Basta garoar e esfriar repentinamente que os curitibanos começam a se perguntar: Quando vai nevar de novo em Curitiba? Hoje faz 29 anos que a cidade parou para ver o fenômeno. Naquele dia, muita gente não foi trabalhar, preferiu sair com a família em confraternização pelas ruas. As linhas telefônicas ficaram congestionadas e faltou filme fotográfico nas lojas.
A primeira precipitação ocorreu de madrugada e foi observada por quem curtia uma noitada ou quem estava trabalhando, como os taxistas. Quando amanheceu, o frio era intenso e entre 9 e 10h os termômetros marcavam seis graus negativos. Às 10h15 começou a nevar. Quem já tinha ido para o trabalho, voltou para casa e quem estava se preparando para ir, mudou de idéia.
Nas ruas, a alegria era geral, todo mundo parecia criança, brincando de fazer bolas e bonecos de neve. A última vez que havia nevado na capital fora em 1928. As linhas telefônicas também ficaram congestionadas, havia sempre alguém a quem avisar para abrir a janela e curtir os flocos brancos caindo.
Lembranças
Sebastião Taborda Ribas, 61 anos, lembra que já estava no trabalho quando começou a nevar. Ele e os colegas da produção de medicamentos do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná deram uma pausa nas atividades para curtir o fenômeno. “Saímos na rua para fazer bonecos com a neve acumulada em cima dos carros”, conta. Depois, ele foi para casa e aproveitou para registrar o raro acontecimento em fotos. “Achei lindo. Mas não gostei muito, fez muito frio”, lembra.
Naquela mesma tarde, a neve se desfez e agora só vive na lembrança dos moradores ou nas histórias contadas às gerações mais novas. Teve até gente que quis estender por mais tempo aquele momento e durante dois anos guardou o boneco de gelo “Edinho”, dentro de um freezer. O boneco virou atração turística no bairro. Mas os fregueses do comerciante Edmir Skroch começaram a reclamar que o boneco dava mau cheiro aos peixes e ele acabou sendo deixado ao sol.
Osvaldo Iwamoto era meteorologista na época e dava aulas na Universidade Federal do Paraná. Conta que ficou muito surpreso quando nevou na cidade. Na época, não havia como prever com antecedência que o fenômeno poderia ocorrer. “As pessoas ficaram em estado de graça”, lembra. Iwamoto acha que nunca mais vai nevar na cidade, por causa da poluição, da destruição da camada de ozônio e do efeito estufa.
O meteorologista do Sistema Meteorológico do Paraná (Simepar) Fernando Mendonça Mendes explica que, para nevar, é necessário ocorrer uma combinação de fatores, o que é incomum em Curitiba. É preciso haver muita umidade no ar e os vapores de água devem passar direto do estado gasoso para o sólido. A temperatura deve estar abaixo de zero. Fernando não quis comentar a declaração de Osvaldo sobre a impossibilidade de nevar novamente. Segundo o meteorologista do Simepar, isso depende de uma série de estudos. Mas ele confirma que, por enquanto, não há nenhuma previsão de que o curitibano volte a curtir a neve na capital.
