A delicada situação em que se encontra o Instituto Médico-Legal de Curitiba parece se agravar a cada dia. Ontem, o que era previsto aconteceu. Como só há um motorista para atender todas as ocorrências em Curitiba e cidades vizinhas, um corpo teve que ser removido pela Polícia Rodoviária Federal, depois de permanecer mais de duas horas jogado no asfalto. O diretor do órgão, Hélio Galilleu Bonetto, não foi encontrado para dar entrevista, uma vez que estaria reunido com membros do governo, na tentativa de resolver o problema.
Por volta das 4h de ontem, Euzébio dos Santos, 75 anos, morreu no Hospital Cajuru, vítima de queimaduras, depois de permanecer três semanas internado. Até as 18h do mesmo dia, o corpo não havia sido levado ao IML, pelo fato de o único motorista ter sido acionado para fazer o transporte de outros seis corpos. O filho da vítima, Edson Luiz Santos, 50, permanecia no órgão, junto com os irmãos, desde o início da manhã à espera da chegada do corpo de seu pai. A família chegou a pedir uma autorização para retirar o cadáver do hospital, porém o pedido foi negado. "O IML nos disse que é crime a gente retirar o corpo do hospital, mas crime é fazer meu pai ficar jogado todo esse tempo lá", disse indignado.
Demora
A demora para o transporte do corpo de Euzébio aconteceu em virtude do acúmulo de trabalho do motorista do órgão. Às 8h, quando iniciou seu plantão, ele foi de imediato recolher o corpo de uma vítima de homicídio no Cajuru e outra de atropelamento, que estava no hospital, no mesmo bairro. Depois de deixar os corpos no necrotério, o funcionário teve que ir para a cidade da Lapa e, em seguida para Araucária, onde havia outros dois mortos em via pública, também vítimas de homicídio. Nesse período de tempo, ocorreu um acidente de trânsito na cidade de Mandirituba e o cadáver permaneceu no asfalto por mais de duas horas. Com a revolta da família, a Polícia Rodoviária Federal foi autorizada a levar o corpo ao hospital da cidade. Até as 18h, o camburão do IML não havia retornado com os cadáveres, uma vez que além da distância das ocorrências, é necessário que seja feita a perícia cientifica no local para que possa acontecer a remoção dos cadáveres. Enquanto isso, o corpo de Euzébio permaneceu no Hospital Evangélico e a família de uma outra vítima, morta na madrugada de ontem, também aguardou a remoção do corpo no Hospital do Trabalhador. "Se durante a tarde acontecesse um assassinato no centro da cidade, o cadáver ficaria horas no asfalto. Temos duas viaturas funcionando, mas de nada adiante se há um único motorista", afirmou o chefe de plantão, Joanito Freitas.
Governo
Em julho, o governador Roberto Requião não renovou o contrato com a terceirizada Tecnolimp Empresa e Conservação, responsável pelo pagamento de funcionários administrativos, dos motoristas e plantonistas do necrotério. Na última sexta-feira, Bonetto informou que o proprietário irá afastar os funcionários, caso não seja ressarcido e o contrato não seja renovado. Ontem, o governador deveria assinar o documento de renovação, porém nem o diretor do IML nem os assessores da Secretaria de Estado da Segurança Pública informaram qual foi a decisão tomada por Requião.