O que pode ser chamado popularmente de “efeito Carli Filho” fazendo uma alusão ao acidente em que se envolveu o ex-deputado estadual Luiz Fernando Ribas Carli Filho em maio, em Curitiba, atingiu o seu ápice em agosto deste ano: enquanto no mês de maio o Departamento de Trânsito do Paraná (Detran-PR) atendeu 2.068 alunos em seus cursos de reciclagem de todo o Estado, em agosto, o número saltou para 6.663, e em setembro para 5.712. O curso de reciclagem deve ser feito pelos motoristas que têm sua carteira de habilitação suspensa.

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O curso tem duração de 30 horas e conta com as disciplinas de legislação de trânsito, direção defensiva, noções de primeiros socorros e relacionamento interpessoal.

Além de ter a carteira suspensa, outra penalidade é cumprir o prazo da suspensão, cujo prazo varia dependendo da infração. O documento pode ser suspenso no momento em que a autoridade de trânsito flagra o condutor cometendo a infração, neste caso gravíssima; ou ainda pode ocorrer quando da contagem de 20 pontos na carteira.

Segundo as estatísticas do Detran-PR, de janeiro a junho deste ano, a infração que é “campeã” em causar carteiras suspensas diretamente na hora em que o policial flagra é “conduzir motocicleta sem usar capacete de segurança”.

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E a quantidade dobrou comparando o mesmo período do ano passado: enquanto de janeiro a junho de 2008 foram registrados pelo Detran-PR 2.616 motociclistas trafegando dessa forma, no mesmo período deste ano foram 4.086.

“Temos uma série de fatores que contribuem para a ocorrência deste tipo de infração, como a fragilidade da moto, a utilização dela para o trabalho, o aumento no número de motos nas ruas de cinco anos para cá e a pressão com que esses condutores trabalham”, comenta a coordenadora de Educação no Trânsito do Detran-PR, Maria Helena Mattos.

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O segundo delito no “ranking” do Detran-PR neste quesito é “manobra perigosa”, o que também cresceu de um ano para outro (passou de 1.607 ocorrências nos primeiros seis meses do ano passado, para 2.100, neste ano).

Em terceiro lugar aparece, novamente, o motociclista transportando o passageiro sem capacete (1.235 casos no período do ano passado, para 1.480 este ano). Dirigir embriagado ficou em quarto lugar nos dois anos, e com um representativo aumento: de 999 registros no ano passado para 1.668, neste ano.

No caso da suspensão por 20 pontos, os delitos mais cometidos são excesso de velocidade, estacionar veículo em desacordo com a legislação e avanço do sinal vermelho.

Fábio Alexandre
Dirigir moto sem capacete é causa número 1 de suspensão em flagra.

Sempre quando o motorista tem sua habilitação suspensa ele recebe uma notificação em casa, e tem direito à defesa. Segundo Maria Helena, há prazos a serem cumpridos e, caso o condutor não os respeite, receberá novamente um documento em casa, que já é a imposição da penalidade.

Ela informa também que, enquanto o condutor está recorrendo existe a fase da defesa prévia, seguida pela defesa no Jarí e, por fim, no Conselho Estadual de Trânsito (Cetran PR) e ele não é culpado e pode continuar dirigindo. Porém, recomenda ela, que este motorista ande sempre com os protocolos, para evitar aborrecimentos e cobranças indevidas das autoridades de trânsito.

Trânsito deve ser visto como algo público

O Núcleo de Psicologia do Trânsito da Universidade Federal do Paraná (UFPR) faz pesquisas periódicas sobre o assunto há oito anos. Uma das conclusões e até já conhecida pela sociedade é a de que muitos motoristas não têm consciência de que o trânsito é algo público e que não de,ve ser tratado individualmente, apenas para satisfazer os seus anseios ou mesmo para mostrar poder.

E a velha máxima de que as pessoas só respeitam algo quando “dói no bolso” também é comprovada pelas pesquisas, segundo uma das coordenadoras do local, a psicóloga Iara Thielen.

“O indivíduo que atravessou a rua com o sinal vermelho para ele e somente no final da travessia encontrou com o guarda e respondeu: “o sinal eu vi, eu não vi você!’ Essa velha piada ainda vale, e muito”, lamentou a professora.

Segundo ela, se não há fiscalização o indivíduo não toma uma atitude positiva. “Sem falar que no trânsito o raciocínio das pessoas é individual, que tudo que elas fazem é aceitável. Mas se o vizinho colocar o carro na frente do seu portão, aí é motivo de morte.

As pessoas privatizam o trânsito, transformam o trânsito em algo que dá poder e que dá a falsa sensação psicológica de poder fazer tudo”, disse. O problema das motos causa ainda um outro problema indireto: a superlotação em hospitais de acidentados provenientes desse tipo de transporte.

“Fizemos uma pesquisa com os motociclistas e verificamos que o que justifica as ações que acabam em infração é o prazer. A isso somam-se os problemas que eles enfrentam, como por exemplo o fato de terem que cumprir horários e até mesmo pagar pelo produto que não conseguiram entregar no horário pré-estabelecido”.

O que poderia contribuir para as melhorias no trânsito, na opinião da psicóloga, é a educação. “Acho que a conscientização deve começar dentro de casa, com o exemplo. Não adianta somente haver uma legislação rígida e não serem tomadas medidas simples e objetivas, como a educação em todos os níveis, desde dentro de casa, até escolas, igrejas, empresas, acho que tudo começaria a melhorar”, comentou. O Núcleo também é coordenado pela professora Alessandra Bianchi. (MA)