Ilha do Mel cativa visitantes pela beleza e tranqüilidade

Diz a lenda que um pescador nativo da Ilha do Mel, há décadas passadas, recebeu a visita de uma sereia, que o encantou de tal maneira que acabou virando o nome de uma das principais praias da porção de terra cercada por água salgada, pertencente ao município de Paranaguá: Encantadas.

O nome dado à praia neste lado da ilha, cabe como uma luva para definir todo esse território, da qual 97% da área total é preservada, e rigorosamente fiscalizada pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP). As belezas naturais da ilha, somado ao clima rústico e tranqüilo, tornou o local o terceiro mais visitado do Paraná – só perde para Foz do Iguaçu e Curitiba. Este ano, já passaram pela ilha 391.400 visitantes e a expectativa é de que ultrapasse a casa dos 400 mil.

No ano passado, a temporada acabou prejudicada pelo reflexo negativo do acidente com o navio Vicuña, que explodiu no dia 15 de novembro no Porto de Paranaguá, espalhando substâncias que poluíram a água. ?Na verdade, o IAP agiu rapidamente e contornou o problema. Porém foi feito todo um estardalhaço em cima do acidente e nenhuma propaganda positiva depois?, diz o dono do Hotel Zorro, Odisley Paraná Silva, o Zorro.

Como comerciante, ele lamenta que a propaganda negativa tenha afastado os turistas no ano passado. ?O problema já estava solucionado, mas a propaganda negativa foi tão grande que muitas reservas foram desmarcadas. Fiquei com dois quartos vagos, o que é praticamente impossível nas festas de final de ano?, diz o comerciante.

Este ano, não há Vicuña que atrapalhe, mas o clima rústico da ilha provoca um eterno questionamento relacionado à infra-estrutura local. Se por um lado há a defesa de preservação do paraíso ecológico, por outro há reclamações que, mesmo preservando, algo mais poderia ser feito.

?Tem muita coisa bacana que pode ser feita e não é. O trapiche, construído na época do Lerner, está sem manutenção e, para o conforto do turista, que passa apenas o dia na ilha, seria ideal ter um banheiro público em anexo?, diz Zorro. Outra reclamação do comerciante é referente à manutenção da passarela que dá acesso à gruta das Encantadas. ?A fortaleza teve uma restauração recente, mas a passarela está enferrujando e nada é feito. E ela é importante especialmente para crianças e pessoas de mais idade que querem ir até a gruta.?

Para Gil Piekarzk, o grande problema enfrentado hoje na ilha é a falta de investimento em saneamento básico. ?O projeto da criação de uma rede eficiente de esgotos ficou no papel e é algo básico para o conforto dos turistas?, diz. Zorro concorda, e disse que cansou de esperar. ?Eu acabei desenvolvendo um sistema com investimento próprio para tratar a água. É esse um dos diferenciais de infra-estrutura que atrai os turistas.?

As críticas dão lugar a elogios quando o assunto é segurança, já que as constantes ações dos policiais florestais selecionou consideravelmente os freqüentadores da ilha. ?Tinha muita gente que vinha só para consumir drogas e isso não acontece mais. As bagunças reduziram sensivelmente?, finaliza Zorro.

As reclamações sobre o saneamento básico e tratamento da água na Ilha do Mel estão com os dias contados. Pelo menos é o que garante o prefeito de Paranaguá, José Baka Filho. Através de recursos fornecidos pela Funasa – R$ 850 mil -, será implementado um sistema de tratamento de água eficiente.

Na medida da permissão orçamentária, Baka conta que várias ações estão sendo desenvolvidas na ilha e muitas delas visando a temporada. ?Nós estamos cuidado bem da questão do lixo, em parceria com o governo estadual.?

Atrações contagiam os estrangeiros

Apesar dos problemas de infra-estrutura, os turistas apontam o aspecto natural da ilha, o ponto mais atraente do local. Não é à toa que ela é o terceiro local de maior visitação do Paraná, e vêm atraindo cada vez mais turistas estrangeiros. Segundo os dados da Secretaria Estadual de Turismo, eles já correspondem a 19,3% do total de visitantes.

A beleza natural que convida ao descanso absoluto foi o que chamou a atenção das amigas inglesas Charlotte Thorpe e Rachel Landon, que estão há quatro meses viajando pela América Latina. ?Viemos com o propósito claro de descansar. E esse clima mais selvagem traz muita tranqüilidade?, diz Rachel. Antes, elas haviam passado por Foz do Iguaçu, Florianópolis e Curitiba. ?Nós conhecemos a ilha através do guia internacional Lonely Planet e decidimos viajar. O mais legal é o clima de simplicidade, longe do agito?, diz Charlotte.

