Na língua indígena tupi, guará (wa?ra) significa pássaro, garça. E foi justamente em função desse significado que Guaraqueçaba e Guaratuba, no litoral do Paraná, foram batizadas com nomes com esse prefixo. Nas duas localidades, onde a Mata Atlântica era vasta, havia um grande número de pássaros, especialmente de garças em um tom róseo, batizadas de guarás (Eudocimus ruber). Vale ressaltar que, na terminologia exata, Guaraqueçaba quer dizer ninho das garças, e Guaratuba, muitas garças. Porém, a ocupação humana na região, que trouxe com ela reflexos na conservação do meio ambiente, modificou a realidade. Desde os anos 70, o guará passou a ser considerada uma ave extinta no litoral. Por isso, o aparecimento de novos exemplares da espécie nos manguezais de Guaraqueçaba surpreendeu até mesmo os profissionais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) que trabalham na Área de Preservação Ambiental (APA).
Segundo o biólogo e analista ambiental do Ibama Wagner Elias Cardoso, não há uma explicação exata para o que aconteceu. ?Provavelmente, esses animais migraram do litoral sul de São Paulo, onde ainda há alguns exemplares?, diz. O motivo seria especialmente a recuperação da região de manguezais, na Área de Proteção Ambiental (APA) de Guaraqueçaba, criada em 1985, e administrada pelo Ibama e Instituto Ambiental do Paraná (IAP). ?Esses animais procuram migrar para locais em que encontram alimentos, especialmente pequenos crustáceos, presentes nos manguezais?, diz o biólogo.
No momento estão havendo esforços do Ibama para que um projeto de monitoramento inicie em curtíssimo prazo, a partir da articulação com possíveis apoiadores. A comunidade de Guaraqueçaba também se mostrou disposta a colaborar com o monitoramento.
Passado
O último registro de visualização de guarás no litoral paranaense é de 1977. Desde então, a ave passou a ser considerada extinta no Paraná. O motivo para o desaparecimento estaria diretamente vinculado à ocupação humana na região. Além de prejuízos aos manguezais, ambiente natural dos guarás, a presença do homem também se traduziu na captura dos animais. ?Por ser coberto por belas penas, estas aves tornaram-se objeto do desejo para ornamentação?, diz Cardoso.
Curiosamente, elas migraram para o litoral de São Paulo e comunidades se fixaram também na região de Cubatão, uma área conhecida pelo alto índice de poluição proveniente das indústrias, porém de manguezais relativamente preservados. Outros locais em que ainda hoje é possível visualizar a presença dos guarás é na região norte e também no Maranhão.