebastião, o curso é ministrado apenas em São Paulo.

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