O nome oficial é Praça do Redentor, mas o lugarejo no bairro São Francisco, ao lado do Cemitério Municipal, é conhecido em toda a cidade como Praça do Gaúcho. O apelido vem de um dos estabelecimentos comerciais mais tradicionais da cidade: o Sorvetes Gaúcho, que há 58 anos refresca os curitibanos nos dias mais quentes.
A sorveteria preserva muitas características da metade do século 20. Balcão, mesas, cadeiras, maquinário e principalmente as receitas dos gelados mudaram muito pouco desde que o gaúcho Adalberto Pinto dos Santos, natural de Itaqui, veio para Curitiba e comprou o espaço comercial, em outubro de 1954.
Mas quais são os segredos para uma sorveteria sobreviver a 58 invernos curitibanos e se consolidar como uma referência não só do setor, mas de todo um bairro e da própria cidade? Airton dos Santos, um dos filhos do seu Adalberto que hoje administram o negócio, tem a resposta: qualidade, bom preço, simplicidade e toda a tradição do local. “Quem deveria responder essa pergunta seriam meus pais. Recebemos a coisa montada. Eles nos deram tudo. O prédio, o maquinário, até os clientes. Eu só mantenho o que eles deixaram”, ressalta Airton.
História
Felipe Rosa |
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Receita de Airton: qualidade, bom preço, simplicidade e toda a tradição do local. |
Foi ao lado da esposa, Nádia Serur dos Santos, que seu Adalberto entrou para o ramo dos sorvetes. Por décadas, o casal cuidou pessoalmente da administração do negócio e da produção. “Este ponto estava à venda e já tinha uma máquina de sorvete. Então foi aberto como bar, mercearia e, por causa da máquina, sorveteria do Gaúcho”, conta Airton.
Mas foram os gelados que fizeram o estabelecimento vingar e se tornaram o produto exclusivo a partir dos anos 1970. Época em que a praça passou por uma grande mudança e ganhou a pista de skate, hoje devidamente conhecida como pista do Gaúcho.
A mesma praça, os mesmos bancos e praticamente os mesmos sabores… São mais de 40 opções, que até hoje seguem a receita da época do seu Adalberto. “Quem faz sorvete é meu irmão e meu primo. Muitas vezes eu quero introduzir alguma coisa ou substituir um produto, mas eles não aceitam. Se compro algo de uma marca diferente, fica aí. Eles não usam”, diz Airton.
O preço é mais um convite para experimentar as delícias da casa. Uma bola, bem servida, custa R$ 2,50. Quem prefere uma banana split, com três bolas, frutas e coberturas, gasta R$ 10. “Nos dias de mais movimento, atendemos cerca de 2 mil pessoas”, calcula Airton. “O problema é no inverno. Às vezes temos que ficar jogando baralho para passar o tempo.”
Convivendo com a sorveteria todos os dias, desde criança, Airton reivindica um título: “em Curitiba não tem ninguém que tomou mais sorvete na vida do que eu”.
Freguesia atravessa a cidade
Tanto tempo em funcionamento deu à sorveteria do Gaúcho muitos clientes fiéis. “Alguns nem moram mais por aqui, mas trazem os filhos, hoje até os netos para conhecer”, diz Airton.
O analista de sistema Henrique Castro, de 47 anos, é um deles. Ao lado do filho Fernando e da esposa Julia, no final da tarde da última sexta-feira ele saboreava uma banana split que, garante, tem o mesmo gosto de quatro décadas atrás. “Venho desde pequeno, quando morava aqui no Bom Retiro. Hoje moramos do outro lado da cidade, no Hauer, mas continuo vindo e trago eles”, conta.
“Eu sou conservador e é um lugar que está sempre do mesmo jeit,o. Nunca vai mudar. Não é sofisticado, a gente não tem que pagar por uma marca, como outros lugares que são loucos de caros. E o sorvete é muito bom. É algo que não pode acabar”, pede Henrique.