Quase sete meses após ?chorar? pela primeira vez, a imagem de Nossa Senhora de Aparecida não parou de verter água e os fiéis, cada vez mais e de mais longe, continuam visitando Maringá em busca de uma graça. O líquido que sai da imagem foi analisado pelo Laboratório de Águas e Alimentos da Universidade Estadual de Maringá (UEM). O resultado, disponibilizado no início de julho, apontou algumas anormalidades e poucas respostas.

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Segundo o laudo técnico, o líquido é ?de aspecto límpido, transparente e inodoro, com parâmetros compatíveis com os padrões para água potável?. Diz ainda que ?a amostra apresenta gosto salgado, evidenciado por altos teores de sais de sódio, potássio e cálcio?. O laudo aponta também a presença, acima do normal, de sílica (tipo de areia presente). Mesmo tendo padrões compatíveis com água potável, o líquido é impróprio para o consumo.

Quase ninguém quer assumir, mas algumas questões ainda incomodam por não terem respostas: de onde vem a água?; se a imagem é de gesso e vive molhada, porque ainda não derreteu, se já passou sete meses?; e se a sílica (areia) presente vem da imagem que pode estar se dissolvendo, porque a água é transparente e inodora?.

O químico responsável pela análise, que prefere não se identificar, admitiu não saber explicar a procedência da água. A única resposta que deu, recusando-se a se envolver, foi que ?o laboratório não foi designado a desvendar um mistério, mas sim para analisar a água, a pedido da dona da imagem?.

Fiéis

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No último final de semana, a casa, no Jardim Liberdade, à Rua Francisco Bulla, 300, estava lotada de visitantes e não eram somente maringaenses. ?Viemos de Osvaldo Cruz, São Paulo, em busca de cura. Faz 10 anos que faço tratamento de saúde por problemas de infecções constantes e nada. Vim pela fé?, afirma Maria Odete Vasconcelos Fernandes, de 55 anos. O londrinense Teófilo Fernandes, de 40 anos, sofreu um acidente de moto e hoje, com oito parafusos na perna e um no rosto, também foi procurar a santa. ?Vim buscar uma graça e vou ser curado?, afirma.

Administradora

As pessoas que chegam fazem fila para entrar, recebem orações da santa pelas mãos da dona da imagem, a zeladora Nilsa da Silva, e saem com garrafas cheias do líquido. Para receber todos os fiéis, a dona da casa disponibilizou dois cômodos só para montar o altar de Nossa Senhora. A entrada, assim como as orações e a garrafa de água não são pagas. ?Veio gente até dos Estados Unidos aqui. No domingo eu recebo até três mil pessoas. Para atender, mudei a rotina de casa e da vida inteira. Tem dia que vou cinco, seis vezes em uma UTI só?, conta Nilsa.

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A zeladora diz que ganhou a imagem, em janeiro, de um amigo do marido, que trouxe de Aparecida do Norte. Ela teria começado a ?chorar? em 19 de fevereiro, três dias depois de visitar uma criança, que estava em estado grave na UTI do Hospital Universitário. ?Foi no dia em que a mãe dele me ligou, dizendo que ele tinha saído do hospital?, conta Nilsa. A imagem já foi até roubada, em maio, mas, sem explicações, foi devolvida. Nilsa não sabe explicar o motivo, nem quando a ?imagem chora?, mas afirma: ?Minha consciência está limpa?.

Igreja

O porta-voz da Arquidiocese de Maringá e o único que comenta o assunto, é padre Orivaldo Robles. O Estado tentou entrar em contato com ele, mas em três dias não houve retorno. Porém, em artigo publicado em agosto, em um jornal de Maringá, o padre afirma que ?mais uma vez, o assunto é da esfera da ciência e não da religião?. E sobre a visita ao local, que não houve, ele completa que ?padres e bispos têm coisas bem mais sérias para ocupar o seu tempo?.