Família de Indionara (1.ª à esq.): povo
xetá corre o risco de desaparecer.

A Companhia de Habitação do Paraná (Cohapar) e a Assessoria Especial para Assuntos Indígenas do governo do Estado estão finalizando os estudos para a construção de 1,3 mil casas indígenas no Estado. Consolidado o acordo, as casas podem ser o grande presente para os mais de 10 mil índios, entre guaranis e caingangues, que habitam o Paraná no Dia do Índio, comemorado hoje.

O assessor especial para Assuntos Indígenas, Edívio Batistelli, diz que o estudo para definição das casas começou há algum tempo e, segundo ele, estariam sendo levadas em conta as particularidades de cada tribo. “Não é um modelo único. O projeto respeita os costumes caingangues e guaranis”, explica. As casas serão parecidas com as feitas para não-indíos, mas com algumas particularidades, como uma cozinha de chão batido e espaço para fogueira e armação de redes. Batistelli tem esperança que a construção das casas acabe com as favelas rurais em que se transformaram as habitações indígenas no interior do Estado. “Sentimos desde o início uma vontade muito grande do governador Roberto Requião”, disse. A Cohapar confirma que o projeto está quase definido, mas afirma que os estudos de custo e execução ainda estão sendo feitos.

Piraquara

Os guaranis da aldeia Karuguá, próxima a Piraquara, também podem esperar um presente no Dia do Índio. A assessoria para Assuntos Indígenas e a Secretaria de Estado do Meioambiente (Sema) estudam a relocação da comunidade para uma nova área. Atualmente sessenta índios vivem na região. Eles não podem plantar, já que o terreno está localizado em uma Área de Preservação Ambiental (APA). Os guaranis sobrevivem apenas do artesanato e da venda de CDs de músicas indígenas. Mas a distância de cerca de 15 quilômetros para Piraquara dificulta o negócio e a venda dos produtos torna-se insuficiente para garantir as necessidades da tribo. “A cidade é longe e nas férias escolares a coisa fica pior. Sem excursão de escolas não vendemos quase nada”, diz o cacique Marcolino.

A Sema, por meio de sua assessoria de imprensa, afirmou que já existe uma nova área para ocupação da tribo sendo estudada na chamada floresta metropolitana, mais próxima a Piraquara. Lá, os guaranis teriam mais liberdade quanto ao uso do solo e da água. Os técnicos do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) estão finalizando o estudo e a transferência dependeria apenas de um parecer da Prefeitura de Piraquara. “Se acontecesse seria uma maravilha. Os guaranis de Karuguá poderiam plantar para subsistência”, finaliza Batistelli.

Xetás lutam contra a sua extinção

O Paraná corre o risco de ver o fim de um povo. Os xetás, tribo indígena do tronco tupi, que habitavam exclusivamente o Estado, contam hoje com apenas 28 índios. Dos 28, apenas nove são considerados puros. Para Edívio Batistelli, a atual geração tem um papel fundamental nas mãos: não deixar os xetás desaparecerem.

“Um povo que some é algo muito triste. Para toda humanidade e para nós paranaenses.” O projeto de Batistelli é reagrupar os xetás existentes em uma aldeia próxima a Umuarama, região que a tribo habitou no passado. Os detalhes ainda estão sendo estudados, mas a possibilidade anima os descendentes. Indionara, 31 anos, ou Minuma em xetá, é filha de Tucanambá Paraná, o índio que foi capturado no alto de uma árvore e que foi o primeiro intérprete para os colonizadores na década de 50. Ela e a irmã Indiamara, 29, defendem o reagrupamento. “Fomos separados, mas temos o mesmo sangue”, explica.

Os xetás representam bem a situação dos índios, depois que passaram a conviver com os brancos. A tribo foi encontrada pelas companhias de exploração na década de 50, vivendo ainda na era da pedra. Dóceis, eles não ofereceram resistência aos brancos e acabaram dizimados ao contraírem doenças como gripe e malária, para as quais não tinham anticorpos.

Batistelli também luta para que a língua da tribo seja analisada. “Um lingüista tem de fazer esse trabalho. A língua é um patrimônio cultural da humanidade.”

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