A ganância e a vontade de conseguir dinheiro rápido tem levado muita gente a cair no conto da pirâmide. Não é raro internautas receberem e-mails com propostas tentadoras para ganhar fortunas, gastando o mínimo possível. Mas no fim das contas, geralmente acabam lesados. A polícia não tem registro desse tipo de situação, já que muita gente fica com vergonha de denunciar a prática. A legislação de 1951 já previa punição para esse tipo de contravenção.
A proposta da pirâmide é tentadora. Geralmente vem acompanhada da história de uma pessoa que estava em sérios apuros financeiros e em três meses conseguiu tirar a conta bancária do vermelho, ganhando até R$ 300 mil. Mas as possibilidades de ganhos se mostram bem maiores.
O e-mail vem acompanhado de uma lista de nomes, podendo variar a quantidade. Você deve depositar um valor, que geralmente é baixo, em média R$ 3 para cada pessoa. A mensagem já vem acompanhada dos números das contas bancárias. Se forem seis pessoas, o seu investimento total será de R$ 18. Segundo o delegado especialista em crimes pela internet, Eduardo Marcello Castella, o valor irrisório e a possibilidade de alto lucro são os principais motivos que fazem as pessoas aderir a proposta. “Se a pessoa perder o que investiu, não será uma quantia grande”, comenta.
Depois, o próximo passo é tirar o primeiro nome da lista e incluir o seu no fim dela. O nome vai subindo em direção ao início da listagem, de acordo com a rotatividade de pessoas que lhe mandam os R$ 3. A nova mensagem deve ser mandada para 250 pessoas. O e-mail aconselha o internauta a comprar os endereços de alguma empresa que faça serviço de mala-direta. Pelos cálculos do autor da proposta, pelo menos sete delas devem depositar o dinheiro na sua conta. Depois, cada uma manda 250 e-mails e conseqüentemente 52 pessoas lhe mandam o dinheiro. A seguir, as 52 pessoas mandam 250 e-mails e 390 pessoas depositam o dinheiro para você, e assim os números aumentam sucessivamente, numa progressão geométrica. No exemplo, a mensagem pede para você mandar 250 e-mails, mas afirma que se você quiser pode mandar muito mais.
O delegado reconhece que é possível ganhar dinheiro, mas a grana costuma ficar com quem começou a atividade. Para os demais, fica o prejuízo, já que o esquema é frágil e pode ser quebrado por qualquer um. Além disso, o número de pessoas recrutadas pode acabar rapidamente. Num esquema de pirâmide fica bem clara a constatação. Se uma pessoa recruta dez pessoas e cada uma recruta mais dez, na segunda camada vão ser cem. Se a progressão seguir nesse ritmo a terceira camada vai ter mil, na quarta 10 mil, na quinta 100 mil e, quando chegar na décima, vão ser 10 bilhões de pessoas ? quase a população do planeta.
A atividade pode ser enquadrada como crime contra a economia popular: a Lei 1521, de 1951, já previa punição para práticas semelhantes e o artigo 174 do Código Penal prevê reclusão de 1 a 3 anos, por indução a especulação. Mas é muito difícil alguém ir parar na cadeia, já que quem foi enganado tem vergonha de denunciar. E mesmo que denuncie é quase impossível se chegar aos autores.
Perigo maior
Esse tipo de contravenção é considerada uma das mais “inocentes” que aparecem na internet. Há duas semanas, foi descoberto um golpe contra correntistas. As pessoas recebiam um e-mail afirmando que haviam recebido um prêmio da sua agência bancária. A mensagem trazia uma sugestão para clicar em um link e entrar na página do banco, que era falsa. Nela, o cliente acabava digitando seus dados e senha. Segundo o delegado, a Secretária de Estado da Segurança Pública está estudando a possibilidade de criar uma divisão policial especializada com a finalidade de combater crimes pela internet.