Fotos: Fábio Alexandre/O Estado |
Local é um dos principais cartões postais de todo o Estado, e recebe muitos visitantes na temporada. continua após a publicidade |
Um dos principais cartões-postais do Paraná, a Ilha do Mel, está sofrendo com a falta de investimentos públicos. A pouca infra-estrutura existente no local é mantida pela iniciativa privada e pelos comerciantes da ilha.
Os turistas reclamam que não existem banheiros e chuveiros públicos, e os terminais – trapiches – de acesso estão destruídos. E para completar, a taxa de embarque para a visitação da Ilha do Mel subiu para R$ 20, mas não há aplicação desses recursos no local.
Na opinião da grande maioria dos comerciantes a boa taxa de ocupação das pousadas nessa temporada se dá pelo trabalho de divulgação dos próprios empresários.
Quem garante é o presidente da Associação Comercial e de Turismo da Ilha do Mel e diretor da Agência de Desenvolvimento do Turismo do Litoral do Paraná, Carlos Gnata. ?Nos dois últimos anos estamos trabalhando para melhorar a capacitação e profissionalização dos comerciantes, o que reflete diretamente na qualidade dos serviços?, disse. Entre as ações, completou, ?estão cursos de inglês, espanhol e boas práticas para bares, restaurantes e pousadas?.
Muita reclamação de empresários e turistas
Trapiche está abandonado em uma das praias. Falta de investimento incomoda todos os comerciantes. |
Mas apesar de todos os esforços, os empresários da ilha garantem que esbarram em dificuldades provocadas pelos órgãos ambientais, principalmente o Instituto Ambiental do Paraná (IAP), que estaria agindo de maneira incoerente no local. A principal reclamação é a aplicação de multas, sem que sejam dadas alternativas. O dono da pousada Bob Pai Bob Filho, Joelson de Pilar Cruz, conta que foi notificado porque soltava a água da chuva, que corria por uma calha, na trilha de acesso. ?Eles me notificaram mas não disseram como devo fazer?, disse, reclamando que muitos estabelecimentos comerciais jogam o esgoto direto no mar, e para isso não há fiscalização. A divulgação de balneabilidade do litoral pelo IAP é um tiro no pé, afirma Carlos Gnata. ?Eles atestam que o mar está poluído, mas não apontam a solução?, falou.
Na semana passada, o pescador Laudolito das Neves Agostinho teve os documentos apre-endidos e foi intimado para prestar esclarecimentos à polícia por limpar peixes na beira da água. ?Sou pescador há mais de 30 anos e sempre fiz isso. Agora era só meia dúzia de peixes para comer?, reclamou. A pousada Zorro, em Encantadas, só teve a liberação para construir mais quartos depois que retirou o deck que ficava em frente ao estabelecimento. Apesar de cumprir a determinação, teve que esperar três meses pela autorização da obra. Carlos Gnata garantiu que as multas estão sendo dadas de forma arbitrária. ?Se um cachorro foge, eles multam. Se cortam galhos de árvore, eles multam?, reclamou.
Pendências
Ao contrário do que acontece em outros pontos do litoral do Paraná, a Ilha do Mel não conta com nenhuma atividade da Operação Viva Mais o Verão, do governo do Estado. A única pessoa identificada com a camiseta do programa foi vista em Encantadas, e era uma senhora de meia idade que logo que avistou a equipe de reportagem de O Estado foi questionar se a matéria seria ?a favor ou contra o governo??. A falta de divulgação da ilha também atrapalha o turismo, garante o proprietário da pousada Estrela do Mar, Gilberto Espinosa. Segundo ele, existem divergências entre o governo do Estado e a Ilha do Mel, mas isso só prejudica o local. ?99% dos moradores da ilha vivem do turismo?, ponderou Espinosa.
