Greves prejudicam a população

Brasília – Em meio à crise que vive por causa da CPI dos Correios, o governo federal recebeu, ontem, mais uma má notícia, com o início da greve dos servidores da Previdência Social, que deixou milhões de segurados do INSS sem atendimento no País. Além dos 33.790 funcionários do INSS, a paralisação também atinge parcialmente outras duas categorias – a dos servidores dos ministérios da Saúde e do Trabalho (Seguridade Social e do Trabalho) e a do chamado PCC, que reúne funcionários sem carreira específica de vários órgãos. Eles reivindicam reposição emergencial de 18,86%.
O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, recebeu os grevistas para reunião, mas tentou demover os líderes sindicais de qualquer esperança sobre reajuste. Neste ano, segundo o Planejamento, o governo já terá despesa adicional de R$ 6,79 bilhões para cumprir os acordos salariais fechados no ano passado, sendo
R$ 3,4 bilhões com servidores civis do Executivo. E os funcionários da Previdência, diz Bernardo, foram uma das categorias mais bem aquinhoadas nos últimos dois anos.
Números
A principal preocupação do governo é que uma concessão agora, justamente num momento de fragilidade do Palácio do Planalto, sirva de estímulo para outros servidores entrarem em greve. Segundo os números do Planejamento, o salário dos servidores do INSS aumentou cerca de 49,69% desde 2003, sem contar o parcelamento de diferença salarial antiga de 47,11% que o governo começou a pagar há um ano e meio, depois de perder várias ações na Justiça.
De acordo com um dos líderes da Federação Nacional dos Servidores da Previdência, José Campos, os números apresentados pelo governo são enganosos porque misturam correções devido a decisões judiciais, como os 47,11%, e aumentos concedidos nas gratificações e não no salário.
Além dos previdenciários, os sindicalistas dizem que, também, há paralisações localizadas em vários ministérios e órgãos da administração federal, como Fundação Nacional de Saúde (Funasa), Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Ministério da Agricultura e até na Fazenda.

Ministro promete 22%

O ministro da Previdência Social, Romero Jucá, fez ontem apelo aos servidores em greve do INSS para que voltem ao trabalho para não prejudicar o serviço prestado à população. Segundo o ministro, as negociações estão abertas, os servidores vão receber reajuste de 22% neste ano (duas parcelas) e está em pauta a instituição de gratificação de desempenho, a partir de janeiro do ano que vem. ?Não é hora e nem há motivo para greve. A posição dos servidores já está marcada. O recado já foi dado?, disse o ministro, lembrando que o governo possui limitações. Romero Jucá garantiu que está empenhado no projeto de valorização dos servidores e disse, mais uma vez, que conta com o apoio do seu partido e do governo para trabalhar.
De acordo com Romero Jucá, a greve no INSS é parcial. Ele observou que os médicos peritos estão trabalhando normalmente, assim como o pessoal da área de fiscalização e arrecadação. Mesmo no atendimento ao público o ministro disse que a paralisação não atinge vários estados (segundo o INSS, em 12 o atendimento foi normal) e que o movimento é mais forte nas grandes cidades e capitais.

Paralisação irrita o povo

A greve dos servidores do INSS revoltou os segurandos, na agência da Rua João Negrão. Desconhecendo a paralisação, muita gente foi até a unidade. ?Todo ano tem greve e quem sai prejudicada é a população. Acho que é falta de consideração o governo não atender às reivindicações, mas os servidores também desrespeitam os usuários com a suspensão do atendimento?, disse o aposentado Naor de Freitas, que mora em Piraquara e procurou o posto de atendimento para conferir o valor de sua aposentadoria.
A dona-de-casa Edna da Silva foi à agência com a intenção de iniciar a contribuição. Ela saiu de casa às 5h da manhã e gastou duas passagens de ônibus para chegar até o local. ?Acordei supercedo e peguei dois ônibus para chegar aqui (João Negrão) e não serei atendida. A greve gera transtorno muito grande aos usuários. É um verdadeiro desrespeito com quem precisa dos serviços do INSS?, declarou.
Diante das reclamações, Hélio de Jesus alegou que os transtornos gerados pela greve não são muito maiores que os verificados no dia-a-dia dos postos de atendimentos da Previdência Social.

Portas fechadas no INSS

Em Curitiba, apenas o posto de atendimento da Vila Hauer funcionou parcialmente, ontem pela manhã. Em outras unidades (ruas Cândido Lopes, João Negrão e Visconde de Guarapuava), usuários encontraram as portas fechadas. Apenas as perícias médicas pré-agendadas são realizadas.
O secretário do Sindipreves-PR (Sindicato dos Trabalhadores de Saúde e Previdência do Estado do Paraná), Hélio de Jesus, revela que outras categorias de trabalhadores federais no Paraná estão se movimentando para aderir à greve. Segundo Hélio de Jesus, na segunda-feira os servidores do Incra farão assembléia. Os servidores da Delegacia Regional do Trabalho e da Saúde também cogitam a adesão ao movimento. Já no Ibama foi decretado estado de greve e, também, ficou para segunda-feira a decisão. Ontem o trabalho na Funai não foi interrompido. ?As categorias estão se preparando. Boa parte dos servidores viaja para o interior e só na próxima semana se reúne para discutir o assunto, explica Hélio.
Reivindicações
Para suprir as deficiências de atendimento à população, o Sindipreves reivindica reestruturação da carreira dos servidores. Também exigem concurso público, com contratação emergencial de no mínimo 5 mil novos trabalhadores. A categoria não concorda com a possível terceirização dos serviços prestados, pois acredita que isso poderia aumentar a possibilidade de fraudes.

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