Dezenas de gays, lésbicas e simpatizantes protestaram ontem à tarde em frente à Catedral Metropolitana, em Curitiba, contra o documento do Vaticano divulgado no último dia 31. Na carta, assinada por Joseph Card Ratzinger, a Igreja Católica se mostrou contrária ao reconhecimento legal das uniões homossexuais. “Reconhecer legalmente as uniões homossexuais ou equipará-las ao matrimônio significarianão só aprovar um comportamento errado, com a consequência de convertê-lo num modelo para a sociedade atual, mas também ofuscar valores fundamentais que fazem parte do patrimônio comum da humanidade”, conclui a carta.
“Nosso objetivo é mostrar para a população que o Vaticano está equivocado. A gente não quer o casamento na igreja, mas que a união civil seja reconhecida”, manifestou em tom de protesto Roberto Kaiser, presidente do Instituto Paranaense 28 de Junho. “Essa é uma reação da igreja para cobrir escândalos, como a pedofilia, alcoolismo, padres que têm filhos. Temos direito como qualquer outro”, defendeu.
Durante a manifestação, a carta do Vaticano foi queimada e a bandeira de arco-íris que identifica os homossexuais foi estendida em frente à Catedral. Segundo Kaiser, os manifestantes pediam a presença de um representante da igreja para que revissem a posição. A Catedral, ao contrário, fechou as portas.
CNBB
O presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), cardeal arcebispo dom Geraldo Majella Agnelo disse ontem, em Salvador, que o documento do Vaticano contrário ao casamento entre homossexuais não teve a “mínima intenção e vontade de ofender” os gays. “Nem de dizer que são pessoas indignas, que não merecem o nosso respeito à sua dignidade”, comentou.
D. Geraldo considera normal que grupos homossexuais de todo o mundo estejam protestando contra o documento. “Acho que as pessoas que, subjetivamente, se sentem ofendidas, reagem”, declarou, salientando que perdoa a todos. “O perdão é o básico”, disse.
Ele assinalou que a CNBB discutirá no Brasil as orientações de Roma em relação ao casamento gay, esclarecendo aos padres que não se trata de “uma guerra”. Conforme o cardeal, em primeiro lugar, “o documento respeita a liberdade e a dignidade de todos sem distinção, procurando deixar claro aquilo que nós temos, que a revelação nos ensina sobre a vocação do homem para o matrimônio e a família”, declarou, insistindo que a intenção da CNBB é “deixar alguns pontos (sobre o assunto) mais claros”.