De acordo com o administrador regional da Prefeitura de Paranaguá em Encantadas, Antônio Carlos dos Santos, os investimentos que estão sendo feitos na ilha vêm da Prefeitura, mesmo ela não recebendo nenhum recurso para isso – do total de R$ 20 cobrados para o acesso à ilha, R$ 2 é para a taxa de visitação, R$ 1 é de taxa de embarque e R$ 1 para a Prefeitura de Pontal do Sul. Segundo Santos, a Prefeitura de Paranaguá fez a reforma do trapiche de acesso à Gruta de Encantadas, assumiu a coleta de lixo, colocou a guarda municipal para fazer a segurança e ampliou o número de médicos no posto de saúde.
Além de todos os problemas, os cerca de 1,3 mil moradores da ilha ainda esperam pela definição do plano de uso do local. O administrador regional conta que em 1987 foi elaborado um plano que contou com a participação da comunidade. Porém, esse plano nunca foi implantado, pois o atual governo resolveu fazer um novo documento. Outra pendência é a licença ambiental para a construção dos reservatórios de tratamento de água. De acordo com Carlos Gnata já existem verbas do governo federal para a obra, mas o Conselho do Litoral não dá retorno sobre o assunto há seis meses. ?Agora eles disseram que irão mandar o projeto para a Secretaria de Cultura, pois a ilha é tombada. Se demorar muito vamos perder a verba?, afirmou.
O mesmo aconteceu com as obras de reforma do trapiche. O presidente da associação disse que já foram apresentadas três propostas de empresas interessadas em fazer a recuperação, mas o IAP não aceitou nenhuma. Para alguns turistas, a visita à Ilha do Mel compensa pela beleza que o local proporciona, pois a falta de estrutura é evidente. Para o professor de Curitiba Flávio José Ivankio falta um pouco de tudo na ilha. ?Por ser um local turístico precisaria de banheiros e chuveiros públicos, pois a gente vem aqui, toma banho de mar e precisa voltar para casa. Só quem está em pousadas tem conforto?, falou.
IAP destaca investimentos
Andréa Bordinhão
Gruta de Encantadas é um dos locais preferidos dos visitantes. |
O Instituto Ambiental do Paraná (IAP) investe muito mais na Ilha do Mel do que o valor que arrecada com a taxa de visitação. A alegação é do chefe regional do instituto no litoral e coordenador da Ilha do Mel, Reginato Joaquim Grun Bueno. Além disso, Bueno garantiu que a fiscalização e aplicação de multas seguem leis e normas ambientais e que, se algum dia houve retaliação, deve ser denunciada.
?O principal investimento na ilha é em educação ambiental, através do treinamento dos moradores para melhoria de atendimento ao público e melhoria da qualidade de vida dos moradores?, afirmou. Bueno explicou ainda que 75% da arrecadação com a taxa de visitação – R$ 120 mil por ano – é aplicado na coleta de lixo.
Bueno argumentou que os postos de informações turísticas estão nas duas entradas da ilha e que o governo do Estado está gastando R$ 90 mil em janeiro e fevereiro para mantê-los. ?Fizemos também cursos de guias turísticos mirins, cadastramos e demos carteirinhas para todos os moradores, cadastramos todos os cães e gatos e vamos fazer a vacinação, desverminização e esterilização?, contou. Além das barracas de informações, Bueno afirmou que o trapiche de Brasília está sendo reformado e lá existem banheiros públicos. Segundo ele, os banheiros não foram colocados ainda em Encantadas por falta de espaço. ?Na praça de alimentação existe um comodato com moradores locais que, incentivados pelo IAP, formaram um condomínio, para as devidas reformas?, explicou. Já a reforma da passarela, esclareceu, foi uma oferta voluntária da Prefeitura.
Gestão
Segundo o chefe do IAP no litoral, o plano gestor para a Ilha do Mel está sendo produzido. ?E ele foi discutido com a comunidade e também discutido no Conselho Gestor. Existe uma preocupação do governo do Estado em que o plano de gestão seja amplamente difundido antes de ser implementando?, afirmou. Quanto à reclamação dos decks, Bueno lembrou apenas que o IAP já denunciou ao Ministério Público do Estado (MPE) 29 construções irregulares na Ilha.