Um teatro ocupado por pessoas que fazem da arte um instrumento de formação e de resgate da história da comunidade. É assim que se dá a dinâmica entre o Teatro Municipal de Fazenda Rio Grande e o Grupo Clichê, formado basicamente por atores do município. Pela quarta vez em cinco anos de criação, o grupo abrilhantará a mostra Fringe, dentro da programação do Festival de Teatro de Curitiba, com a peça “A farsa do bom marido”. Só que desta vez, a montagem deixou de fulgurar os espaços alternativos (bares e as ruas) e conquistou um palco, o do Teatro Antônio Carlos Kraide, no Portão Cultural.

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A autora da peça, atriz, professora de artes dramáticas e produtora cultural Nallu Michele, 46 anos, conta que a mudança do local de apresentação trouxe novidades para a montagem deste ano. O Santo Antônio, que antes era um boneco, agora será interpretado pelo ator Felipe Matoso, de 19 anos. Embora o festival tenha aumentado a rotina de ensaios do grupo, na visão deles a grande importância de integrar o evento é colocar em mais um palco um pouco de toda a riqueza cultural de Fazenda Rio Grande e do Paraná. “Inserir a farsa no contexto de nossas etnias e mostrar o nosso sotaque, nossos hábitos e a diferença entre os demais estados do Sul é o grande valor do espetáculo. Acho que para quem é daqui, o valor está em se ver retratado. Para quem é de fora, entender as peculiaridades de casa estado do Sul”, conta a autora. A peça conta a história de três mulheres – Maria do Bordado (paranaense), Maria Goela (catarinense) e Maria Mole (gaúcha) -, que querem casar e, diante da dificuldade, resolvem castigar o Santo Antônio até serem atendidas. Porém, quando isso acontece, elas se tornam vítimas de uma verdadeira armadilha. A atriz Daniele Piekarski Claudino, 37 anos, é quem interpreta a Maria do Bordado desde a primeira montagem em 2008. “A Maria paranaense é de Fazendo Rio Grande e o sobrenome tem a ver com o hábito de bordar que é algo comum dessa fusão entre polacos e poloneses”, conta. Além de atuar, Daniele também acumula as funções de figurinista, cenógrafa e diretora do teatro de Fazenda Rio Grande. Para ela, o grande valor desse trabalho iniciado em 2008 está na formação de plateias e de nos artistas. ‘É um trabalho lento, mas várias iniciativas como as apresentações aos domingos, que vamos retomar neste ano, estão inserindo o hábito de ver teatro e plantando uma semente que já está dando frutos com os talentos que revelamos aqui”, explica.

Morando em Fazenda Rio Grande desde que nasceu, a atriz acredita que a produção teatral no município ainda agrega um valor de aproximar o passado distante, dos povos que chegaram na época da fundação da cidade, com os migrantes que vieram consolidar a explosão de desenvolvimento que marcou a história recente do município. “Nos últimos 40 anos, recebemos gente de todo o Estado para cá, em função das oportunidades que surgiram com o nosso crescimento. Toda essa história precisa ser registrada pelos nosso artistas. Já fazemos isso no teatro e vamos lançar um livro neste ano sobre a história de Fazenda”, conta.

Atriz global no elenco

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A atriz curitibana Danieli Haloten, 33 anos, vai interpretar a Maria Mole pela primeira vez. Ela ficou conhecida pela personagem Anita da novela “Caras e Bocas”, da Rede Globo, que assim como Danieli era deficiente visual. No papel de Maria Mole, assim como no texto, a personagem enxerga normalmente. Mas esse não é o principal desafio para a atriz. “A maior dificuldade foi pegar as nuances do sotaque gaúcho, que é bem diferente do paranaense. E esse é um dos valores da peça, ser uma montagem regionalista, que mostra a identidade de cada ,um dos estados do Sul”, destaca. Ela conta que assistiu à peça em 2010 e se encantou com a obra. “Estou muito feliz por ter dado certo de participar neste ano”. Depois do festival, a atriz já tem um novo projeto engatilhado o lançamento do livro digital “Uma viagem no escuro”, primeira obra de sua autoria que narra uma experiência de superação que ela teve ao viajar para Vancouver, no Canadá.

Serviço

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A farsa do bom marido – mostra Fringe. Dias 29/03, 21h e 30/03, 12h. Local: Teatro Antônio Carlos Kraide, no Portão Cultural. Ingressos: R$ 40 e R$ 20 (meia entrada).

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