Funcionários do Hospital de Clínicas (HC), de Curitiba, contratados pela Fundação da Universidade Federal do Paraná (Funpar) entraram em greve na manhã desta segunda-feira (9). A paralisação é por tempo indeterminado, segundo os trabalhadores. Cerca de 300 manifestantes se reuniram em frente ao hospital nas primeiras horas do dia e em seguida rumaram para a Reitoria para protestar.
Com a greve, o atendimento no maior hospital público do Paraná está sendo prejudicado em vários setores, como agendamento de consultas, ambulatório, radiologia, realização de exames e internação. Quatro das oito salas cirúrgicas estão sem atendimento. Dois leitos da UTI Geral, de um total de 14, também estão inativos. Para piorar, 40% do setor de distribuição de material está paralisado.
Segundo o gerente de Atenção à Saúde do Hospital de Clínicas, Adonis Nasr, a tendência é de que o atendimento fique ainda mais comprometido. “O setor de distribuição comprometido deve fazer com que não se vença a produção hospitalar”, afirma. O setor de necrópsia e de coleta de sangue também não estão funcionando. “O atendimento ambulatorial e de agendamento está bem moroso”, ressalta Nasr.
A orientação do hospital é de que o agendamento de exames e consultas priorize pessoas de fora de Curitiba. Com isso, a estimativa da direção do HC é de que mil pessoas fiquem sem o serviço nesta segunda-feira.
Conforme o Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Terceiro Grau Público do Paraná (Sinditest-PR), 851 dos 3.132 trabalhadores que atuam no hospital são contratados pela Funpar e atuam em todos os setores da instituição. Segundo uma das coordenadoras do sindicato, Carla Cobalchini, 70% dos funcionários Funpar que atuam no HC são filiados ao Sinditest. Segundo ela, praticamente 100% dos funcionários da Funpar que atuam no turno da manhã tinham aderido à paralisação. No entanto, a direção do HC informa que apenas 95 dos 395 trabalhadores da fundação tinham paralisado os serviços.
Pacientes reclamam
O atendimento comprometido no HC gera reclamações e revolta nos pacientes que aguardam atendimento. Maria Silvino, de 68 anos, tinha exame de endoscopia agendado e foi informada que por morar em Curitiba deverá retornar outro dia – já que com a greve o hospital está priorizando pessoas que residem fora da capital do estado. “É um desaforo. Não me importa se demora o atendimento, só quero ser atendida. Isso me revolta”, indigna-se.
Mesmo quem é de fora da cidade e deve ser atendido, reclama da demora. Cenilde Albino e a filha Jéssica, de 15 anos, vieram de Marechal Cândido Rondon, no Oeste paranaense, para fazer um acompanhamento médico com um endocrinologista. “Não sei se serei atendida. A demora em nos informar e fazer o encaminhamento está muito grande”, diz.
Motivos e dissídio
A paralisação dos funcionários tem dois motivos: as dificuldades em negociar a reposição salarial e uma disputa judicial de qual sindicato representa a categoria. O Sinditest-PR alega que a administração da Funpar se recusa a negociar com a diretoria do sindicato o acordo coletivo dos trabalhadores. A data-base dos funcionários da Funpar é 1.º de maio. A fundação, por outro lado, contesta a legitimidade do Sinditest em representar a categoria.
A recusa se dá pelo fato de o Tribunal Superior do Trabalho (TST) ter decidido no mês passado, por unanimidade, que “os funcionários do Complexo Hospital de Clínicas/Funpar devem ser representados pelo Sindicato dos Empregados em Entidades Culturais, Recreativa, de Assistência Social, de Orientação e Formação Profissional no Paraná (Senalba)”. Diante do impasse, o acordo coletivo fica comprometido.
Para tentar solucionar o problema está agendado para às 14 horas desta terça-feira (10) um dissídio coletivo no Tribunal Regional do Trabalho (TRT), que foi solicitado pelo Ministério Público do Trabalho. Neste dissídio, que contará com representantes do Senalba, do Sinditest, da Reitoria e da Funpar, será debatido qual sindicato representa a categoria e os passos para a realização de um acordo coletivo.