Gays e simpatizantes protestam contra prefeito

“Abaixo o preconceito!” Essas foram as palavras de ordem que tomaram conta das ruas de Bocaiúva do Sul, na Região Metropolitana de Curitiba, ontem pela manhã. Um grupo de gays, lésbicas, transgêneros e simpatizantes promoveu uma manifestação contra a decisão do prefeito, Élcio Berti, que por decreto tenta proibir a permanência de homossexuais na cidade. O prefeito – que não estava no município durante a manifestação – não confirmou se publicará o polêmico decreto, mas afirma que mantém sua posição.

Os manifestantes chegaram em Bocaiúva em um ônibus, e se colocaram em frente à Prefeitura, onde estenderam uma bandeira com as cores do arco-íris, símbolo do movimento gay. O grupo cantou o Hino Nacional e os líderes proferiram discursos contra a medida do prefeito, afirmando que respeitam os moradores da cidade e também querem ser respeitados. A população, que acompanhava curiosa toda a movimentação, aplaudiu os manifestantes, e alguns, até aderiram ao protesto.

A marcha seguiu para frente do Fórum e depois para a delegacia da cidade, onde foram recebidos pela delegada Delair Ribeiro Manforn. A policial deu apoio ao movimento, e disse a decisão era “como polícia e pessoa”, pois entende que é preciso acabar com a discriminação. “Antes foram os escravos, depois as mulheres e agora querem discriminar os homossexuais. Não podemos admitir que isso aconteça”, afirmou. Ela teme que essa decisão possa atrair para a cidade grupos radicais que ameacem a segurança da população.

Justiça

A advogada do Grupo Dignidade e integrante da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Silene Hirata, afirmou que ainda ontem a ONG protocolaria uma ação por danos morais contra o prefeito, pedindo uma indenização de R$ 100 mil. Ela ressaltou que essa decisão também poderia ser tomada individualmente. “Qualquer homossexual que se sentir prejudicado também pode ingressar com outras ações”, disse.

O prefeito Élcio Berti garantiu que não teme nenhuma medida judicial, e está convicto da sua posição. “Nunca fujo da raia”, disse. Ele não quis confirmar se irá publicar o decreto, e disse que é para todos “aguardarem os próximos dias”. Durante participação no programa Tribuna da TV, na TV Iguaçu, Berti discutiu com o ativista gay Beto Kaiser, garantindo que com a decisão, conseguiu projetar, novamente, o município na mídia, e os gays estariam se aproveitando da oportunidade. “Vocês estão ganhando espaço na mídia nas minhas costas”, disse. Ainda na discussão, Berti afirmou que vem estudando o assunto, e garantiu ter certeza das diferenças que existem entre “gays, veados e homossexuais”. Quando indagado por Kaiser se ele era heterossexual, o prefeito ficou indignado e disse que não aceitaria “ofensas”. Élcio Berti deixou o estúdio da emissora antes do fim do programa.

População condena Élcio Berti

As roupas coloridas dos manifestantes e a enorme bandeira estendida em frente à Prefeitura de Bocaiúva do Sul atraíram a atenção de diversas pessoas. A maioria dos moradores é contra a medida do prefeito, por achar que ela é discriminatória.

A mesma opinião tem o vice-prefeito da cidade, Eli Mocelin Ceccon. Ele fez um discurso de apoio ao movimento de homossexuais, afirmando que a decisão do prefeito é incoerente e ridícula. “Eu não tinha conhecimento desse decreto, mas vou tomar todas as medidas cabíveis para que isso não aconteça”, garantiu. O secretário de Administração do município, Paulo Meireles, recebeu o presidente do Grupo Dignidade, Tôni Reis, para dizer que a atitude foi um ato isolado do prefeito, e que os funcionários da cidade não discriminarão a comunidade.

A aposentada Isaura Barros, que mora há 40 anos em Bocaiúva, diz que agora o prefeito passou dos limites. “Os moradores já são ridicularizados por tudo que ele inventa. Primeiro distribuiu Viagra, depois proibiu os anticoncepcionais, falou de ETs, e agora isso”, reclamou. Para ela, tudo não passa de uma atitude para chamar a atenção da mídia. A professora Alciane Alberti da Rosa também tem o mesmo entendimento, porém acredita que “isso possa trazer benefícios, pois a cidade fica em evidência”.

O motorista Misael Furlan entende que o prefeito deveria se preocupar menos com a orientação sexual das pessoas e investir na cidade, que tem problemas com o transporte, vandalismo e saúde. A funcionária pública Maria Alice Oliveira apoiou a manifestação e ressaltou que a decisão do prefeito não reflete a opinião da população local.

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