A adolescente Francine Kaviski, 16 anos, viverá pelo segundo ano consecutivo uma experiência diferente na escola. Ela renova a matrícula para o ano letivo de 2007 em um colégio que atendia somente a seminaristas, mas que há um ano decidiu abrir as portas para estudantes que ?vêm de fora?, como são chamados os colegas de classe dos garotos que hoje vivem um processo de discernimento vocacional para decidirem ou não pelo celibato. Para ela, a convivência lhe mostrou uma realidade completamente diferente: ?Coisas simples que fazemos se tornam uma alegria para eles e aprendemos muito uns com os outros?.
Experiências como a da estudante têm levado pais e alunos a optarem por escolas com padrões diferentes dos comuns. E do outro lado, a diversidade social aliada à igualdade de direitos entre os sexos e à necessidade de uma orientação adequada para a escolha da futura profissão têm feito algumas escolas aceitarem alunos que, até então, não tinham acesso a suas salas de aula ou metodologias de ensino. Fatores que, no caso de Francine, pesaram na hora de decidir continuar no Colégio Arquidiocesano, de Curitiba. ?Uma coisa que gostei muito é que retornei ao ensino religioso e comecei a ter filosofia. E uma das coisas que minha família mais gosta é que cada bimestre é encerrado com uma missa?, destaca.
Cidadania
O diretor do colégio, Lauro Igor Netz, explica que a abertura à entrada de meninos e meninas de outras religiões e orientações tem favorecido também aos seminaristas no amadurecimento vocacional. ?Nem todos eles vão ser padres, mas tanto os seminaristas como os demais estão sendo preparados para exercerem a cidadania?, diz. A ?mistura? aconteceu somente depois de nove anos atendendo a um público específico. ?A maioria dos seminaristas são adolescentes do interior, de famílias carentes. Entre eles há muita simplicidade, o que propicia uma importante troca de experiências. Além disso, os alunos são estimulados a participar das celebrações. Percebemos que famílias que estavam completamente afastadas da religião voltaram a participar?, afirma o professor, que ressalta também a abertura a jovens de outras crenças: ?Muitos vêm em busca do crescimento intelectual?, reitera.
O seminarista Leandro Lopes, 16, diz ter se beneficiado da mudança feita na escola. ?Aprendemos não apenas as matérias que os vestibulares pedem, mas uma doutrina. No colégio em que estava antes estudava para a prova; agora, estudo para a vida?, afirma o garoto, que ingressou no seminário há um ano e está em vias de definir sua orientação vocacional. Para ele, o convívio com outros meninos e meninas tem sido importante para conhecer a realidade da juventude: ?A gente vê como estão os jovens de hoje em dia e isso nos facilita entendê-los, tornando-nos padres com uma cabeça aberta?, acredita. Além disso, o convívio com meninas se torna um treinamento e um auxílio à decisão vocacional. ?Aprendemos a nos controlar desde o colégio?, garante.