O caso do ex-funcionário da Companhia de Bebidas das Américas (Ambev) que era obrigado a ficar em reuniões com a presença de garotas de programa dentro da empresa acendeu novamente a discussão sobre as consequências de manobras como estas para estimular ou punir empregados que não se adequam à filosofia de trabalho. A Ambev vai ter que indenizar um funcionário em R$ 50 mil em decorrência do constrangimento.
As reuniões que envolviam strip tease ocorreram entre 2003 e 2004, na presença de gerente, supervisores e até de um coordenador. O ex-funcionário que ganhou a ação relatou que tudo acontecia em um grupo grande de funcionários e as portas da sala eram trancadas para evitar a “fuga” de quem não concordasse com aquilo. Havia inclusive a presença de mulheres nestas reuniões. Foi a maneira encontrada por gerentes para estimular quem trabalha na área de vendas. Fotos anexadas ao processo comprovam a prática. “Em uma reunião matinal obrigatória, um gerente passou a chave na porta. E quem tentou sair ainda foi alvo de chacota: Quer sair daqui? Não gosta disto?”, relata o advogado André Vale, que defendeu o ex-funcionário na Justiça.
E, quando a meta era atingida, os vendedores recebiam “vales garotas de programa”. Para o advogado, a pressão em cima dos empregados em setores de grande concorrência é uma situação complicada. “Em concorrentes também se tentou formar esta filosofia de pressão, de punição”, declara.
Foi o que também aconteceu com o ex-funcionário da Ambev, que foi amarrado em uma cadeira e obrigado a assistir filmes pornográficos, dentro da empresa, quando a meta do dia não foi atingida. Ainda voltava sujo ao ser alvo de “brincadeiras” com cerveja e farinha. “Ele não contava para a esposa o que acontecia. A esposa estava grávida e tinha sofrido dois abortos. Ele tinha batido o carro e ainda passava por problema na empresa. Ele não poderia sair naquele momento diante das dificuldades financeiras que estava passando. Houve dano na empresa, dano em ter que mentir para esposa, dano por ainda ouvir as chacotas”, afirma Vale.
De acordo com ele, o ex-funcionário ainda foi alvo de comentários após a divulgação da notícia da indenização. “Houve pessoas comentando que ele não deveria reclamar por causa das mulheres, quem não gostaria disto. Não foi por causa de religião. As pessoas não entenderam o dano que houve para ele”, ressalta o advogado. O caso já foi julgado pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST), em Brasília. O ex-funcionário foi demitido um tempo depois dos fatos e abriu um negócio próprio em São José dos Pinhais.
A assessoria de imprensa da empresa, por meio de nota, divulgou que “reconhecida por sua gestão, a Ambev prega o respeito e valoriza o trabalho em equipe. A companhia, que conta com mais de 30 mil funcionários do Brasil, não pratica ou tolera qualquer prática indevida com seus funcionários. Casos antigos e pontuais não refletem o dia a dia da empresa. O bom ambiente de trabalho é refletido pelos inúmeros prêmios de gestão de pessoas que a Ambev recebe a cada ano”.