Impaciência no trânsito pode se transformar em problema

Um motorista tentando estacionar no centro da cidade e uma fila de carros "grudados" atrás, buzinando e impedindo a manobra. Ou ainda alguém tentando sair de um estacionamento, esperando longos minutos, totalmente desprezado pelos demais condutores que se negam a perder trinta segundos e ceder passagem para o outro.

As duas situações acima ilustram a realidade do trânsito de Curitiba e, todo mundo, se já não foi vítima desta falta de cordialidade, já foi descortês no trânsito, mesmo que inconscientemente. Na cidade brasileira onde há a maior relação de veículos por habitantes do país – para cada duas pessoas que vivem na cidade há um carro – é necessário melhorar as relações no trânsito.

De acordo com dados do Departamento de Trânsito (Detran), no primeiro semestre deste ano foram registrados em Curitiba 8.990 acidentes de trânsito. Numericamente, houve uma queda de 32% em relação ao mesmo período do ano passado. Mas as estatísticas mostram que, apesar da queda na quantidade, esta falta de educação tem gerado acidentes mais graves. No primeiro semestre deste ano, 50 pessoas morreram vítimas de acidentes nas ruas de Curitiba, um aumento de 19% em relação ao mesmo período do ano passado.

O motorista de táxi Claudemiro Coval enfrenta diariamente dificuldades como as citadas anteriormente, mas precisa manter a paciência para poder trabalhar. O ponto de táxi em que trabalha é na Avenida Marechal Floriano Peixoto esquina com a XV de Novembro, bem no centro de Curitiba. "Se você ficar cinco minutos aqui, vai ver que até para sair do ponto é difícil. Ninguém dá passagem", conta.

Coval classifica o motorista curitibano como egoísta. "Eles pensam só neles. Fora daqui o trânsito não é assim."

Quem estuda o problema sabe explicar o porquê deste egoísmo. A psicóloga Neuza Corassa, diretora do Centro de Psicologia Especializado em Medos, há anos pesquisa o assunto e, para ela, aquilo que chama de falta de gentileza no trânsito é causada por uma questão não consciente de disputa de espaço. "A pessoa vê o outro como um inimigo", afirma.

Durante um ano, Neuza estudou os hábitos dos motoristas curitibanos e constatou que eles saem de casa, entram no veículo e não se dão conta que saíram do espaço privado para o coletivo. "O carro é usado como extensão da casa e o fato de esbarrar no carro do outro é como se ameaçasse a segurança da própria pessoa", define. É como se a rua fosse só dele. E com todo mundo pensando assim, não há espaço para compreensão e gentilezas.

As pessoas se comportam no trânsito como se estivessem em casa. O objetivo é ocupar o espaço e pronto. Talvez analisando a questão por este aspecto, seja possível compreender porque é tão difícil conseguir passar de uma pista para a outra na rua ou ainda sair de uma vaga de garagem. São raros aqueles que dão espaço ou permitem que o outro manobre o carro.

Para Neuza, o curitibano não leva o trânsito muito a sério. Na cabeça dele, tudo se resolve rapidinho, quase que instantaneamente é possível chegar onde se deseja. "Falta consciência de trânsito", afirma Neuza.

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