Para os hospitais filantrópicos do Paraná, janeiro não começa muito bem. Ao invés de ser um ano novo e bom, 2006 inicia com dificuldades. São as carências, velhas dívidas e o risco de fechar as portas. No Estado muitos estabelecimentos reclamam e pedem ajuda. Em alguns municípios, os mesmos hospitais que correm o risco de fechar são os únicos. A saúde filantrópica no Paraná se vira como pode: com doações, festas e até pizza.
Em Carlópolis, município do Norte Pioneiro do Estado, próximo a Jacarezinho, o Hospital São José é um dos que agonizam. ?A gente passa por dificuldades e precisa da colaboração da população?, pede a administradora do hospital, irmã Maria Tereza Rodrigues. Segundo ela, o que entra mensalmente não passa dos R$ 13 mil – desse total, R$ 4 mil vão para os médicos e o resto, R$ 9 mil, dividem-se entre manutenção geral e folha de pagamento dos funcionários. Para sobreviver e dar conta dos gastos básicos, o necessário seria R$ 50 mil. ?Se a entrada é defasada, não vamos ter condições de oferecer a estrutura necessária. Estamos lutando para que não venhamos a fechar as portas?, afirma a irmã.
De acordo com Maria Tereza, no município de mais de 13 mil habitantes, São José é o único hospital. Para conseguir driblar um pouco das dificuldades, as estratégias são as mais diversas. ?Sempre caminhamos com dificuldades, mas hoje está preocupante. Fazemos rifas, promoções, festas. No mês passado vendemos pizzas, o que ajudou um pouco, mas é paliativo. Não dá nem para pagar o décimo terceiro dos funcionários. Temos uma duplicata de R$ 2 mil, que venceu e não pudemos pagar. Tem outras contas que se aproximam e a gente não sabe o que faz?, lamenta a administradora.
Foz
Em Foz do Iguaçu, a Santa Casa Monsenhor Guilherme também pena para continuar atendendo. ?A gente está encarando muita dificuldade. Um parto que custa para o hospital R$ 500, o SUS só repassa R$ 300. O resto é por conta própria. Então fica essa defasagem. Como é um hospital filantrópico, tem que sobreviver dessa forma: de doações e do SUS (pelo qual realiza 98% dos atendimentos)?, reclama Raúl Luiz Corrêa, membro da Comissão de Transação.
Segundo Corrêa, o custo operacional da Santa Casa de Foz é de R$ 1 milhão por mês. O SUS, porém, só repassa R$ 500 mil. A dívida do hospital hoje chega a R$ 20 milhões. Maior parte com funcionários e fornecedores. Sem receber 12% do salário de outubro, 20% de novembro, dezembro e o 13.º, 60% dos funcionários do hospital estão em greve. ?Não há empresa que sobreviva desse jeito. Uma hora quebra e é o nosso caso. Hoje está quase totalmente parado, funcionam apenas 15% dos atendimentos?, afirma Corrêa. O hospital de Foz sequer tem uma associação de amigos, com ajuda freqüente. No próximo dia 30 haverá nova eleição para administração da Santa Casa. Até lá: ?a gente está precisando de dinheiro?, pede Corrêa.
Ministério da Saúde sugere revisão de gastos
De acordo com o Ministério da Saúde, esses hospitais, como os demais, recebem pela produção. O teto desse repasse é negociado pelo órgão gestor do hospital, que pode ser o município ou o Estado. Além desse repasse, há um outro incentivo do ministério: o Integrasus, que somente os hospitais filantrópicos recebem e foi calculado com base no faturamento de cada hospital em 2000.
No entanto, está para sair até o próximo mês um novo incentivo (Contratualização dos hospitais): R$ 200 milhões irão beneficiar 740 hospitais filantrópicos do País. Quarenta por cento dessa verba será liberada agora.
Sobre os problemas de defasagem entre o valor repassado pelo SUS e os gastos e recursos insuficientes, o ministério afirma que a planilha deve ser revista e os problemas verificados junto ao órgão gestor da unidade. (NF)
HU de Cascavel também está passando por problemas
As dificuldade não afligem somente as instituições filantrópicas no Paraná. Em Cascavel, no oeste do Estado, o Hospital Universitário (HU) não é uma entidade filantrópica, mas também enfrenta muitos problemas desde o ano passado. Segundo o diretor administrativo da instituição, Sérgio Fabriz, a dificuldade principal é a superlotação.
?Estamos enfrentando ultimamente a superlotação do hospital. É muita gente que precisa de atendimento e não há mais o que fazer. Outros hospitais que atendiam pelo SUS estão fechando este atendimento e toda a demanda está vindo pra cá. A situação está cada vez mais complicada. O Universitário é o único hospital público do oeste do Estado e isso está o sobrecarregando?, reclama Fabriz.
Segundo ele, o pronto-socorro, que tem capacidade para atender 20 pessoas, está com 60. ?Tentamos dar um jeito na situação, mas isso é uma coisa que não deveria acontecer?, lembra.
Quando há uma situação como essa, o jeito é partir para o improviso.
?É óbvio que você tem que improvisar – alguns pacientes ficam em macas no corredor e em cadeiras – e há a demora. São pacientes inclusive de outros municípios da região, mas não podemos deixá-los esperando, por isso fazemos o que podemos e o que está a nosso alcance?, afirma o diretor do HU.
Ele lembra que a situação está assim desde o dia 20 de dezembro. Para tentar resolvê-la, na próxima semana, haverá uma reunião com a 10.ª Regional de Saúde para discutir o repasse da demanda. (NF)
Dificuldades em outras santas casas
De acordo com Rodrigo Ferreira, chefe da seção de promoção à Saúde da 19.ª Regional de Saúde, a dificuldade do hospital de Carlópolis é a mesma em quase todos os dez hospitais filantrópicos da região, inclusive da Santa Casa de Jacarezinho.
?Não está tudo bem com todos. Alguns passam por mais dificuldades que os outros, como a Santa Casa de Cambará e Ribeirão Claro. A dificuldade é a falta de recurso. O fato é que há defasagem do que é faturado pelo SUS e os gastos?, afirma Rodrigo.
No caso de Carlópolis, além de dinheiro, o hospital precisa emergencialmente de pelo menos 18 equipamentos – desde cauterizador, mesa instrumental cirúrgica de inox e estetoscópio até eletrocardiograma, aparelho de inalação e balança para recém-nascido. (NF)
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