Lucimar do Carmo / GPP

Antônio da Trindade entregou a espingarda que havia adquirido para caçar, e mantinha desde 1988, mas agora é desnecessária.

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Muita gente enfrentou o dia frio e chuvoso para participar da campanha de desarmamento realizada ontem, em Curitiba. Na capital e Região Metropolitana oito igrejas abriram as portas para coletar armas de fogo que a população ainda mantinha em casa. Desta vez, o evento foi organizado pelo Movimento Viva Rio, pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs e pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). A ação se estendeu a todo o País.

Antônio Luiz da Trindade soube pelo rádio da campanha e procurou a Igreja Nossa Senhora do Carmo, no bairro Boqueirão, para se desfazer da espingarda que mantinha desde 1988. Ele havia comprado para caçar animais, mas nunca deu qualquer tiro. ?Ela era desnecessária. Hoje a visão é outra, tem-se batalhado muito para proteger os animais?, explica.

Luciana Benedetto também aproveitou a oportunidade para se desfazer dos dois revólveres que tinha em casa. Segundo ela, uma arma pertenceu a seu pai e a outra ao marido, ambos mortos. Elas tinham sido adquiridas para a segurança, mas nunca foram usadas. ?Lá em casa ninguém sabe manuseá-las. Também dá medo de acontecer algum acidente. É um alívio entregá-las?, disse.

A Igreja Bom Jesus, no centro de Curitiba, já contabilizava 10 armas perto do meio-dia. Antônio Etelle dos Santos resolveu se desfazer do rifle que possuía há 35 anos porque nunca teve muita serventia. ?Até hoje dei só uns dez tiros, comprei para usar em pescarias?, recorda. Antônio aprova a campanha e acha que a sociedade vai ficar mais segura. ?É menos um problema em casa e menos armas circulando?, fala. Ano passado tinha se desfeito de um revólver e agora foi a vez do rifle.

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Para receber as armas, a Polícia Federal destacou dois policiais para cada uma das igrejas. Eles fizeram o cadastro das pessoas para que recebam a gratificação estipulada pelo governo federal. Revólveres em geral têm restituição de R$ 100, carabinas R$ 200 e fuzis R$ 300. O dinheiro deve ser depositado na conta corrente entre 30 e 60 dias após a entrega da arma. No momento da entrega, os policiais também faziam a destruição simbólica, com o uso de uma marreta, mas as armas vão ser destruídas pelo Exército.

Enquanto isso, Brasília discute a realização de um referendo sobre a proibição da comercialização de armas de fogo e munição no Brasil, já aprovado no Senado. Mas a matéria ainda precisa ser aprovada na Câmara dos Deputados. Na semana passada, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), instalou a Frente Parlamentar por um Brasil sem Armas, para mobilizar a sociedade em favor da aprovação do referendo.

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Durante o lançamento da Frente, o relator do Estatuto do Desarmamento, o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), fez um balanço positivo sobre o recolhimento das armas. Segundo ele, houve a redução de 28% nos crimes de mão armada em Londrina e 30% em Curitiba. Os reflexos também foram sentidos no Sistema Único de Saúde (SUS), caiu 22% o números de vítimas feridas por arma de fogo.