O destaque do segundo dia de audiências de instrução do caso da morte do jogador Daniel Corrêa Freitas, nesta terça-feira (02), foi a imprensa. Ou melhor, a declaração que um dos advogados deu à mídia e gerou bate boca entre os defensores no corredor do Fórum de São José dos Pinhais. A discussão foi parar até dentro da audiência, com a juíza e o promotor do Ministério Público manifestando-se sobre o assunto.
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Pela manhã, o advogado Nilton Ribeiro, assistente de acusação que atua em favor da família de Daniel, falou à imprensa que os réus “pareciam que estavam numa festa e só faltava a bebida”, referindo-se ao fato que os sete réus estariam bem descontraídos e dando risadas na audiência. O que gerou o desconforto entre os outros advogados de defesa dos réus é que a frase de Nilton foi parar no título de uma matéria, publicada num conhecido portal de notícias da capital.
No intervalo da tarde, advogados de acusação e defesa bateram boca no corredor por causa da matéria. Por isto, o assunto foi parar dentro da sala de audiências, com advogados informando à juíza do ocorrido. No entender deles, conforme disse o advogado Rodrigo Faucz, que defende os réus Igor King e David Vollero, Nilton teria dito isso apenas para tumultuar e tirar o foco do processo. Claudio Dalledone, que defende Edison, Cristiana e Allana Brittes, também rechaçou a declaração do advogado, afirmando que não era verdade.
O promotor do Ministério Público, Marco Aurélio São Leão, manifestou-se dizendo que a imprensa estava ali livremente fazendo o seu trabalho, sem nenhum cerceamento ao direito de divulgarem informações que consideram importantes. Dalledone pediu a palavra, reafirmando que a declaração de Nilton era inverídica. Nilton, por sua vez, ressaltou o que disse na entrevista, durante a manhã, e que gostaria de preservar a imagem de Daniel, visto que todos os dias ele recebe ligações da família do jogador, aos prantos, querendo saber do transcorrer do processo. E que ele considerou desrespeitosas as risadas dos réus e que Dalledone não teria visto porque estava de costas para os clientes.
Antes que houvesse bate boca, a juíza Luciani Regina Martins de Paula tomou a palavra e disse que cada um é responsável pelas informações que presta em juízo ou à imprensa. Disse também que considerava natural que alguém que passe o dia todo numa audiência esboce alguma reação, seja choro ou riso. “Acredito que o senhor teve a impressão errada (dos réus)”, disse a magistrada a Nilton.
Depois da “bronca”, Luciani disse que não queria colocar mais aquele assunto em pauta, visto que as oitivas estavam exigindo muito de todos os presentes, tomados pelo cansaço, e ela gostaria de chegar ao fim das audiências o mais brevemente possível. Depois disto, as oitivas voltaram a transcorrer normalmente.
A família Corrêa se manifestou por nota, agradecendo o papel que Ribeiro tem desempenhado na assistência de acusação e como repudiou o que foi classificado como ‘conduta desonrosa’ dos réus. “Dr. Nilton alia o lado humano ao profissional ao lamentar profundamente a atitude de pessoas que, além de deliberada e cruelmente tirarem a vida de um inocente, ainda procedam de maneira fria diante da dor dos familiares bem como de todas as autoridades ali presentes”.
Não houve sofrimento
Foram ouvidas 11 testemunhas nesta terça-feira (02), o que soma um total de 36 depoimentos nestes dois dias de audiências. Entre as testemunhas ouvidas estavam um perito e um médico-legista, contratados pela defesa de Eduardo Henrique. Nenhum deles atuou diretamente no crime e foram chamados para ajudarem na interpretação dos laudos do homicídio.
O médico-legista Carlos Beltrami ressaltou que, do ponto de vista da medicina legal, não houve sofrimento por parte de Daniel. Isto porque, quando o jogador levou a facada no pescoço, teve morte instantânea. E quando teve o pênis decepado, Daniel já estava morto. “Na literatura forense, entendemos que há meio cruel quando o agressor quer ver na vítima sofrimento e dor. E neste caso, com morte instantânea, isso não ocorreu”, explicou o médico-legista aposentado. Quanto às agressões que Daniel sofreu antes de morrer, o médico-legista disse que não lhe cabia esta análise, pois sua função era apenas interpretar o laudo de necropsia. O ocorrido antes da morte era competência da perícia.
Também foram ouvidos um primo e duas amigas de Cristiana, além do pai dela, que fez o casal Brittes chorar ao descrever os cuidados psicológicos que a filha mais nova do casal, com 12 anos, estava precisando por causa de tudo aquilo. Um gerente de banco onde Allana trabalhou também prestou depoimento. Já a primeira testemunha do dia foi sigilosa e a imprensa não teve acesso à oitiva.
O que está por vir
Para esta quarta-feira (03), há a previsão de que pelo menos mais cinco pessoas sejam ouvidas. No entanto, devem ser depoimentos mais demorados. Entre eles, estão os testemunhos das mães de três réus: Edison e Cristiana Brittes, além de Eduardo Henrique da Silva.
Também deve ser ouvido o apresentador de televisão Eleandro Passaia que, na época das investigações, falou ao vivo informações sobre supostas preferências sexuais do casal Brittes. A oitiva do jornalista deve ser a primeira da manhã, com previsão de início às 9h e previsão de duração de no mínimo duas horas.