O sueco Michael Nilsson, que ficou quase uma semana na Ilha, também escolheu o destino em função do desejo de relaxar. ?Passei dias corridos em São Paulo e foi lá que soube da existência da ilha. Adorei a idéia de visitar um lugar que não tem carros ou comércio movimentado e que ao mesmo tempo oferece o conforto mínimo?, diz.

A respeito da presença significativa de turistas, os curitibanos ainda são a maioria na ilha – 35%. O casal Airton Júnior, administrador, e Lisandra Arima, médica, acreditam que a infra-estrutura básica já existe no local. ?Tendo banheiro, água e luz, está ótimo. Pela beleza natural da Ilha, os dezesseis reais pagos pela travessia saem até barato?. (GR)

Secretaria faz trabalho de divulgação

A Secretaria Estadual de Turismo está desenvolvendo uma série de ações para atrair turistas para a Ilha do Mel. Sem Vicunã para atrapalhar, a expectativa aponta para uma das melhores temporadas dos últimos anos. Para se ter uma noção da expectativa de movimento, no ano passado, mesmo com a propaganda negativa sobre a contaminação do mar nas proximidades da ilha, com produtos químicos derramados na explosão do navio chileno, 289.700 visitantes estiveram no local. Este ano, até agora, já são 391.400.

?Estamos fazendo um trabalho forte não apenas na Ilha do Mel, como em todo o litoral?, diz o secretário estadual de Turismo, Celso Caron. Em um primeiro momento, a divulgação está sendo feita em feiras de turismo, mas, a partir do dia 15, quando começa a Operação Verão, outras ações estão programadas.

Para atender os turistas, serão instalados dois postos de informações turísticas – um na praia de Encantadas, e outro na praia de Brasília.

Nestes locais, serão distribuídos 30 mil guias turísticos, dando informações não só da ilha, como de todo o litoral. ?Também estamos produzindo 40 mil flyers específicos com informações da ilha para serem distribuídos aos turistas que fazem a travessia?, diz o secretário.

Cadastramento

Este ano, a secretaria iniciou um trabalho de cadastramento das pessoas que visitam a ilha. Antes da travessia, feita em Pontal do Paraná, os visitantes preenchem uma ficha cadastral. ?Com esses dados, sabemos mais certamente que tipo de visitante tem ido na ilha, quanto tempo fica lá e quanto gasta.? Com base nos dados iniciais, a permanência média na ilha é de 5,4 dias e o gasto por cabeça é de US$ 27,7. ?O cadastramento é fundamental para o planejamento de novas ações?, afirma Caron. (GR)

IAP desenvolve ações de preservação

O Instituto Ambiental do Paraná (IAP) tem atuado com firmeza para preservar as belezas naturais da Ilha do Mel. É comum ver policiais florestais andando pelo local, de olho em qualquer atitude que possa prejudicar a natureza.

?Sabemos da importância do turismo no local, mas trabalhamos duro para que ele seja feito de forma responsável?, diz o diretor do IAP, Rasca Rodrigues. Ele diz que as constantes ações da Secretaria de Segurança Pública (Sesp), que tentam coibir o consumo de drogas na ilha, têm ajudado a selecionar os turistas que vão à ilha.

?As pessoas têm todo o direito de visitar a ilha, mas têm que entrar conscientes de que trata-se de um patrimônio ecológico.? E, justamente pensando na preservação, o IAP tem tentado controlar o limite de visitantes diários ao local em 5 mil. O sistema de cadastramento ainda é pífio, mas caminha para ter uma maior eficiência no futuro. ?Estaremos trabalhando com fiscais no embarque em Pontal, para fazer um filtro de controle, com a determinação do perfil do turista.?

Som

No entanto, nem todas as ações do IAP são benquistas pelos comerciantes locais. Ozélia Agostinho, que tem um quiosque na praça de alimentação na praia de Encantadas, reclama da limitação do horário de funcionamento dos bares.

?Dá uma hora da manhã e os policiais mandam desligar o som. Se a gente não desliga, é multa pesada. Mas se desliga, os turistas nos incomodam porque querem festa?, diz. A comerciante defende que a praça foi feita longe das pousadas, de modo que o som não atrapalhasse o sono das pessoas nelas instaladas.

Quando o assunto é som e funcionamento dos bares, Rodrigues bate mais uma vez no processo seletivo dos turistas. ?A ilha não é um balneário qualquer. É um santuário ecológico. As pessoas devem ir para curtir a natureza e descansar?, conclui. (GR)

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