Um pequeno grupo de pessoas participou na manhã de ontem, em Curitiba, do 12.º Grito dos Excluídos. A mobilização, que acontece em cerca de 200 cidades brasileiras, é uma manifestação popular que se contrapõe às comemorações oficiais da Independência do Brasil e cobra ações sociais do governo federal. Na capital, o grupo fez uma pequena caminhada na rua ao lado da Avenida Cândido de Abreu, no Centro Cívico, onde acontecia o desfile oficial em comemoração ao 7 de setembro.
Os manifestantes, que representavam comunidades religiosas, sindicatos, pastorais sociais, movimentos populares e estudantes, se concentraram no pátio da Prefeitura Municipal. Com faixas e cartazes, eles tentaram chamar a atenção da população para suas bandeiras fazendo muito barulho com apitos e batuques. O único momento de tensão foi quando a Polícia Militar tentou barrar um grupo do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que tentava se juntar o grupo.
?Isso demonstra a criminalização dos movimentos sociais. Nós não vamos fazer baderna, só queremos chamar a atenção do povo para uma causa justa?, disse uma das organizadores da mobilização, Cármina Maria de Azevedo.
Segundo ela, a manifestação acontece todos os anos como uma forma de ?levar para as ruas reflexões sobre os problemas que impedem a afirmação do Brasil como uma nação independente de verdade?.
Para o bispo auxiliar de Curitiba dom Ladislau Biernaski, o Grito alerta que muita gente no País precisa de independência, seja ela econômica, cultural, de educação ou trabalho. ?Um país só será independente quando sua população atingir sua dignidade, e conseguir viver sem depender de esmola, de lutar pela terra e pelo trabalho?, finalizou.
Grito dos Excluídos faz pouco eco no Brasil
Aparecida, Brasília, Rio, Porto Alegre e Recife (AE) – Contrapondo a diversidade de temas abordados na 12.ª edição do Grito dos Excluídos, que foram desde protestos contra produtos transgênicos até atos de repúdio aos ataques israelenses ao Líbano, este ano as ações promovidas pelos movimentos sociais nos principais centros urbanos do País tiveram em comum a pouca presença de manifestantes.
Em Aparecida, no Santuário Nacional, o Grito dos Excluídos reuniu pouco mais de 5 mil pessoas. A expectativa era de 10 mil manifestantes, como ocorreu em anos anteriores. Grupos católicos e movimentos sociais, como integrantes do MST (Movimento Sem Terra) engrossavam o manifesto com faixas e cartazes que falavam da indignação com a corrupção no Brasil e a falta de oportunidade para a população mais carente.
O MST foi um dos movimentos sociais que participaram do Grito dos Excluídos em Brasília, juntamente com organizações como o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e a Pastoral da Juventude Rural. O grupo de manifestantes reuniu cerca de mil pessoas, segundo os organizadores – 500, na avaliação da Polícia Militar. Concentrou-se em frente à Catedral de Brasília e percorreu a Esplanada dos Ministérios depois que foi encerrado o evento oficial. Além das críticas gerais à política econômica, uma das pautas de reivindicação dos movimentos foi a redução do valor da conta de luz, principalmente dos consumidores de baixa renda.
Em Porto Alegre, a manifestação reuniu cerca de 700 pessoas. Os protestos agregaram representantes das pastorais sociais da Igreja Católica, Movimento dos Trabalhadores Rurais SemTerra (MST), Central Única dos Trabalhadores (CUT), Coordenação Nacional de Lutas (Conlutas), estudantes e organizações de desempregados, catadores de lixo e moradores de rua. Militantes de partidos políticos como o PT e o PSTU também se juntaram à caminhada portando bandeiras e ostentando adesivos em suas camisas.
No Rio, o Grito dos Excluídos foi marcado por um ato de protesto em frente ao monumento de Zumbi dos Palmares, líder da luta pela libertação dos escravos negros. O ato atraiu só 200 manifestantes, que ficaram concentrados durante todo o período da parada militar e só deram início à marcha após o encerramento do desfile cívico. Policiais militares tentaram impedir o protesto, mas os manifestantes foram liberados e seguiram, divididos em seis alas, representando a luta pela construção de escolas, mais moradias, melhoria nos serviços de saúde e redução da violência.
Em Recife, a manifestação foi marcada por um ato de solidariedade ao líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem terra (MST), Jaime Amorim, que teve novo anúncio de prisão preventiva pelo Tribunal de Justiça de Pernambuco na noite de quarta-feira. ?O companheiro Amorim sofre perseguição política no Estado?, afirmou o locutor, em cima de um trio elétrico, ao defender a construção de ?uma nova sociedade pautada pela ética? e de repúdio ao imperialismo norte-americano. Integrante da direção estadual do MST, Joba Alves anunciou, durante o Grito dos Excluídos, que na próxima segunda-feira advogados do movimento entrarão com pedido de habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça, visando derrubar a decisão do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) de conceder novo pedido de prisão preventiva de Amorim. Ele responde a processo por incitação ao crime, desacato e dano ao patrimônio público, devido a sua participação em um protesto contra o governo Bush, em novembro do ano passado, que culminou com pedradas ao prédio do consulado norte-americano no Recife.