A baixa temperatura que tomou conta da capital, na madrugada de ontem, causou a morte de um homem em Curitiba. Um andarilho, identificado apenas como Caetano, aparentava ter uns 50 anos. Foi encontrado morto por volta das 7h, deitado na Rua Francisco Sarot, no Tatuquara.
Por volta das 4h da madrugada, ele foi visto bebendo em um bar da região e, cerca de três horas depois, passando mal na rua. Os moradores da Vila Pompéia, que o reconheceram como sendo o caseiro de uma chácara, acionaram a Polícia Militar e em seguida o serviço de Resgate Social. Quando os educadores chegaram ao local, Caetano já estava morto.
Segundo a gerente-geral da Central de Resgate Social, Marly Batista de Oliveira, o andarilho foi vítima de hipotermia, morte causada pela queda da temperatura do corpo: “Ele era dependente químico e por isso tinha a ilusão de que quanto mais bebesse, mais aquecido ficaria, mas o efeito é exatamente o contrário. O álcool abaixa a temperatura do corpo, e por isso ele não resistiu ao frio da madrugada”.
Geou ontem em praticamente todo o Estado, e a temperatura mínima foi registrada na Região Metropolitana de Curitiba. Em Pinhais e na Lapa, os termômetros marcaram 1,5ºC negativo. Curitiba registrou a temperatura mais fria no mês de junho desde 1997: 0,3.ºC negativo no bairro Jardim das Américas. Normalmente, as temperaturas mais baixas são registradas na região sul do Estado. No entanto, a massa de ar polar que se desloca pelo Paraná está seguindo para o oceano. Por isso a região leste foi a mais castigada.
Na madrugada de domingo a temperatura mais baixa do Estado havia sido registrada na região de Guarapuava: -3,1ºC negativo, mas na última madrugada subiu para 4,4ºC positivo. Segundo a previsão do Sistema Meteorológico do Paraná (Simepar) deve ocorrer geada ainda hoje no leste e centro-sul do Paraná. Amanhã há previsão somente para a região leste e para os Campos Gerais. O centro da massa de ar polar já chegou ao oceano e, aos poucos, as temperaturas devem voltar a subir. Por enquanto existe apenas uma outra massa na Argentina, mas ela está se deslocando para o oceano e não deve trazer frio ao Paraná.
A temperatua baixa fez com que aumentassem os atendimentos na Central de Resgate Social da Fundação de Ação Social (FAS), em Curitiba. De acordo com Marly, de quinta-feira passada (início do feriado de Corpus Christi) até anteontem, foram realizados 400 atendimentos, entre telefonemas no 156, abordagem dos educadores nas ruas e procuras espontâneas (na central da Rua Conselheiro Laurindo e nas Ruas da Cidadania). A maioria deles está relacionada com o abrigo no frio: “Como havia a previsão de baixas temperaturas, colocamos uma equipe maior para prestar o serviço”, explica.
Marly conta que as pessoas dependentes de drogas são as que mais procuram o atendimento. No verão, elas recusam a ajuda e permanecem nas ruas porque sobrevivem de esmolas. Já no outono e no inverno, mesmo com o dinheiro, fica difícil se aquecer: “Queremos pedir para que as pessoas não dêem esmola nas ruas. Isso dificulta o nosso serviço. Podem pensar que é solidariedade, mas na verdade essa atitude não contribui para a solução do problema. Somente permite que os pedintes permaneçam nas ruas”, comenta a gerente.
Procedimento
Quando alguém que precisa de ajuda ao chegar na central, recebe um atendimento de emergência, com o fornecimento de agasalhos e alimento, além de uma avaliação médica. Depois disso, é feito um cadastro e a triagem social, na qual se colhem dados para uma investigação mais aprofundada da pessoa: “Isso tudo é necessário para dar um encaminhamento adequado para a pessoa, que pode ser o núcleo familiar ou um albergue, por exemplo”, conclui Marly.
Aumenta o movimento nos hospitais
Com a chegada do frio, o número de consultas aumenta nos hospitais e postos de saúde. Para exemplificar, no dia 20 de abril, o Hospital Pequeno Príncipe registrou 253 atendimentos de emergência. Com a queda nas temperaturas, o número de pacientes cresceu e, no último dia 13, chegou a 407 – cerca de 60% a mais. Os principais problemas são as doenças respiratórias e alergias.
O pediatra do setor de emergência, José Carlos Michel de Oliveira, explica que nos meses mais frios do ano a incidência de doenças respiratórias como gripes, resfriados e pneumonias aumenta, além de alergias como rinites e sinusites. Um dos fatores que colaboram para isso é o fato de as pessoas ficarem aglomeradas em ambientes fechados como ônibus, escola, creche e trabalho. Isso facilita a transmissão dos vírus responsáveis pelas doenças respiratórias. Segundo José Carlos, mais de 70% delas são virais.
As crianças menores estão entre as principais vítimas do frio. Pela sua experiência, o pediatra afirma que de cada 100 crianças que procuram o atendimento de emergência por problemas respiratórios, 90 têm menos de quatro anos, e 70 menos de dois anos. “Elas têm um sistema imunológico mais fraco”, explica.
Cuidados
Nessa época, os pais devem tomar vários cuidados para evitar as patologias. Entre eles, atenção especial com a alimentação, que deve ser equilibrada. Os ambientes sempre devem ser ventilados e as roupas adequadas às ocasiões. “Deve-se usar o bom senso. As vezes as crianças sentem menos frio porque estão se movimentado”, explica. Por último, manter a carterinha de vacinação em dia.