Quem precisa trabalhar para se manter ou sustentar a família tem como única opção fazer um curso superior no período noturno. Na Universidade Federal do Paraná (UFPR), dos 23.576 alunos de graduação, apenas 5.068 estudam à noite. Já nas universidades estaduais, dos 71.621 acadêmicos, cerca de 39 mil estão matriculados no período noturno. O número de vagas oferecidas nesse período, porém, está aquém da demanda, e os alunos acabam tendo que apelar para uma instituição particular. Não é à toa que, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (Inep), de 1995 a 2002, 96% das vagas para atender a esse público foram criadas nas universidades particulares.
Dos 57 cursos de graduação da UFPR, apenas 16 são no período noturno. Segundo a técnica de assuntos educacionais Madlaine Célia de Lima, a intenção de abrir mais graduações à noite esbarra na questão financeira e estrutural da UFPR, como a contratação de mais técnicos e professores. Já houve até a intenção de abrir um curso de Odontologia à noite, mas a idéia não vingou: hoje o aluno estuda o dia todo e completa a carga horária em quatro anos; o curso noturno seria concluído em seis anos.
Desde 1998, 12 graduações foram criadas na UFPR, mas apenas duas à noite: Filosofia e Bacharelado em Informática. “Aproveitamos a estrutura já existente e contratamos alguns professores”, conta Madlaine. Quem precisa trabalhar e mesmo assim estuda de dia na UFPR, faz malabarismos com a grade curricular. “O aluno leva mais tempo para se formar, mas consegue.”
Nas universidades estaduais a situação é mais confortável. Nos últimos cinco anos foram criados 150 cursos – 51 à noite. “É importante atender a essa demanda. A maioria trabalha para se sustentar. De outra forma não teriam como concluir o terceiro grau”, ressalta o coordenador de Ensino Superior da Secretaria Estadual da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Tarcísio Trindade.
Tarcísio reconhece que a oferta ainda está muito aquém da demanda, mas por enquanto o governo não tem como ampliar o sistema. “Chegamos à nossa capacidade total. Proporcionalmente ao que arrecada, o Estado é o que mais investe no ensino superior”, ressalta. Hoje 7% da arrecadação vai para esse nível de ensino. O Estado pensa em pedir uma contrapartida do governo federal, já que no Paraná apenas a UFPR e o Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet) estão sob sua responsabilidade.