Idosos contam suas vidas para estudantes de jornalismo

"Jovens, cuidem bem dos idosos. Pois, um dia, vocês também vão precisar dos jovens." O apelo emocionado foi feito por uma senhora que vivia numa casa de repouso, pouco antes de morrer. A mensagem, porém, não foi passada em tom de lamentação, mas sim de sapiência. Leonor Tarturce representava uma parte dos idosos que vivem em asilos ou casas de repouso do Brasil, para os quais o mínimo de atenção representa motivo de imensa alegria.

Ela e cerca de dois mil velhinhos de todo o País, inclusive de Curitiba, tiveram a oportunidade de ter muito mais que isso. Um projeto de responsabilidade social desenvolvido pela Federação Brasileira da Indústria Farmacêutica (Febrafarma) vem promovendo, desde 2003, a interação entre estudantes de jornalismo e idosos que vivem em asilos. Os jovens visitam os velhinhos e escolhem um deles para escrever uma crônica, contando sua história de vida. As melhores viram livro – a segunda edição do Me conte sua história foi lançada na última quarta-feira, em São Paulo.

"Durante dois meses eu visitei o abrigo Bom Jesus de Cuiabá e conheci o senhor José Sanches. Ele hoje vive sozinho no asilo e raramente é visitado pelos filhos – são onze, ao todo. Encantei-me com sua história de amor", conta Dayane Sena, que confessa que muitas vezes se conteve para não chorar. "Vi muita tristeza, abandono. A época de Natal, sem visitas, sem presente, talvez tenha sido a pior."

Fernanda Bosso já havia participado da primeira edição e agora, já formada, foi novamente voluntária, com uma história comovente de um senhor que foi caminhoneiro e que hoje perdeu a visão – Rubens de Assis. "Ele foi para o asilo por opção e conta que aprendeu a enxergar com o coração. E mesmo com a idade avançada, ele passou a aprender novas atividades", diz Fernanda. Até mesmo a imensidão do mato, tediosa na época em que trabalhava, é valorizada hoje. "Ele diz que tem a lembrança. Tem gente que nunca vai poder ter."

Quem também participou do projeto e teve a sua crônica publicada foi a então estudante do UnicenP, Ana Paula Martins. Ela é uma das raras exceções de jovens que já freqüentavam asilos – fazia parte do projeto de conclusão de curso da jovem o trabalho de voluntariado. "Quando soube do projeto, escolhi a história de César Massa, um homem que tinha muitas posses, mas que havia se entregado ao alcoolismo. No asilo do Tarumã, ele reencontrou a tranqüilidade", conta.

Dupla

O estudante Leandro Almir e a aposentada Raimunda Pereira desenvolveram uma bela amizade no convívio. "É maravilhoso virar personagem de uma crônica e ver nossas história no livro. A gente se sente importante, parte da sociedade", diz Raimunda, que com 84 anos tem uma vitalidade de fazer inveja a muitos jovens. Foi justamente essa alegria de viver que chamou a atenção do estudante. "Ela é um exemplo de vida, de persistência. Nunca desistiu dos sonhos".

A edição contando essas e mais 66 histórias comoventes de idosos que vivem em asilos já está à venda e as inscrições para a nova fase do projeto já estão abertas. Em Curitiba, apenas o Centro Universitário Positivo é credenciado. Maiores informações podem ser obtidas no site www.febrafarma.org.br.

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