IAP libera incêndios controlados no campo

O Instituto Ambiental do Paraná (IAP) revogou, no final de fevereiro, uma portaria que proibia o uso do ?fogo em práticas pastoris ou florestais, mesmo que controlado?. Em julho do ano passado, o ex-presidente do IAP e atual secretário de Estado do Meio Ambiente, Rasca Rodrigues, proibiu os incêndios controlados, muito usados em áreas agrícolas, por causa da estiagem que assolou o Estado por vários meses. Agora o atual presidente do IAP, Vitor Hugo Burko, autorizou que os proprietários rurais voltem com a prática de queimadas controladas.

?Essa é uma prática necessária para algumas culturas. Por isso não é possível segurar essa proibição por muito tempo. O pessoal que planta cana-de-açucar ou bracatinga precisa da autorização para continuar trabalhando. E agora não estamos mais em período de secas?, explicou Burko. Apesar de liberar a prática da queimada controlada, o presidente do IAP ressaltou que qualquer proprietário rural que queira fazer queimadas controladas precisa da autorização prévia do órgão, independente da portaria.

 

Foto: IAP/Divulgação

Vitor Hugo Burko.

Para obter a licença para a queima controlada, é preciso demonstrar, por escrito, ao IAP, que todas as práticas corretas e as medidas de controle para que não vire um incêndio ambiental vão ser respeitadas. O presidente do órgão afirmou que não é possível para o instituto fiscalizar todas as propriedades, mas que o IAP já conhece a maioria delas, porque são sempre as mesmas. ?E, como em qualquer outro órgão, fazemos fiscalização por amostragem?, explicou.

Cuidados

O tenente Leonardo Mendes, relações-públicas do Corpo de Bombeiros do Paraná, lembra que uma das atitudes mais importantes quando se vai provocar uma queimada controlada é fazer aceiros (área desmatada em volta do incêndio que evita que o fogo passe daquela propriedade). Mendes afirmou que a mata paranaense é bastante propícia a pegar fogo. ?Aqui a vegetação é de clima temperado, que é bastante seca?, explicou.

O capitão César Lestechen Medeiros, comandante da 1.ª Companhia da Polícia Ambiental (Força Verde) da Região Metropolitana de Curitiba e do litoral, reforçou que as queimadas controladas no Paraná são proibidas se não houver autorização prévia do IAP e salientou que o proprietário deve ter a iniciativa de pegar todas as orientações detalhadas com o órgão de proceder. Medeiros defendeu que esse deve ser um recurso usado somente se realmente necessário, já que oferece risco. ?E além do perigo, tem a poluição?, afirmou.

Biólogo questiona liberação da prática no Estado

?O problema do incêndio controlado é que, muitas vezes, as técnicas corretas de como aplicá-lo não são usadas na prática.? A afirmação é do biólogo da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem (SPVS), Ricardo Miranda de Britez. ?Muitas pessoas não têm informação adequada para fazer o fogo controlado e a polícia não tem como dar conta de fiscalizar todo mundo?, explicou.

Segundo o biólogo, é preciso levar vários fatores em conta antes de se provocar o fogo, como, por exemplo, fazer aceiros, saber a direção do vento, usar abanadores quando necessário e ter pessoas para controlar o incêndio, se preciso. ?Muitas vezes as queimadas controladas são feitas para economizar mão-de-obra. Mas principalmente quando é feita em grandes áreas é preciso ter pessoas controlando o fogo?, afirmou.

O biólogo lembrou que existem outras formas de manejo da terra que podem ser usadas no lugar das queimadas controladas, como usar roçadeiras para limpar o local. Outro ponto abordado por Britez é a poluição ambiental causada pela emissão do gás carbônico na natureza. ?O Brasil é um grande emissor de gás carbônico justamente por causa das queimadas?, afirmou.

Prática de manejo

O professor do curso de Engenharia Florestal da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Carlos Roberto Sanquetta, afirmou que os incêndios controlados, se bem usados, são importantes como prática de manejo agrícola. ?Algumas pessoas não tomam cuidados, mas a maioria dos agricultores sabe como fazer?, explicou. Quanto à liberação de gás carbônico, o professor afirmou que alguns tipos de solos, quando mexidos por roçadeiras, liberam muito mais gás carbônico no meio ambiente do que os incêndios.

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