O integrante da Agência Internacional de Energia Atômica (Iaea) Vladimir Onufriev esteve, ontem (18), no Laboratório de Espectroscopia Mossbauer da Universidade Estadual de Maringá (UEM) para verificar de perto a utilização de equipamentos doados pela agência a um projeto de desenvolvimento de um combustível nuclear, com tecnologia nacional, de responsabilidade do Centro de Tecnologia da Marinha (CTM), em parceria com a UEM.
A Iaea, com sede em Viena, tem como missão evitar a proliferação de armas nucleares no mundo e, ao mesmo tempo, fomentar o desenvolvimento de tecnologias nucleares para fins pacíficos. Membros da agência foram os responsáveis, por exemplo, em verificar a existência de armas nucleares e armas químicas no Iraque.
Em 1999, a Comissão Nacional de Energia Elétrica e a Marinha do Brasil apresentaram um projeto à Iaea solicitando financiamento para a produção nacional de um combustível nuclear específico, a ser usado nas usinas nucleares brasileiras de Angra I e Angra II. O projeto foi aprovado e começou a ser desenvolvido em 2001, com previsão de término em 2004.
O desenvolvimento
No Centro Tecnológico da Marinha Aramar, em Peró (SP), foi então desenvolvido o combustível urânia-gadolínia (UO2-Gd2O3). O produto vem sendo comprado da Suécia para ser utilizado nos reatores em funcionamento no Brasil. A idéia é conseguir se apropriar de uma tecnologia eficiente e segura para produzi-lo no País, reduzindo significativamente os custos da geração de energia elétrica por processo nuclear.
“A primeira etapa do projeto, que é o enriquecimento do urânio com gadolínia, foi realizada com sucesso no CTM-Aramar e conta com o apoio do Laboratório de Espectroscopia Mossbauer da UEM. A equipe da universidade desenvolveu uma fonte que permite verificar a constituição do material radioativo produzido pela Marinha”, explica o representante do CTM-Aramar, Luciano Pagano Jr.
Pode-se dizer que a UEM desenvolveu uma técnica para testar a constituição do urânia-gadolínia produzido em Peró. Conseguiu-se, aqui, desenvolver uma fonte que vai irradiar um feixe radioativo numa pequena amostra do combustível desenvolvido pela Marinha, permitindo que se tire uma espécie de “radiografia” da composição do produto.
Com a produção nacional do urânia-gadolínia o Brasil garantirá menor custo na alimentação das usinas de Angra I e II. Segundo os pesquisadores, com esse combustível um reator trabalha muito mais tempo, sem precisar ser reabastecido.