Seis índios fulni-ôs viajaram 2.500 quilômetros de ônibus, de Pernambuco a Curitiba, para mostrar um pouco da sua cultura. Eles estão participando de uma feira de artesanato no Parque Barigüi. A tribo ? formada por cerca de 2.900 pessoas ?, vive em sistema de aldeamento, e mantém os costumes e tradições dos descendentes há mais de 500 anos.
O guerreiro Towê conta que a tribo ainda vive da pesca, caça, agricultura e venda de artesanato. Segundo ele, o povo sofre, principalmente, com a invasão de suas terras, e hoje consegue manter apenas onze alqueires. “Mesmo com essas dificuldades, somos um povo forte, alegre, que procura exaltar a natureza e as coisas da terra nas nossas músicas”, conta Towê.
Os fulni-ôs cultivam a língua yaathé, e durante três meses por ano praticam o ritual do Ouricuri, onde somente os moradores da aldeia podem participar. Towê explica que nesse período, que inicia em setembro, toda a tribo se isola na floresta e pratica os rituais que aprenderam com os pais e avós, desde a formação da aldeia. “É uma maneira de a gente continuar preservando a nossa cultura e passando para os mais novos nossos valores e tradições”, afirmou.
Dentro da aldeia, comenta o guerreiro, existe apenas o ensino fundamental, oferecido pela Fundação Nacional do Índio (Funai), e os que desejam continuar os estudos precisam deixar a aldeia. Towê comenta que a maioria dos índios acaba voltando para a tribo, porque não encontra vaga no mercado de trabalho.
“Ainda existe muita discriminação quanto aos índios, e nem mesmo a Funai dá chance para o nosso povo”, criticou. O único índio dos fulni-ôs que trabalha na fundação ocupa um cargo de assistente. Ele lamenta que outras tribos indígenas vivem na mendicância, e sem nenhuma condição de sobrevivência. “Vimos exemplos tristes aqui em Curitiba, mas os fulni-ôs não vamos pedir esmolas”, afirmou.
Tradição
Acostumados com uma temperatura média de 40º C ? no Vale do Rio Ipanema, na região de Água Belas (PE) ? os índios estão estranhando o frio do Paraná. Durante o dia ficam em volta de uma lareira na casa do amigo, o professor e sociólogo Ubirajara Salles Zoccoli, onde estão hospedados. Segundo Zoccoli, a amizade com o tribo começou em 2000, quando se conheceram na feira. “Conviver com eles é uma oportunidade ímpar de conhecer as tradições e costumes desse povo tão rico e que tem tanto para ensinar”, disse o professor.
Essa é a quarta vez que os índios fulni-ôs vêm ao Paraná. Eles vão ficar em Curitiba até domingo, expondo peças produzidas na aldeia, e fazendo apresentações de dança. Os índios também gravaram um CD, em um estúdio em Curitiba, e estarão vendendo algumas unidades exclusivas durante o evento.