Índios guaranis que vivem na aldeia Karuguá, em Piraquara, na Região Metropolitana de Curitiba, estão se preparando para a maior celebração da tribo. Na próxima quarta-feira, à meia-noite, acontece o batismo sagrado. Quatro crianças guaranis, com idade de seis a nove meses, receberão a bênção e ganharão nomes indígenas. Também brancos adultos que simpatizam com a tribo e acompanham os rituais indígenas serão batizados. A expectativa é que cerca de vinte brancos participem da celebração.
“Meu pai diz que somos todos iguais, todos irmãos. Por isso se os brancos também querem ser batizados, eles podem”, explica Florinda da Silva – ou Djera Rete, como é chamada na tribo -, filha do cacique Marcolino da Silva e representante da aldeia. Para os guaranis, o batismo é até mais importante do que a comemoração da virada do ano, por exemplo. “Meu avô já era pajé (cacique), e desde pequena sempre acompanhei os batismos. Para mim, é uma data muito especial”, diz.
Todos os 53 índios que vivem na aldeia – incluindo as crianças – ajudam nos preparativos para a cerimônia. Ontem, enquanto mulheres varriam a Casa da Reza, os homens traziam madeira do meio do mato para a construção do altar. Florinda conta que na quarta-feira, dia do batismo, são servidos pratos à base de milho verde, como o beiju – uma espécie de queijo, que se come com mel – e kagüiju, que é uma bebida.
Quinto batismo
O batismo sagrado acontece uma vez por ano na tribo guarani. No caso da aldeia Karuguá, sempre no dia 28 de janeiro. Este será o quinto batismo da aldeia, fundada em 1999. Florinda explica que são batizadas todas as crianças nascidas no último ano. Desta vez, serão abençoados Tiago, de nove meses; Edna, sete; Viviane, seis e Vanusa, também de seis meses.
A cerimônia começa às 19h com todos os rituais indígenas, incluindo reza e dança. É montado um altar na Casa da Reza, repleta de frutas, que são oferecidas a Deus – “Nhanderu” – e à Mãe Terra e consumidas depois pelos índios. A cerimônia é realizada pelo cacique da tribo. À meia-noite velas são acesas, e o cacique tem a revelação sobre o nome indígena que cada um deve receber. “Esse nome representa uma tarefa, uma missão, e só é revelado durante o batismo”, explica o vice-cacique Darci da Silva, que recebeu o nome indígena “Karaí Nhe Ery”, quando ainda era criança. Este ano, dois pajés de São Paulo também participarão da cerimônia.
Depois do batizado, é acesa a fogueira do lado de fora da Casa da Reza e os índios conversam com os brancos sobre o nome que cada um recebeu. A cerimônia só termina por volta das 5h da manhã, conta Florinda. “O batismo sagrado é uma tradição da tribo guarani. O importante é não perder a nossa cultura”, arremata o vice-cacique Darci da Silva.