Foto: João Mário Goes/Jornal Hoje |
No início do ano muitos pacientes foram atendidos nos corredores do HU de Maringá, no noroeste. |
Hospitais lotados, com falta de leitos, pacientes muitas vezes atendidos de forma precária, médicos com excesso de trabalho. O cenário é conhecido dos usuários do sistema público de saúde. E estes problemas se agravam ainda mais em algumas épocas, como recentemente no feriado de final de ano. Entretanto, mesmo sem solução para os déficits, muitos hospitais públicos paranaenses estão driblando a crise para garantir atendimento.
Recentemente o caso mais grave de superlotação aconteceu no Hospital Universitário (HU) de Maringá. Único pronto-socorro que atende casos de alta complexidade em uma região de cerca de 30 cidades, o hospital estava com 79 pacientes sendo atendidos no corredor na semana passada. A situação crítica fez com que a direção do HU pedisse que o Samu e o Siate só encaminhassem pacientes de extrema gravidade.
O pedido do HU aos socorristas e a exposição pública da situação crítica fizeram com que o hospital conseguisse que a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) autorizasse algumas transferências para o Hospital Metropolitano de Sarandi (cidade vizinha). E é assim, aos poucos, que os hospitais estão amenizando seus problemas. Um outro exemplo é o sistema público de saúde de Ponta Grossa, que está recebendo melhorias depois de enfrentar situações caóticas.
Por diversas vezes o Hospital Municipal de Ponta Grossa viveu situações parecidas com o HU de Maringá. Hoje, depois de diversos pedidos e até a intervenção do Ministério Público Estadual (MPE), o hospital está em reforma. ?Vemos a situação com apreensão, mas com otimismo. Apreensão porque hoje existe carência grande de leitos, mas isso deve diminuir com a ampliação que estamos fazendo e com a construção do Hospital Regional?, explicou o diretor clínico do Hospital Municipal, Antônio Sobreiro.
?Atualmente nossa situação é a cotidiana. Hoje o pronto-socorro está tranqüilo, mas está atendendo com atraso. Temos alguns pacientes precisando de UTI, onde tem superlotação?, contou o diretor do HU de Londrina, Francisco Eugênio Alves de Souza. Apesar de viver momentos de aparente tranqüilidade, a saúde pública de Londrina já passou por períodos difíceis.
Uma das maiores conquistas do HU de Londrina em 2006 foi a construção da ala de queimados, com duas salas de cirurgia, quatro enfermarias e capacidade para atender 18 pacientes.
Descredenciamento
A situação dos hospitais públicos se agrava também por causa do descredenciamento de hospitais particulares do SUS. ?Nosso maior problema é no pronto-socorro e é ocasionado porque outros hospitais estão saindo do SUS?, explicou o assessor da direção do HU de Cascavel, Gilberto Periolo.
Segundo Periolo, o HU não pode fazer queixas de verbas, mas defende que o sistema de saúde de Cascavel tem que melhorar. ?Nós deveríamos ter um hospital municipal ou algum outro hospital público financiado pelo governo?, afirmou. Em 2006 o HU de Cascavel atendeu a população de 114 municípios da região.
Hospital de Clínicas
O Hospital de Clínicas (HC) de Curitiba recebe pacientes do Estado inteiro. O diretor-geral em exercício, Ângelo Tesser, afirmou que hoje o hospital está numa situação financeira relativamente equilibrada. Mas a lotação do HC, segundo ele, é crítica em alguns pontos, como as áreas de emergência e UTIs.
Saúde motiva ações no Ministério Público
A saúde pública do Paraná tem preocupado e motivado algumas ações do Ministério Público Estadual (MPE). De 2000 a 2004, o MPE questionou na Justiça o valor aplicado pelo governo do Estado em saúde. A Emenda Constitucional n.º 29, de 2000, determina o percentual mínino do orçamento estadual que deve ser aplicado na saúde. Este valor aumentou gradativamente desde que a emenda entrou em vigor e, desde 2004, estabilizou em 12%.
O coordenador do Centro de Apoio Operacional da Promotoria de Saúde Pública e procurador de Justiça, Marco Antônio Teixeira, explicou que a situação do Paraná é preocupante na maioria dos hospitais públicos. Falta de leitos e de profissionais, filas para consultas e cirurgias eletivas e excesso de trabalho são pontos críticos apontados por ele. ?É preocupante, mas o governo está anunciando a construção de novos hospitais?, lembrou.
Teixeira ressalta que, em função da situação problemática, está acontecendo a judicialização da saúde. ?As pessoas estão mais cientes dos seus direitos e começam a cobrar na Justiça um atendimento melhor?, explicou. Segundo o procurador, somente em 2006 foram ajuizadas 250 mil ações pedindo medicamentos em todo o País. O MP também é um dos grandes demandantes. ?Não temos um grande número de ações, mas elas são coletivas, ou seja, beneficiam muita gente?, completou.
Secretaria está remanejando pacientes
Como forma de melhorar a situação da saúde pública do Paraná emergencialmente, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) informou que está remanejando pacientes, como aconteceu semana passada no Hospital Universitário (HU) de Maringá, e revisando todo o fluxo de atendimento realizado na capital e no interior. Além disso, dados da secretaria dão conta que cerca de 30 hospitais, considerados estratégicos, recebem anualmente R$ 30 milhões.
Desde o início do mandato, em 2003, o governo do Estado anunciou a construção e reforma de 24 hospitais em todas as regiões do Paraná. O investimento feito, no total de R$ 100 milhões, privilegia as populações de regiões mais carentes.
Entre as instituições de saúde que estão em fase de reformas, construção ou ampliação estão o Centro Hospitalar de Reabilitação em Curitiba, o Centro de Queimados do Hospital Universitário (HU) de Londrina, no norte do Estado, o Hospital Municipal de Foz do Iguaçu, no oeste, além do outros hospitais que devem ser construídos em outros municípios do norte do Paraná.
Alunos de medicina são prejudicados
Conseguir cirurgias eletivas e consultas com especialistas é um dos principais problemas nos hospitais públicos. E nos hospitais universitários essa situação prejudica também os alunos, que muitas vezes precisam se concentrar somente nos casos de emergência. ?Hoje não fazemos cirurgias eletivas, que é onde o aluno aprende mais. O pronto-socorro está sufocando o curso de medicina e também de outras áreas?, explicou o superintendente do HU de Maringá, Daoud Nasser.
O HU de Cascavel vive problema semelhante com as cirurgias eletivas e também com as consultas com especialistas. ?Quando a consulta é com especialista, demora mais. Os professores da Unioeste atendem cerca de 100 pacientes por dia. Muitos pacientes vêm de cidades vizinhas e isso acaba inchando o atendimento aqui. Em Cascavel nós temos um centro de especialidades, mas os municípios vizinhos não colaboram com médicos para o centro?, explicou o assessor da direção do HU de Cascavel, Gilberto Periolo.
Em Londrina a situação é igual. É demorado para conseguir consultas com especialistas, assim como para marcar cirurgias eletivas. ?Existem algumas dificuldades no ensino. A cirurgia ortopédica, por exemplo, toma os centros cirúrgicos e daí ficam poucas eletivas?, afirmou o diretor do hospital, Francisco Eugênio Alves de Souza. ?A solução é buscar parcerias com outros hospitais?, completou.