Não caia nessa

Golpe da pirâmide ainda faz muitas vítimas

Ganhar dinheiro fácil pode ser o sonho da maioria das pessoas. A proposta é tentadora: depositar R$ 5 em seis contas diferentes – estes R$ 30 trariam um ganho de R$ 900 mil. É o que propõe um e-mail que circula na internet. Mas, pelo menos por enquanto, não existe fórmula mágica. O esquema é conhecido como golpe da pirâmide e traz benefícios a poucos, com contrapartida de prejuízo para a maioria dos que participam.

O título da corrente enviada por e-mail traz a esperança: “Acredite e participe! Ajuda mútua”. Com depoimentos, comprovantes de depósito e números de celulares, os golpistas tentam convencer que é realmente um bom negócio. De acordo com o delegado Vinícius Borges Martins, da Delegacia de Estelionato e Desvio de Carga, a promessa é falsa.

Cada e-mail vem com uma lista de seis pessoas e suas respectivas contas bancárias. E as instruções para depositar R$ 5 em cada uma dessas contas e repassar o e-mail para 250 pessoas, removendo o primeiro nome da lista e substituindo pelos seus próprios dados. É preciso também anexar os comprovantes dos depósitos “para que o programa siga adiante com a mesma credibilidade que chegou até você”.

Dois nomes e telefones são informados no golpe. O primeiro é o de André Correia Lucena, da Paraíba. A reportagem do Paraná Online tentou contato nos três números informados, mas todos estavam desligados. O outro é o de Celio Robson de Oliveira, de Santa Catarina. Celio diz que apenas é participante do esquema há 30 dias e que não conhece André. “Também fiquei em dúvida quando recebi, mas funciona mesmo”, diz. Segundo ele, o nome e o telefone dele foram disponibilizados apenas “para passar credibilidade”. Questionado sobre quanto lucrou com os depósitos, Celio afirmou que estava em reunião e que passaria os valores por e-mail. Até o fechamento da edição, a resposta não chegou.

Promessas ilusórias de altos ganhos se multiplicam

Aliocha Mauricio
Martins: sistema da pirâmide é insustentável.

O golpe da pirâmide é antigo – o mais antigo data de 1920, organizado por Charles Ponzi, um imigrante italiano que morava nos Estados Unidos. Ele prometeu rentabilidade de 50% em 45 dias na compra de cartões postais. O delegado Vinícius Borges Martins revela que não existe como o esquema dar certo. “Você coloca seis pessoas na base de uma pirâmide e tira o cabeça de cima. Se você romper uma dessas pernas quando chegar lá na frente alguém vai perder”, explica. O sistema é insustentável -apenas os primeiros da lista têm lucros e, com a multiplicação de adesões, a base da pirâmide fica tão ampla que não há quem pague.

Novas versões

Aproveitando a estratégia fácil e simples para multiplicar quantias, muitas empresas têm oferecido ilusões pela internet. É o caso da Multiclick Brasil e da Mister Colibri. A proposta é a pessoa entrar com cerca de R$ 600 e teria o retorno por compartilhar e assistir anúncios publicitários. “O recebimento no caso das empresas é muito maior. Temos registro que a Multiclick teve um lucro de R$ 40 milhões”, conta o delegado. “No começo pode ser que a pessoa reaveja o que investiu, mas nunca vai ganhar aquilo que é prometido”, ressalta.

Média de 50 casos por dia na RMC

O golpe da pirâmide se enquadra como estelionato, no qual o bandido induz ou mantém a pessoa em erro para se beneficiar. São inúmeros os golpes e os criminosos são talentosos na hora de preparar estratégias para enganar alguém. Muitas deles são antigos, mas, muita gente ainda cai. Segundo o delegado Martins, por dia as delegacias de Curitiba e região metropolitana registram cerca de 50 casos de estelionato.

Entre os golpes mais conhecidos, segundo o delegado, está o do bilhete premiado. “Um golpista se passa por uma pessoa sem conhecimento e pede instruções para a vítima, que tenta ajudá-lo a achar endereço por causa do bilhete. Nisso o golpista esperto propõe dividir o prêmio com a vítima, dando o golpe naquele que precisava de ajuda”, explica Martins. Nisso, a vítima saca ou transfere o dinheiro no banco, sem que nenhum dos golpistas entre, por causa das câmeras.

Outro golpe comum, conta o delegado, é o do paco. Neste caso, um golpista derruba um pacote de dinheiro, em que só a nota da frente é verdadeira. A vítima devolve o pacote e outro golpista chega e diz que também viu a cena. O primeiro estelionatário oferece uma recompensa aos dois, mas pede uma garantia à vítima; então os dois somem.

Nunca revele dados pessoais a desconhecidos

São diversos os golpes aplicados pelos estelionatários. “Tem o golpe do chupa-cabra, da lista telefônica, do cheque clonado, do seguro”, revela Martins. De acordo com ele, o que leva grande parte das vítimas a cair é a ganância. “Os golpistas também são muito envolventes e mexem com o psicológico, dando atenção especial para as pessoas e se passando por amigos”, comenta.

Para evitar cair na lábia de golpistas, o delegado sugere tomar cuidado ao informar dados pessoais; não passar senhas de banco para ninguém; fazer o boletim de ocorrências ao perder documentos; tomar cuidado ao fazer compras na internet, optando por sites confiáveis. A pena prevista por estelionato é de um a cinco anos de prisão.

Reprodução
Golpe do bilhete premiado é um dos mais conhecidos.
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